ENTREVISTA: Ademir Fesan revela os segredos do sucesso do Santa Catarina no Estadual

O Santa Catarina é o time “sensação” do momento no Campeonato Catarinense. Com um futebol bonito e ofensivo a equipe vem chamando a atenção até de torcedores dos gigantes do Estado.

Ademir Fesan, técnico do Santa Catarina

Ademir Fesan, técnico do Santa Catarina – Foto: @rodolfomayy/Santa Catarina/ND

Recém-promovido da Série B do Estadual, a equipe hoje ocupa a quarta posição do Catarinense e, além disso, ainda tem a mesma pontuação do líder Criciúma, de Avaí e Figueirense, com 12 pontos cada, separados apenas nos critérios de desempate.

Já desde a Segundona, vem sendo comum ver o Estádio Alfredo João Krieck, em Rio do Sul, “pintado” de laranja nos jogos da equipe. A cidade e os torcedores abraçaram a causa e hoje o Santa Catarina mostra que tem força para brigar por algo mais que a luta pela permanência, como projetado antes do início da competição.

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O comandante da equipe é Ademir Fesan. Aos 47 anos, ele vive a primeira experiência como técnico de futebol profissional em Santa Catarina. Vale ressaltar que, no Estado, ele já havia trabalhado como técnico do sub-20 do Tubarão e como auxiliar no Joinville.

Fesan bateu um papo exclusivo com a reportagem do Grupo ND onde contou os “segredos” do sucesso do Santa Catarina, falou sobre o engajamento do clube com a cidade, o modelo de jogo e também sobre os jogadores do Santa que vieram do futebol amador.

Confira a entrevista com Ademir Fesan na íntegra:

ND: Case de sucesso do Santa Catarina

Ademir Fesan: Acredito que o sucesso vem uma série de fatores. Pelo fato de ser um clube que acabou de subir de divisão, que existe há tão pouco tempo e que ainda está engatinhando, obter resultados, além de jogar um bom futebol, contra times como Criciúma, Figueirense e Avaí, tem sido sim um case de sucesso até então. O principal fator desse bom momento é a credibilidade da diretoria, que contratou um treinador dando toda uma autonomia de trabalho e, principalmente, sabendo quais são as ideias do profissional. A diretoria quer uma equipe que jogue para frente, mas para isso precisamos ter jogadores com este perfil e nós temos esses atletas. Um jogo alegre, do futebol brasileiro. Isso tem chamado a atenção até dos outros clubes, isso é muito legal. Quando perdemos para o Avaí na primeira rodada saímos aplaudidos do estádio. Então o motivo desse sucesso até então é esse todo, a mentalidade da diretoria, ideias da comissão técnica e, principalmente, os jogadores que querem fazer esse jogo agressivo.

Engajamento da torcida com o clube

É muito legal esse movimento. Hoje você vai a um restaurante ou supermercado em Rio do Sul e você vê torcedores com a camisa do Santa. É uma camisa que chama a atenção, bonita, de uma cor diferente. Cada cidade tem sua cultura e o povo de Rio do Sul é muito resiliente, porque é uma cidade que sofre muito com enchentes. Nos períodos de chuva o pessoal sofre muito. Então é um povo que precisa ter essa alegria e o futebol traz isso para as pessoas. Você olha para a arquibancada e vê famílias, crianças, isso é bacana porque resgata o futebol como um espetáculo, um entretenimento.

Como funciona o projeto do Santa Catarina

São duas frentes, o clube tem 50% de investidores de um grupo de São Paulo que faz a administração do futebol diretamente. E também há 50% da diretoria em Rio do Sul que são mais responsáveis pelo externo do futebol, como estrutura do estádio, marketing. Esses investidores de São Paulo, que estão conosco no dia a dia, já tem essa filosofia desse jogo para frente. Um clube como o Santa Catarina para sobreviver no futebol vai precisar ter aportes financeiros e o melhor caminho é a venda de jogadores. Existe um projeto a médio e longo prazo de reformulação das categorias de base. Eles sabem que com um bom jogador vendido muitas vezes você sustenta um, dois ou três anos de um clube.

Metodologia de trabalho

Eu costumo dizer que o futebol acontece 80%, 90% fora do campo. É importante entender a cultura e a logística do calendário para formular as sessões de treinamento. Além disso é preciso entender o extracampo, se o jogador está dormindo bem, se alimentando bem, se hidratando, se o pagamento está em dia. O externo, ele a maior parte do tempo você tem que controlar. Me preocupo muito com isso, estou sempre atento ao extracampo. Em relação aos treinamentos, sou muito adepto ao treino integrado. Nós fizemos uma base de força em dezembro e isso tem sustentado nossa forma de jogar agora. Além disso, meu trabalho é muito feito baseado com a realidade do jogo, ou seja, mini jogos, jogos situacionais com aquilo que vamos enfrentar, além de estímulos de intensidade.

Ademir Fesan comanda o Santa Catarina no Estadual – Foto: @santacatarinafc_/Divulgação/ND

Como joga o Santa Catarina

O conceito base do trabalho é buscar a superioridade numérica. O jogo hoje, pela intensidade que tem, eu preciso criar vantagens para que você tenha êxito. A partir daí você vai ter vantagem de espaço, vantagem técnica, de tempo. Todos os times que enfrentamos eles fizeram a pressão na saída de bola com dois, então a gente geralmente já quer ter superioridade na construção, então saímos com três. Nesse caso eu não considero o goleiro porque deixo ele como um passe de segurança. Já no último terço do campo a gente procura colocar cinco ou seis jogadores justamente para termos essa vantagem lá ou apenas só para induzir e fixar alguns jogadores adversários para termos superioridade na construção.

Referências na profissão

Eu sou aquele adolescente que não conseguiu ser jogador profissional. Quando tinha 17 anos já estava para entrar no período universitário e ainda estava jogando, contudo, vi que aquilo não me trazia mais felicidade. Porém, eu queria estar no futebol de alguma forma e já via nos treinadores algo que me fascinava. Eu morava em São Paulo e nesta época o centro de treinamentos das equipes geralmente era aberto para a torcida. Eu saia da escola e ia ver o treino do Palmeiras, na época treinado pelo Vanderlei Luxemburgo, isso em 1993. No meio do treino eu saia, atravessava o muro e ia ver o treino do Telê Santana no São Paulo. Esses dois caras foram referências para mim. Depois veio o Felipão no Palmeiras, Muricy [Ramalho] no São Paulo. Quando fui trabalhar em categorias de base acabei encontrando quase todos esses caras no meio do caminho. Quando trabalhei na base do Santos, o Muricy era o técnico do profissional e sempre me convidava para assistir aos treinos. Era um bate-papo constante vendo aquele time de Neymar e Ganso.

Planejamento para o pós-Estadual

Não tem cravado ainda esse planejamento. Pelo que estou vendo vamos participar da Copa Santa Catarina, 90% já garantido. Isso é importante para ao menos ter um calendário. O meu contrato é apenas até o fim do Estadual e o clube ainda não tomou uma decisão melhor em relação a isso. Pelo que eu entendo estão esperando o nosso resultado. Se conseguirmos uma vaga para a Série D, muda o planejamento até em relação ao perfil de jogador.

Jogadores do Santa Catarina que vieram do futebol amador

Cada país que você vai tem uma cultura de jogo e o Brasil é um continente onde se tem diversas culturas dentro dele tanto de futebol, como de vida e linguagem. O jogo do Nordeste é diferente do jogo do Sul. Não precisa ir longe, o jogo de São Paulo é diferente do Rio de Janeiro. Eu gosto muito desse perfil de jogador intuitivo porque acredito que é a cara do jogador brasileiro. O que temos que tomar cuidado é na linguagem. A comunicação do treinador precisa ser muito assertiva. O jogador intuitivo gosta de “jogar bola” e aí você tem que criar exercícios que levam a isso.

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