‘Vila do Chaves’ em MG pode desaparecer com regularização de condomínio


O condomínio Santa Vitória, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, teve as ruas batizadas informalmente com os nomes dos personagens do seriado “Chaves”. Contudo, o que antes eram Rua Senhor Barriga, Rua Kiko ou Rua Inhonho pode dar lugar a vias com nomes de árvores. Entrada do Condomínio Santa Vitória. A direita a Rua Chaves e a esquerda a Rua Inhonho
Gabriel Reis/g1 Triângulo
A Vila do Chaves tem endereço, cerca de 200 moradores e fica no Setor Oeste de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Rodeada por muros que começam em uma porteira sempre aberta, está o Condomínio Santa Vitória.
Ele, formado por ruas sem calçamento e aquecido por um sol a pino, se tornou famoso na cidade e na internet por ter as ruas batizadas informalmente pelos próprios moradores com nomes dos personagens do famoso seriado mexicano de Roberto Gómez Bolaños, que completaria 96 anos nesta sexta-feira (21). No entanto, a Rua Senhor Barriga, Rua Kiko ou Rua Inhonho, entre outras, podem deixar de existir em breve.
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Mapa do Condomínio Santa Vitória
Google Maps
A divisão das ruas é aleatória. Ao entrar na “vila”, a Rua Chaves se divide em uma bifurcação, dando espaço também à Rua Inhonho. A Rua Inhonho, por sua vez, segue paralelamente à Rua Kiko e à Rua Dona Clotilde.
Ao fim do condomínio, a Rua Chaves tem nova bifurcação, dessa vez, com a Rua Senhor Barriga.
“Eu fiz o loteamento e depois eu me ausentei por cerca de dois anos. Quando voltei, as ruas já haviam sido nomeadas com o nome dos personagens. Eu acho bacana, no início achei que era uma brincadeira, mas hoje está até no Google”, relembrou o loteador Carlos Batista Candido.
Por outro lado, mesmo que a ideia tenha caído no gosto do povo, Carlos conta que a tendência é que a “Vila do Chaves” deixe de existir, dando lugar para o Condomínio Santa Vitória a partir da regularização pela Prefeitura Uberlândia.
“No projeto já foram colocados outros nomes nas ruas e o que eu posso adiantar é que o que antes eram as ruas dos personagens, serão chamadas por nomes de árvores”.
“Pipipipipi”.
Em nota, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano informou que realmente há um processo em trâmite visando a regularização fundiária referente à localidade. Além disso, a pasta reforçou que a nomenclatura oficial de ruas só é feita em áreas regularizadas.
Carlos, o loteador do condomínio
Gabriel Reis/ g1 Triângulo
Mas os moradores não se deixam abalar.
Empurrando uma bicicleta repleta de sacolas, um caminhar lento e um sorriso no rosto, Ildeni Pereira da Silva se alegra ainda mais ao dizer com orgulho a rua onde mora: Senhor Barriga.
Ildeni Pereira da Silva, moradora da Rua Senhor Barriga
Gabriel Reis/g1 Triângulo
No auge dos 57 anos, Ildeni ressalta que os três anos em que mora para o condomínio passaram depressa e, principalmente, adora morar lá.
“É engraçado, às vezes eu falo o nome da minha rua ao ligar em algum estabelecimento e o povo ‘dana’ a rir. Rua Senhor Barriga, quadra A, número 12, em seguida já começa as gargalhadas”, disse rindo.
Segundo a moradora, duvidam que a rua realmente existe, mas entram na brincadeira ao perceber que a “Vila do Chaves” está muito mais perto do que se pensa.
Para os curiosos de plantão e que desejam, quem sabe um dia, adquirir uma casa no condomínio, Ildeni não dá rodeios e entrega que a casa na Rua Senhor Barriga é alugada pela bagatela de R$ 300. Mesmo com o preço baixo, alguns desafios encarecem a experiência de participar dessa série da vida real.
“Mora eu e meu ‘véio’. Quando eu preciso ir ao mercado eu vou aqui ó”, disse a moradora dando tapinhas na bicicleta.
“Eu nunca fiz as contas, mas eu gasto cerca de 30 minutos pedalando para ir e depois mais 30 minutos para voltar. Eu acelero. Só vou sair daqui quando minha casa ficar pronta. Depois disso estou saindo fora”, brincou.
Rua Senhor Barriga
Guilherme Gonçalves/g1
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Buracos no paraíso
Rua do Kiko
Guilherme Gonçalves/g1
Trezentos metros quadrados. Esse é o tamanho de um terreno na “Vila do Chaves” de Uberlândia. E mesmo que as maravilhas do local rodeado de árvores e muros sejam muitas, os moradores ainda dizem que é impossível ignorar alguns fatores que comprometem a rotina do condomínio.
Para quem pega a Rua do Chaves, segue pela Rua Inhonho e observa a paisagem que se forma a cada passo, não é difícil perceber as questões apontadas pelos moradores.
A falta de saneamento básico é evidente. As ruas sem qualquer pavimento ou calçada, também.
De acordo com os moradores, a falta de energia é corriqueira, ao ponto de geradores e placas de energia solar serem fáceis de encontrar para garantir as necessidades mais básicas dos moradores, como tomar banho.
O conjunto faz com que a Vila do Chaves uberlandense se torne um verdadeiro universo à parte, com uma comunidade com hábitos interioranos e uma realidade bem diferente das áreas urbanas do segundo maior município de Minas Gerais com mais de 750 mil habitantes.
Ainda assim, ao conversar com moradores do Condomínio Santa Vitória, ninguém falará que quer sair dali. Para eles, as dificuldades são detalhes perto das vantagens de quem quer estar a parte da realidade barulhenta dos grandes centros.
“É maravilhoso morar aqui. A única coisa que eu pediria é mais um pouco de atenção, principalmente, para as ruas do Chaves e do Quico. Mas, no fim das contas, eu amo esse lugar, estou aqui desde que começou e acho essa história dos nomes das ruas um mistério, não imagino quem possa ter colocado”, contou a moradora e protetora de animais, Tereza Gleide Jacinto .
Rua Chaves
Gabriel Reis/g1 Triângulo
Ela ainda diz que na Rua do Kiko todos são como uma família e que, nos dez anos em que está lá, viu crianças nascerem e famílias se formarem.
“Meu sonho para esse pessoal todo é a regularização do condomínio, para que tenhamos acesso a um sistema de esgoto e energia de qualidade. Só fico triste com a mudança do nome das ruas, a gente pegou carinho pelos nomes de personagens”.
O fato é que nenhum dos moradores gostaria que o condomínio perdesse uma das características mais marcantes. O g1 também perguntou a Prefeitura Municipal de Uberlândia sobre o motivo dos nomes das ruas não permaneceram como são conhecidos e aguarda resposta.
A questão é que sendo a “Vila do Chaves Uberlandense” ou apenas o Condomínio Santa Vitória, o consenso entre eles é um só:
“Mudar daqui, eu não mudo!”, finalizou Tereza.
Tereza Gleide Jacinto mora na Rua Kiko, no Condomínio Santa Vitória
Gabriel Reis/ g1 Triângulo
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