Morte de JK, há quase 50 anos, ainda gera debates sobre a causa; entenda


Ex-presidente morreu em 1976, na Via Dutra, após carro em que estava ser tocado por ônibus e colidir com caminhão. Comissões da Verdade nacional e mineira têm entendimento distinto sobre episódio. Foto de perfil do ex-presidente Juscelino Kubitschek
Reprodução
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos, analisará nesta sexta-feira (14) se há possibilidade de reconhecimento de novos casos de pessoas mortas e desaparecidas durante a ditadura militar. Se concluir que sim, deverá discutir o caso envolvendo a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
JK morreu em 1976, após o carro em que ele estava na Via Dutra (que liga São Paulo ao Rio de Janeiro) colidir com um caminhão após ter sido tocado por um ônibus na altura do município de Resende (RJ) (leia detalhes mais abaixo).
Comissão Municipal da Verdade de São Paulo conclui que morte de JK foi um atentado
Presidente que idealizou a mudança da capital do Brasil do Rio de Janeiro para Brasília, Juscelino Kubitschek teve os direitos políticos cassados em 1964, durante o regime militar (1964-1985). Na ocasião, dias antes de ser cassado, acusou a ditadura de agir com violência e atentar contra as instituições livres. Em 1966, no exílio em Lisboa (Portugal), participou das articulações de oposição ao regime militar.
A morte está perto de completar 50 anos e ainda gera discussões sobre a causa: foi um acidente ou um atentado? A Comissão Nacional da Verdade, instalada em 2012 pelo então governo de Dilma Rousseff (PT), analisou o caso, assim como a Comissão da Verdade em Minas Gerais, autorizada em 2013 pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
As conclusões
Em 2014, quando divulgou o relatório final dos trabalhos, a Comissão Nacional da Verdade informou ter decidido apurar as suspeitas de que a morte de JK poderia ter sido vítima de “assassinato político”.
Relembrou, no documento, que três procedimentos investigatórios à época “concluíram pela inexistência de prova de crime doloso contra a vida do ex-presidente, e que a morte foi causada por acidente automobilístico”.
Mesmo assim, ressaltou a comissão, foram analisados documentos, perícias técnicas, fotos e depoimentos, o que levou o grupo à seguinte conclusão no relatório final:
“Não há nos documentos, laudos, depoimentos e fotografias analisados até o momento, qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o motorista Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso.”
Entendimento diferente
Três anos depois, em 2017, a Comissão da Verdade em Minas Gerais também concluiu seus trabalhos e chegou a um entendimento diferente.
Ao mencionar o caso da morte de JK, disse que o episódio “continua sendo alvo de inúmeras polêmicas”, além de “controvérsias”.
Diante disso, informou ter feito consultas bibliográficas, analisado conteúdos e elementos que pudessem sinalizar “fatos ou comprovações relevantes nas investigações” e conclusões de órgãos de investigação.
Também foram verificados e analisados, segundo a comissão mineira, os documentos contidos nos processos judiciais envolvendo o caso. “Todo o material serviu para elaboração comparativa e textual”, disse à época.
E concluiu: “Considerando o contexto da época, as distintas contradições das avaliações periciais, os depoimentos e pareceres jurídicos pode-se afirmar que é plausível, provável e possível que as mortes tenham ocorrido devido a atentado político.”
O acidente
Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro em agosto de 1976, na rodovia Presidente Dutra, quando viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro.
O acidente ocorreu na altura da cidade de Resende (RJ). O veículo Chevrolet Opala, que conduzia Juscelino e seu motorista, Geraldo Ribeiro, invadiu a pista contrária e colidiu com um caminhão, após ter sido atingido por um ônibus. O acidente resultou na morte do ex-presidente e de seu motorista.
Ao longo dos anos diversas teorias sugeriram que o acidente poderia ter sido um atentado político, especialmente considerando o contexto da ditadura militar no Brasil.
JK ficou conhecido pela transferência da capital do país para Brasília e pelo projeto de modernização pela aceleração do processo de industrialização, conhecido como “50 anos em 5”.
Após deixar a presidência da República, foi eleito senador e tomou posse já em 1961. Com a eclosão do golpe militar de 1964, JK teve os direitos políticos cassados.
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