‘Limpeza étnica’, ‘desarranjo na geopolítica’: comentaristas e pesquisadores analisam fala de Trump sobre assumir Faixa de Gaza

Presidente dos EUA afirmou, na terça (4), que pretende tomar o controle do território palestino, destruído durante a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, e retirar todos os 2 milhões de moradores de lá. Guga Chacra analisa impacto dos anúncios de Donald Trump sobre a Faixa de Gaza
Nesta terça-feira (4), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os EUA assumirão o controle da Faixa de Gaza, e que os dois milhões de palestinos que lá vivem devem ser levados para outros países.
No discurso, Trump prometeu transformar o território, destruído durante a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, numa “Riviera do Oriente Médio”.
Veja, abaixo, as análises dos comentaristas da GloboNews Guga Chacra e Marcelo Lins e dos pesquisadores Fernando Abrucio, da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Ronilso Pacheco, do Instituto de Estudos da Religião (Iser).
‘Limpeza étnica’
Para Guga Chacra, a proposta de remoção dos palestinos feita por Trump configuraria uma limpeza étnica – a lei internacional proíbe a transferência forçada de populações.
“O presidente dos Estados Unidos da América simplesmente propôs um crime contra a humanidade: a extinção ou limpeza étnica dos palestinos do território deles”, disse Chacra.
‘É como se não houvesse gente vivendo ali’
‘Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, avalia que a fala de Trump em jargão imobiliário desumaniza os palestinos.
“É como se não houvesse ali gente vivendo, gente tentando sobreviver. É inacreditável, é como se não houvesse também todo o arcabouço de legislação internacional que, sim, vem sendo desrespeitado há muito tempo e em vários momentos, inclusive ao longo desses 15 meses de conflito. Regras de guerra, regras de como tratar populações deslocadas e tudo mais”, disse Lins.
‘Grande instabilidade política e econômica’
Para o analista político Fernando Abrucio, é difícil saber se a declaração de Trump é um factoide ou uma proposta concreta, e que essa segunda hipótese poderia causar uma grande instabilidade política e econômica no mundo.
“Ele solta um factoide, fala uma coisa e, no dia seguinte, ‘desfala’, para parecer um grande líder americano, mas justifica que não pôde fazer nada porque seus inimigos o atrapalharam. Essa é a hipótese benigna. Mas há uma segunda hipótese, que não é nada benigna: que ele leve a sério o que disse. […] Se isso acontecer, os Estados Unidos não apenas colocarão o mundo e, especificamente, o Oriente Médio em uma enorme crise, mas também enfrentarão uma grande instabilidade política e econômica”, afirmou Abrucio.
Mesmo que seja factoide, fala gera ‘desarranjo na geopolítica’
O teólogo e diretor do Instituto de Estudos da Religião (Iser), Ronilso Pacheco, ressaltou que factoides também são, afinal, fatos — e, portanto, têm impacto.
“Mesmo que seja um factoide, ele também é político. E isso é extremamente relevante. Precisamos considerar que se trata do presidente dos EUA falando, e isso não passa incólume, não passa despercebido. Gera algum tipo de desarranjo na geopolítica de alguma maneira”, disse ao Jornal das Dez, da GloboNews.
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