Jornalista lança livro que conta história da Operação Sevandija em Ribeirão Preto, SP


Cristiano Pavini narra os bastidores e mostra detalhes da investigação que revelou o maior escândalo de corrupção na prefeitura da cidade. O jornalista Cristiano Pavini lança livro em Ribeirão Preto, SP, que consta história da Operação Sevandija
Reprodução/EPTV
O jornalista Cristiano Pavini lança nesta quarta-feira (12) o livro “Sevandija”, com o selo da editora Terra da Gente. A obra conta a história da operação deflagrada em setembro de 2016 e que revelou o maior escândalo de corrupção envolvendo a Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
Ao longo de dois anos, Pavini esteve imerso em dezenas de milhares de páginas do processo e entrevistou cerca de 50 pessoas envolvidas na investigação.
“Foi um trabalho intenso de investigação, de revisitar os autos da Sevandija. Eu li dezenas de milhares de páginas, conversei com mais de 50 pessoas, ouvi as interceptações telefônicas, enfim. Fiz uma análise documental para poder narrar nessa história que traz fatos reais. É um livro-reportagem, então é jornalismo, mas jornalismo contado de uma forma diferente; uma narrativa eletrizante, com fatos que vão empolgar certamente o leitor. E pra poder chegar num nível de detalhamento, que é a reconstituição de cenas, como a morte do empresário Marcelo Plastino, eu tive que ler muita coisa, conversar com muitas pessoas, pra poder descrever da forma mais fiel possível esses fatos que foram tão retumbantes em nossa cidade”, afirma Pavini.
O jornalista destaca a parceria com o grupo EP para a conclusão do trabalho.
“Eu queria ressaltar aqui o apoio que eu tive do Grupo EP, tanto na minha passagem no Jornal A Cidade com ampla liberdade editorial, e também na confecção desse livro, que eu acredito que traz um bom retrato do que foi a Sevandija, porque é um marco pra nossa cidade, um marco do ponto de vista político, do ponto de vista de prevenção à corrupção e mostra como ocorreu alguns fatos desabonaram o poder público, e pra gente aprender, que não se repitam mais essas situações”, diz Pavini.
A Operação Sevandija apontou um rombo de R$ 220 milhões nos cofres da Prefeitura de Ribeirão Preto. A Justiça bloqueou 200 veículos, 120 imóveis e R$ 71 milhões de empresas e pessoas investigadas por meio de acordos de colaboração.
Prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, é presa na segunda fase da Operação Sevandija
Reprodução/EPTV
Curiosidades sobre os bastidores
Episódios envolvendo os bastidores da operação também são contados no livro. Dias antes do cumprimento dos mandados expedidos pela Justiça, vários policiais federais e promotores viajaram até Ribeirão Preto e ficaram hospedados em um hotel na zona Leste da cidade.
Eles eram membros das equipes que atuariam na operação. Como eram muitas viaturas estacionadas no hotel, os agentes colocaram faixas nos veículos informando que havia uma convenção de policiais naquela semana, para não levantar suspeitas.
“O livro ele traz bastidores dessa operação policial, tanto da sua deflagração, os períodos de investigação prévia e depois, todo o processo judicial, como por exemplo, o dia da deflagração dos policiais e promotores reunidos no hotel aqui da nossa cidade, com horário inclusive atrasado pra poder colocar as viaturas na rua e poder tocar a campainha dos acusados às 06h da manhã. Então foi um trabalho muito minucioso”, diz Pavini.
Corrupção
A investigação feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, apontou que Dárcy Vera, prefeita de Ribeirão Preto na época pelo PSD, chefiou um esquema que desviou R$ 45 milhões dos cofres públicos.
O Gaeco e a Polícia Federal descobriram fraudes em licitações, pagamento de propina e o uso de uma empresa terceirizada pela prefeitura como uma espécie de “cabide de empregos” para pessoas apadrinhadas por políticos e que ajudavam a manter o esquema em funcionamento.
‘Sevandija’ aponta roubo de R$ 220 milhões do cofre da Prefeitura de Ribeirão Preto, SP
Foto: Reprodução/EPTV
Os documentos revelaram ainda que a corrupção invadiu a Secretaria Municipal de Educação, a antiga Companhia de Desenvolvimento de Ribeirão Preto (Coderp), e o então Departamento de Água e Esgoto (Daerp).
Nove vereadores foram investigados e afastados, além de secretários municipais e empresários. Nas eleições municipais de 2024, alguns desses parlamentares da época se candidataram novamente, mas nenhum conseguiu se eleger.
Em 2018, Dárcy Vera foi condenada pela Justiça de Ribeirão Preto a 18 anos de prisão, pena que foi aumentada para 26 anos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). A ex-prefeita, no entanto, está em liberdade provisória desde 2019.
Em primeira instância, 21 pessoas foram condenadas, entre elas nove vereadores.
Empresa ‘Atmosphera’, de Ribeirão Preto, SP, foi usada pela prefeitura como cabide de empregos para apadrinhados políticos
Foto: Reprodução/EPTV
Em meio a recursos e a decisões que questionaram a legalidade de parte das provas, o processo, no entanto, não chegou a ser julgado em segunda instância.
A Operação Sevandija aguarda o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília (DF) sobre as escutas telefônicas. É que na época das investigações, o Ministério Público pediu à Justiça a escuta telefônica coletiva dos suspeitos, e não individualizada.
Esse pedido foi contestado pela defesa de Marco Antônio dos Santos, ex-secretário do governo Dárcy Vera, braço direito dela, que foi condenado em primeira instância.
As acusações que usam as escutas telefônicas como provas se tornaram 12 processos penais com 74 pessoas denunciadas. Outros seis processos aguardam sentenças.
“O livro ele está praticamente pronto há dois anos, e nesse período, a gente vem aguardando um desfecho judicial. A Sevandija ela foi interrompida pelo STJ, o situação está no STF, enfim. Nós aguardamos o quanto foi possível, mas ele precisava ser publicado. Então ele é publicado com um capítulo em aberto. Qual que vai ser o futuro da Operação Sevandija? Ela está paralisada, ela pode ser retomada ou pode ser completamente anulada. Essa é uma decisão que a gente não sabe quando vai sair. Certamente isso vai ter um impacto para os réus, para acusação e para Ribeirão Preto. De todas as formas, os fatos estão aqui. Eles não se alteram. O que aconteceu, pode ter um diferente desfecho judicial. Mas os fatos, esses, são imutáveis”, afirma Pavini.
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