Consórcio responsável pelo BRT cita disputas políticas e mudança de rotas como atrasos para obra em Cuiabá


Consórcio alegou ainda que problemas técnicos impediram a conclusão das obras do BRT no prazo previsto. A declaração foi feita após o governador do estado criticar o atraso e culpar a empresa. Simulação do BRT na Avenida do CPA, em Cuiabá
Reprodução
O Consórcio Construtor BRT Cuiabá emitiu uma nota, nesta segunda-feira (13), alegando que as obras do Ônibus de Trânsito Rápido (BRT), previstas para terminarem em outubro do ano passado, estão atrasadas por causa de disputas políticas do governo do estado com a Prefeitura de Cuiabá, inconsistências no edital de licitação, problemas no anteprojeto elaborado pelo estado e alterações no traçado.
O g1 entrou em contato com o Governo de Mato Grosso, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
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A manifestação do Consórcio ocorreu após o governador Mauro Mendes (União Brasil) reclamar, durante a manhã desta segunda, do atraso da obra e culpar as empresas contratadas por isso.
Manifestações e mudanças na rota
Segundo o Consórcio, nos segmentos 1A e 1B, que incluem as avenidas Couto de Magalhães e Senador Filinto Müller, em Várzea Grande, as obras foram suspensas devido à mobilização de comerciantes e políticos locais, o que resultou na alteração do trajeto, já que isso demandou a desmobilização de trabalhadores e a realização de novos estudos para revisão do traçado.
Já no Terminal André Maggi as mudanças nos segmentos 1A e 1B obrigaram o Consórcio a desenvolver um novo projeto e readequar as obras do segmento 1C, que dá acesso ao estacionamento, para garantir a conexão necessária.
Outro problema identificado pelas empresas foi nas estações, cujo anteprojeto elaborado pelo estado não atendia às normas técnicas por não incluir conforto térmico, que estariam em desacordo com os estudos realizados pelas empresas. Além disso, o anteprojeto apresentava erros na posição das portas automáticas e das aberturas de acesso, que não coincidiam com as portas dos ônibus, representando riscos à segurança dos usuários.
Na nota, as empresas ponderam que o estado não definiu o tipo de veículo que será utilizado no BRT e não permitiu que o consórcio buscasse alternativas para corrigir o problema. Já em relação aos viadutos, o anteprojeto previa a utilização de estruturas como as dos viadutos Júlio Muller, UFMT, MT-040 e do aeroporto, projetadas para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), sem adaptações para o BRT, exigindo novos estudos e adequações estruturais.
Anteprojeto do BRT em Cuiabá e Várzea Grande
Divulgação
Por outro lado, na ponte do Rio Coxipó, o plano do governo previa a remoção da passarela metálica de pedestres, contrariando restrições do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Isso exigiu a alteração do posicionamento da ponte e a revisão de toda a geometria dos acessos, o que impactou diretamente as obras, segundo as empresas.
O Consórcio apontou ainda que o Centro de Controle Operacional também enfrentou problemas: inicialmente, seria aproveitado o espaço remanescente das obras do VLT, mas o estado teria solicitado que fosse transferido para a região central de Cuiabá, na Estação Porto, em virtude de embaraços jurídicos do contrato anterior.
“Esse pedido gerou a necessidade de um novo projeto com características distintas, além de mudanças nos pontos de recarga dos ônibus para os terminais de CPA, Coxipó e Várzea Grande, atrasando ainda mais os trabalhos”.
Outra dificuldade que as empresas afirmam ter encontrado é com relação ao canal de drenagem da Prainha, que não foi contemplado no anteprojeto do estado, apesar do histórico de enchentes na região. O Consórcio informou que a ausência de um sistema de macrodrenagem é especialmente prejudicial, já que o BRT, sendo elétrico, não pode operar em vias alagadas, o que paralisou as obras no local.
Falta de licença ambiental
De acordo com a nota, as licenças ambientais também enfrentaram atrasos significativos e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) teria demorado mais de 800 dias para emitir a licença para o trecho de Coxipó, que só foi liberada na semana passada.
Até a última atualização desta reportagem, a Sema não se manifestou.
Disputa política
Prefeitura de Cuiabá
Luiz Alves
O Consórcio informou que as disputas políticas entre o Governo do Estado e o município de Cuiabá agravaram ainda mais a situação, tanto que uma intervenção da Justiça, em 28 de janeiro de 2024, determinou que as autoridades municipais cessassem a criação de obstáculos ao projeto.
Há quatro anos, o governador Mauro Mendes anunciou que substituiria as obras do Veículo Leve sobre Trilhos para a instalação do BRT movido a eletricidade. A declaração foi feita durante entrevista coletiva realizada na tarde desta segunda-feira (21).
Em janeiro do ano passado, a Prefeitura de Cuiabá enviou um novo projeto para instaurar um sistema de transporte nos trilhos, voltado somente para a capital. Em 2014, um projeto de Veículos Leves sob Trilhos (VLT) que ligaria Cuiabá e Várzea Grande era uma das obras para Copa do Mundo no Brasil, mas após denúncias de corrupção, o projeto passou para um BRT entre as cidades, conforme definido pelo governo do estado.
Entre outubro de 2022, quando as obras começaram, e janeiro de 2024, o consórcio justifica que foi impedido de executar 84,3% do escopo contratado. De janeiro a outubro de 2024, a execução foi limitada em 59,1% do escopo previsto. Diante disso, o prazo de conclusão foi estendido para 9 de novembro de 2025, mais de um ano após o previsto.
As empresas ressaltaram que esses atrasos e os “problemas de gestão por parte dos órgãos públicos” geraram paralisações, desmobilização de trabalhadores, revisão de projetos e um prejuízo financeiro excessivo para o consórcio, comprometendo a viabilidade do projeto.
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