Ator Gene Hackman, vencedor de dois Oscar, encontrado morto ao lado da esposa

O ator Gene Hackman em foto de 7 de janeiro de 1985Philippe Wojazer

Philippe Wojazer

O ator americano Gene Hackman, vencedor de duas estatuetas do Oscar – melhor ator por “Operação França” e ator coadjuvante por “Os Imperdoáveis” -, foi encontrado morto ao lado da esposa, Betsy Arakawa, em sua residência no estado do Novo México.

O casal foi encontrado sem vida na quarta-feira (26) à tarde e não há indícios imediatos de que um crime tenha sido cometido, informou à imprensa o xerife do condado de Santa Fé, Adan Mendoza.

Ao lado de Hackman, que tinha 95 anos, e de sua esposa, uma pianista clássica de 63 anos, foi encontrado o cadáver do cachorro do casal, também segundo a imprensa americana.

Hackman venceu seu primeiro Oscar pela interpretação do detetive nova-iorquino irascível Jimmy “Popeye” Doyle em “Operação França” (1971), dirigido por William Friedkin, um thriller que virou um clássico do cinema.

Sua segunda estatueta dourada foi conquistada duas décadas depois, na categoria coadjuvante, pela interpretação do xerife brutal “Little Bill” Daggett em “Os Imperdoáveis” (1992), de Clint Eastwood.

Em cinco décadas de carreira, Gene Hackman atuou em pelo menos 80 filmes e foi indicado outras três vezes ao Oscar.

– “Um grande artista” –

Hackman nasceu durante o período da Grande Depressão em Illinois. Ele foi criado em uma família desestruturada: seu pai abandonou a casa quando ele tinha 13 anos e sua mãe faleceu em um incêndio.

Também passou por um período amargo de serviço na Marinha dos Estados Unidos: ele se alistou aos 16 anos, mentindo sobre sua idade.

O ator utilizaria sua turbulenta história pessoal para dar vida a seus personagens.

“As famílias disfuncionais geraram uma quantidade muito boa de atores”, declarou Hackman em uma entrevista ao The Guardian em 2002.

Francis Ford Coppola, que o dirigiu no filme “A Conversação” (1974, vencedor da Palma de Ouro em Cannes) reagiu à notícia da morte e chamou Hackman de “um grande artista, inspirador e magnífico em seu trabalho e complexidade”.

– “Um ator, não uma estrela” –

Hackman estreou na atuação relativamente tarde e só conseguiu chamar a atenção com mais de 30 anos.

De fato, após sua matrícula no Pasadena Playhouse, Califórnia, no final dos anos 1950, uma lenda de Hollywood relatou que ele e seu então colega de estudos Dustin Hoffman foram votados como aqueles com “menos probabilidade de alcançar o sucesso”.

Mais tarde, os dois se juntariam a Robert Duvall em Nova York, quando os três ainda eram atores com dificuldades para obter papéis.

Sem a bênção do físico atraente, Hackman contou com seu talento e versatilidade, assumindo uma série de papéis difíceis e oferecendo interpretações reflexivas e inteligentes.

“Eu queria atuar, mas estava convencido de que os atores deveriam ser belos. Isso veio dos dias em que Errol Flynn era meu ídolo. Saía de um teatro e me assustava ao me olhar no espelho porque eu não parecia com Flynn”, disse Hackman uma vez.

Em 1964, ele foi contratado na Broadway para a peça “Any Wednesday” o que o levaria a um pequeno papel no filme “Lilith”, protagonizado por Warren Beatty.

Alguns anos depois, Beatty estava no processo de seleção do elenco do filme “Bonnie e Clyde” e escolheu Hackman como o irmão de Clyde, Buck Barrow.

O filme histórico de 1967 rendeu a Hackman sua primeira indicação ao Oscar de ator coadjuvante e pavimentou seu caminho para o estrelato.

“Fui treinado para ser um ator, não uma estrela. Fui treinado para interpretar personagens, não para lidar com a fama, os agentes, os advogados ou a imprensa”, afirmava Hackman.

Hackman continuou trabalhando até depois dos 70 anos, mas já longe dos holofotes, vivendo com sua segunda esposa em Santa Fé, escrevendo e pintando.

Ele trabalhou no século XXI, protagonizando “O Assalto” e “Os Excêntricos Tenenbaums” em 2001. Este último lhe rendeu seu terceiro Globo de Ouro, antes do anúncio de sua aposentadoria em 2008.

“De verdade, emocionalmente, custa muito me ver numa tela”, afirmou o ator uma vez. “Penso em mim mesmo como alguém muito jovem, e depois vejo este velho com papada e olhos cansados, entradas e tudo isso”.

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