Quase metade das exportações brasileiras de aço vão para os EUA; especialistas analisam possíveis impactos de tarifas de Trump


A queda das vendas e do número de contratos de exportação vai forçar a uma queda de produção das empresas brasileiras, dizem os economistas. Os Estados Unidos são o destino de quase metade das exportações brasileiras de aço
Reprodução/TV Globo
Os Estados Unidos são o destino de quase metade das exportações brasileiras de aço.
Da siderurgia brasileira sai o alumínio que é parte do estoque de matérias-primas das fábricas da Europa. O ferro ajuda a construir o crescimento chinês e o que é feito de aço na economia americana: das instalações elétricas aos automóveis. E a siderúrgica sustenta em parte a nossa economia também.
O professor da FGV Nelson Marconi calcula os impactos da taxação dos produtos nos Estados Unidos:
“Primeiramente, aumentariam os preços do aço que o Brasil pratica nos Estados Unidos. Isso diminuiria o nosso mercado lá nos Estados Unidos. Seria uma redução significativa, porque eles são o nosso principal mercado. A gente pode estimar que teria uma redução em torno de 30% a 50% das nossas vendas para os Estados Unidos”.
O Brasil é o segundo maior fornecedor de ferro e aço para os Estados Unidos, atrás só do Canadá. Em 2024, as exportações brasileiras de ferro e aço somaram quase US$ 13 bilhões. Os Estados Unidos foram responsáveis por 45% dessas compras, seguidos pela China e pela Holanda. Já as exportações de alumínio renderam US$ 1,2 bilhão. Os americanos foram nosso segundo maior comprador, atrás apenas dos japoneses.
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Precisa de mais tempo para quantificar todo o impacto da decisão de Trump. Mas já dá para cacular que a taxação vai encarecer os produtos brasileiros nos Estados Unidos, o que deve levar os clientes a trocarem as siderúrgicas brasileiras pelas americanas. Os economistas dizem que a queda das vendas e do número de contratos de exportação deve forçar a uma queda de produção das empresas brasileiras e esse é um setor que gera emprego. Só para a fabricação de alumínio, ferro e aço foram mais de 257 mil vagas em 2023. E tem outro ponto: se for reduzida a produção desses produtos no mercado doméstico o preço vai subir. O resultado é menos emprego e mais inflação.
A saída é pelo oceano, dizem os economistas. A Índia passará a ser um mercado disputado, não só pelo Brasil, mas por todos os grandes produtores de aço, diz o doutor em economia americana Hugo Garbe.
“O mundo inteiro precisa construir, o mundo inteiro precisa se desenvolver e crescer. Então, nós temos ainda mercados inexplorados, como por exemplo Índia. A gente pode ter uma melhor relação comercial com Europa, Austrália, África do Sul. O mundo inteiro precisa do aço brasileiro, é muito mais uma questão de relação comercial”, afirma Hugo Garbe, professor de Finanças e Economia da Universidade Mackenzie.
O saldo total de trocas comerciais é negativo para o Brasil. Desde 2009 compramos mais do que vendemos para os Estados Unidos. Foram US$ 40,5 bilhões com importações em 2024. E os americanos compraram US$ 40,3 bilhões em produtos brasileiros. Um resultado negativo para o Brasil de US$ 253 milhões. Os dados mostram uma relação equilibrada.
“É muito estranho o Trump ter uma atitude protecionista antiliberal economicamente falando que vai contra tudo que os americanos pregam há 200 anos, que é essa abertura econômica, essa abertura de liberdade econômica, de transação internacional entre os países. Você tem o equilíbrio da balança comercial entre Brasil e Estados Unidos, por exemplo, exportação e importação se for ver é praticamente igual. Um ano ou outro você tem um déficit do Brasil ou americano, mas não é desigual”, explica Hugo Garbe.
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