Entenda o ‘toró’, modelo de fenômeno meteorológico com nome indígena apresentado em pesquisa da UFSC


Termo tem origem na língua guarani e significa ‘chuva como um jato de água’. Além de conceituar o termo, pesquisa quer valorizar as contribuições indígenas na nomeação e compreensão de fenômenos naturais. Casa levada pela enxurrada no Bairro Revólver em Presidente Getúlio, em 2021
Patrick Rodrigues/NSC
Associado popularmente a um forte temporal, o termo “toró” foi apresentado oficialmente como um termo meteorológico por uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Originário da língua guarani, o termo significa “chuva como um jato de água”, segundo Reinaldo Haas, responsável por falar sobre modelo na AGU, uma maiores conferências sobre ciência que ocorreu em dezembro de 2024 nos Estados Unidos.
Professor de climatologia do departamento de Física da universidade, Haas alerta que o fenômeno já foi visto em tragédias climáticas recentes e tem grande potencial de destruição. Ele é caracterizado pela queda abundante de água e granizo, em pouco tempo, cerca de 20 segundos (entenda mais abaixo os termos e pesquisa).
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Além de conceituar o novo modelo, o pesquisador elaborou um artigo em que destaca, ainda, a contribuição indígena na compreensão do fenômenos. Conforme a pesquisa apresentada no estudo, o povo guarani já tinha ciência sobre o evento.
“O guarani, uma língua onomatopeica, captura vividamente os sons associados à natureza, e ‘toró’ não é exceção, imitando o intenso ruído da chuva, traduzido como chuva intensa, semelhante a um jato d’água”, cita o estudo.
Além disso, a pesquisa esclareceu a diferença entre toró e outros termos usados na meteorologia e no dia a dia da população, entre eles, “tromba d’água” e “cabeça d’água”. O primeiro trata de um tornado que se forma sobre a água. Já o segundo ocorre quando há chuva intensa em uma nascente.
⛈️ O que é o toró?
Segundo Haas, o “toró” acontece em regiões próximas a montanhas e é produzido por ventos fortes verticais, podendo causar a destruição de árvores e casas e gerar as inundações, chamadas popularmente de cabeça d’água. O professor também cita que o fenômeno causa erosão intensa devido à precipitação concentrada.
Outras características são as marcas e as cicatrizes lineares que se formam em desfiladeiros e montanhas após o fenômeno.
Foto da região do Brejal, em Petrópolis, mostra montanhas marcadas pelos vários deslizamentos de terra, causados possivelmente pelo que o pesquisador classificou como “toró”
Matheus Quintal/Prefeitura de Petrópolis
🤔 De onde vem o nome?
No estudo apresentado pela universidade, Haas defende que o termo foi noemado pelos indígenas, conforme registros antigos, dicionários e a toponímia de algumas localidades consultados na pesquisa:
“‘Tó’, para quando a água corta o ar, lembra o som de um trovão; e ‘ró’, para quando ele chega ao chão, lembrando o som de um liquidificador com madeira dentro da água”, afirma.
(Veja mais abaixo detalhes de como o fenômeno se forma)
Grandes desastres
No trabalho, o professor também aponta que o toró esteve por detrás de grandes desastres de inundações e escorregamentos da história brasileira “sem ninguém perceber”.
Como, por exemplo, a tragédia de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro, considerada uma das maiores catástrofes climáticas do país. Mais de 1 mil pessoas morreram no evento.
As enchentes de setembro de 2013 no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, e as enxurradas em 2023 em Presidente Getúlio, dez anos depois, em 2023, também são citadas no estudo.
“O importante é tratar como uma hipótese enquanto o fenômeno não for registrado de modo inequívoco. Fazer isso é um grande desafio, pois o fenômeno dura cerca de 20 segundos, mas a sorte é que produz um som assustador que lembra um trovão. Você tem que estar no lugar certo na hora certa”, disse.
Estudo da UFSC apresenta modelo de fenômeno meteorológico com nome de origem indígena ‘toró’; conheça
UFSC/Arquivo Pessoal
Características do toró, segundo o estudo:
💧💧💧 Precipitação extremamente intensa: 100 milímetros por minutos;
⌚ Duração curta: até 1 minuto;
📏 Área afetada pequena: 10 metros;
❗Característica: raro, violento e localizado;
⚠️ O que causa: erosão característica extremamente perigosa.
Mortos na enxurrada são velados em Santa Catarina
Modelo proposto de como funciona o toró:
Uma nuvem grande se aproxima de um desfiladeiro contra o vento, criando um efeito “rampa” que intensifica o movimento de queda das partículas. Isso faz com que as partículas de gelo se juntem, formando a chuva intensa e rápida, às vezes com granizo forte.
A formação de granizo é potencializada pela alta umidade do local, baixas temperaturas e movimento ascendente intensificado (ocorre quando o ar quente e úmido sobe rapidamente para cima, criando uma corrente de ar).
Ilustração mostra como se forma o ‘toró’, novo conceito meteorológico apresentado por professor de SC
UFSC/Arquivo Pessoal
Busca por mais informações
Após apresentar o artigo sobre o modelo , o especialista agora tenta reunir dados como fotos, vídeos e relatos sobre o “som do toró”. A ideia é ampliar a informação sobre o fenômeno na tentativa de prever a pulação desses eventos extremos e cada vez mais comuns.
A população que conseguir captar tempestades similares pode enviar as informações para o Laboratório de Clima e Meteorologia da UFSC, no endereço: [email protected]
Enxurrada que deixou mortos em Presidente Getúlio, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina
Prefeitura de Presidente Getúlio
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