Pesquisadores encontram vírus exterminador de anfíbios atacando espécie nativa de SC; entenda


Risco de extinção acende alerta a ambientalistas, já que os anfíbios estão na base da cadeia alimentar. Descoberta ocorreu em Guaramirim. Pesquisadores encontram vírus exterminador atacando perereca nativa de SC
Pesquisadores identificaram pela primeira vez o ataque de um vírus a girinos de uma espécie de perereca nativa do Brasil. O caso foi descoberto na Reserva Particular do Patrimônio Natural Rã-bugio em Guaramirim, no Norte de Santa Catarina, após o ambientalista responsável pelo espaço encontrar os anfíbios da espécie Phyllomedusa ainda na fase de vida aquática (girinos) mortos na lagoa.
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Em entrevista ao g1 o co-autor da pesquisa e dono do espaço, Germano Woehl Jr, explicou que já há registros documentados do vírus exterminador, conhecido como ranavirus, causando a morte de girinos de outras espécies no mundo e gerando a diminuição das populações.
Com a descoberta no estado, a preocupação com extinção da espécie aumenta.
“Os anfíbios estão na base da cadeia alimentar. A falta deles pode ser catastrófica para toda a fauna. Muitos animais vertebrados se alimentam dos girinos. Quando adultos, é o alimento de muitas aves e mamíferos. Os anfíbios são controladores da população de insetos”, afirmou.
🐸 PARA ENTENDER: A filomedusa é uma espécie de perereca verde nativa da Mata Atlântica e de ocorrência restrita. Ou seja, ela só existe no Norte de Santa Catarina, no leste do Paraná e no Vale do ribeira, entre Paraná e São Paulo.
Pesquisadores encontram vírus exterminador de anfíbios atacando espécie nativa de SC; entenda
Arquivo Pessoal/Divulgação
Karla Magalhão Campião, professora do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPar) que atuou no estudo, afirmou que os dados indicam que o ranavírus está amplamente distribuído pelo Brasil. Além disso, estudos internacionais mostram que o aumento das temperaturas agrava as consequências da doença causada por esse vínculo.
“Temos um cenário preocupante: um vírus amplamente disseminado, cujos impactos são potencializados pelo aquecimento, em um ambiente como a Mata Atlântica — rica em espécies endêmicas, muitas das quais já estão sob algum grau de risco”, explicou.
Como foi descoberta a infecção letal
Pesquisadores encontram vírus exterminador de anfíbios atacando espécie nativa de SC; entenda
RPPN Santuário Rã-bugio/Arquivo
Em janeiro de 2024, surgiram suspeitas de um ataque pelo ranavirus, segundo o ambientalista dono da reserva. Na época, Woehl Jr percebeu que os girinos mortos tinham hemorragias externas e inchaço no corpo (imagem acima). Como as caracteriscas indicativas da infecção letal pelo vírus, os pesquisadores fizeram inúmeros testes e tiveram resultado positivo.
Para tentar combater a mortalidade dos animais, o ambientalista chegou a secar a lagoa durante dois meses e aplicar cal virgem no local, mas os anfíbios ainda apareceram mortos.
🤔 VOCÊ SABIA? Ao contrário do que muitos pensam, as pererecas não são as fêmeas dos sapos. Existe sapo macho e sapo fêmea, assim como perereca macho e perereca fêmea.
Há 20 anos, ocorriam cerca de 550 desovas por ano, o que significava cerca de 250 fêmeas e um total de 500 indivíduos. Cada desova gerava em média 172 ovos, resultando em quase 100 mil girinos, segundo o ambientalista.
“Agora, este número caiu drasticamente. Este ano, quando começar a temporada no final de agosto, vamos fazer a contagem novamente, mas já sabemos que houve um forte declínio”, disse.
🦠 PARA ENTENDER: O ranavirus é letal para os anfíbios ainda na fase inicial da vida, quando são girinos, e nem todas as espécies são afetadas. O vírus também é letal para algumas espécies de répteis e peixes, como a tilápia.
A espécie
A perereca Phyllomedusa distincta, conhecida como filomedusa não deposita os ovos diretamente na água, como a maioria dos anfíbios. Ela enrola a massa de ovos nas folhas verdes da vegetação suspensa sobre a superfície da lagoa e entre 7 e 16 dias, os girinos eclodem e caem diretamente na água.
Os girinos se desenvolvem entre 40 e 50 dias e depois saem da água e iniciam a vida na terra. Conforme a Reserva Particular do Patrimônio Natural Rã-bugio, apenas os machos coaxam e as femeas são mudas, sendo elas maiores. Na espécie é comum o acasalamento com mais de um macho.
Pesquisadores encontram vírus exterminador de anfíbios atacando espécie nativa de SC; entenda
Arquivo Pessoal/Divulgação
Pesquisadores que participaram do estudo
Aline A. Fonseca
Julia A. L. Ricoa
Germano Woehl Jrd
Felipe Toledobb
Karla M. Campião
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