Chacina de Unaí: Quem é o fazendeiro preso no Rio Grande do Sul

Fazendeiro Norberto Mânica foi condenado pelo assassinato dos auditores fiscais MST/ Divulgação

O fazendeiro Norberto Mânica, condenado pelo assassinato de três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho durante uma fiscalização em Unaí (MG), em 2004, foi preso nesta quarta-feira (15) em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul. O caso ficou conhecido como “Chacina de Unaí”.  

Segundo apurado pelo portal iG, o caso foi encerrado na Justiça do Trabalho e agora tramita no Ministério Público Federal. De acordo com a Polícia Civil, Norberto estava escondido na zona rural de Nova Petrópolis, próximo à divisa com Gramado. Durante a abordagem, ele tentou ocultar sua identidade, apresentando um nome falso.  

Norberto é conhecido como um dos grandes produtores de feijão do país e, à época dos crimes, era um influente empresário rural em Unaí, cidade que se destaca pela produção agrícola em Minas Gerais.

Ele foi condenado pelos crimes de homicídio qualificado e formação de quadrilha e estava foragido desde 2023, quando o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), com sede em Belo Horizonte, determinou a prisão imediata dele e do irmão, Antério Mânica.  

Antério, que também é ex-prefeito de Unaí, se entregou à polícia em setembro de 2023. Inicialmente, ele cumpriu pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, mas foi transferido para um presídio em Unaí. 

Relembre o caso

Norberto e Antério Mânica foram condenados pelos assassinatos dos auditores fiscais Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares, Nelson José da Silva e do motorista Ailton Pereira de Oliveira.  

As vítimas foram emboscadas em 28 de janeiro de 2004, na zona rural de Unaí, enquanto investigavam denúncias de trabalho escravo em uma das fazendas de Norberto.  

O fazendeiro acumulava acusações de práticas trabalhistas irregulares e já era alvo de fiscalizações por parte do Ministério do Trabalho. No entanto, a emboscada e os assassinatos chocaram o país pela brutalidade e pelo contexto de retaliação contra agentes públicos em exercício de suas funções. 

Durante o julgamento, Elba Soares da Silva, viúva do auditor Nelson José da Silva, revelou que o marido havia sido ameaçado por Norberto. “Já era um fato esperado por ele. Ele me falou várias vezes que ia acabar levando um tiro na cabeça”, declarou. Segundo ela, Norberto intimidou o marido com um chuço usado na lavoura de feijão, dizendo: “Isso é bom para enfiar na barriga de um preto”.  

Em 2018, Norberto admitiu ser o mandante do crime em uma tentativa de inocentar o irmão Antério, declaração confirmada por sua defesa na época.  

Julgamentos e condenações

O primeiro julgamento, em 2013, resultou na condenação de três réus: Rogério Alan Rocha Rios (94 anos de prisão), Erinaldo de Vasconcelos Silva (76 anos e 20 dias) e William Gomes de Miranda (56 anos). As penas totalizam 226 anos.  

Dos nove réus inicialmente acusados, Francisco Elder Pinheiro morreu em 2013, e Humberto Ribeiro dos Santos teve a pena prescrita. A prescrição também beneficiou Norberto e Antério Mânica em dois crimes: resistência e frustração de direitos trabalhistas, respectivamente.  

Os irmãos Mânica e outros réus foram condenados a ressarcir a União em R$ 30 milhões pelos benefícios pagos aos familiares das vítimas, conforme decisão da Advocacia-Geral da União (AGU).  

Quem é Norberto Mânica? 

Norberto Mânica é um influente produtor rural e empresário em Unaí, cidade com grande relevância na produção agrícola em Minas Gerais. Ele e sua família possuem uma extensa área de terras e são conhecidos por sua influência política e econômica na região.  

Apesar do status de destaque no agronegócio, Norberto acumulou denúncias e investigações ao longo dos anos, principalmente relacionadas a irregularidades trabalhistas. A condenação pela “Chacina de Unaí” marcou a trajetória do fazendeiro como um exemplo de impunidade enfrentada pelo sistema judiciário, até sua recente captura. 

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