Ano de 2024 foi o mais letal para a imprensa, com 124 mortos, a maioria em Gaza (CPJ)

O corpo sem vida do jornalista palestino Ahmed Al-Shayah, coberto com um colete de imprensa, após ser morto em um ataque isralense em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 16 de janeiro de 2025Bashar TALEB

BASHAR TALEB

Com 124 jornalistas mortos em 18 países – 70% deles em Gaza – 2024 entrará para a História como o ano mais letal para a imprensa desde que começaram os registros, segundo relatório do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), publicado nesta quarta-feira (12).

Os números “refletem o aumento dos conflitos internacionais, a agitação política e a criminalidade em todo o mundo”, informou com o CPJ, detalhando que estas cifras representam um aumento de 22% em relação a 2023.

Os autores do relatório revelaram que 85 profissionais de comunicação morreram “nas mãos do exército israelense”. Oitenta e dois deles eram palestinos e morreram na Faixa de Gaza, e os outros três, no Líbano.

“Atualmente, este é o momento mais perigoso para ser jornalista na história do CPJ”, disse, em nota, a diretora-executiva da organização, Jodie Ginsberg.

“A guerra em Gaza não tem procedentes em seu impacto para os jornalistas e demonstra uma importante deterioração das normas mundiais sobre a proteção da imprensa em zonas de conflito, mas está longe de ser o único lugar onde os jornalistas estão em perigo”, acrescenta.

Outros 16 países integram a lista mortal: Sudão e Paquistão tiveram seis jornalistas mortos cada um. No país asiático, estas foram as primeiras mortes registradas por esta organização desde 2021.

No México, que continua tendo a fama de ser um dos países mais perigosos para profissionais de imprensa, cinco repórteres foram assassinados, três a mais que em 2023. O CPJ encontrou falhas persistentes nos mecanismos que deveriam proteger os jornalistas neste país, lamentou a organização.

Também na América Latina, Colômbia e Honduras registraram um jornalista assassinado cada, além do Haiti, onde dois profissionais de comunicação morreram nas mãos das gangues violentas que semeiam o caos no país caribenho e que reivindicam abertamente ataques a estes profissionais.

Também integram a lista a Síria (4), Mianmar (3), Iraque (3), Índia (1), Bangladesh (1), Nigéria (1), Moçambique (1), Ucrânia (1) e Rússia (1).

– “Ataques em todo o mundo” –

“Nossas cifras mostram que os jornalistas sofrem ataques em todo o mundo”, explicou Ginsberg.

O CPJ registra as mortes de jornalistas se tiver “motivos razoáveis” para acreditar que podem ter sido assassinados por seu trabalho: acidentalmente, em uma missão perigosa ou deliberadamente.

O aumento dos homicídios no setor faz parte, segundo Ginsberg, “de uma tendência mais ampla para amordaçar os meios de comunicação em todo o mundo”.

“Trata-se de um problema que deveria preocupar a todos nós porque a censura nos impede de abordar a corrupção e a delinquência, e cobrar dos poderosos”, lembra.

O CPJ, que começou a fazer este tipo de registros em 1992, destacou que pelo menos 24 jornalistas foram assassinados deliberadamente por fazerem seu trabalho.

Em Gaza e no Líbano, a organização de defesa da imprensa documentou dez casos de jornalistas assassinados pelo exército israelense, em um desafio à legislação internacional que os protege em conflitos.

– “Desprotegidos” –

Os mais desprotegidos são os colaboradores ou freelancers, que trabalham com menos recursos e um risco considerável para sua própria segurança. Eles representaram mais de 35% (43) de todas as vítimas de assassinatos, segundo a organização.

No total, 31 colaboradores que perderam a vida no ano passado eram palestinos que trabalhavam em Gaza, onde os meios de comunicação internacionais seguem tendo acesso proibido.

Mas 2025 não se apresenta muito melhor: nas primeiras semanas do ano pelo menos seis profissionais de comunicação perderam a vida, segundo o CPJ.

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