Família no RS de desaparecido na ditadura militar busca há 50 anos por justiça; ‘Fica aquele vazio, sem saber onde está’, diz irmã


Cilon Cunha Brum militou contra o regime e morreu em confronto com militares. Corpo nunca foi encontrado. Filme “Ainda Estou Aqui” reacendeu desejo por respostas. Família busca há 50 anos pelo corpo de Cilon Cunha Brum, executado pelo regime militar durante a ditadura
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A gaúcha Tânia Maria Brum de Vargas é irmã mais nova de um dos 434 desaparecidos políticos da ditadura militar no Brasil listados pela Comissão Nacional da Verdade.
“Fica aquele vazio, sem saber onde ele está”, conta a professora aposentada.
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Cilon Cunha Brum era integrante do Partido Comunista do Brasil, proibido durante o regime ditatorial, e lutou na Guerrilha do Araguaia, movimento que tentou derrubar a ditadura, mas foi reprimido entre os anos de 1973 e 1974. Natural de São Sepé, na Região Central do Rio Grande do Sul, Cilon foi estudar economia em São Paulo no fim dos anos 1960.
Cilon Cunha Brum, morto durante a ditadura militar no Brasil
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O último encontro entre ele e os familiares ocorreu em junho de 1971, em Porto Alegre. Na época, um dos irmãos tentou convencê-lo a retornar definitivamente ao RS. Sem sucesso, Cilon seguiu de volta para a capital paulista. Dois meses depois, a família recebeu uma carta em que Cilon dizia que estaria indo morar no exterior, sem data para voltar.
Porém o militante nunca saiu do país. Segundo a família, a carta foi uma estratégia para despistar a perseguição política enquanto lutava na Guerrilha do Araguaia. Ele teria sido morto em um confilto entre guerrilheiros e militares.
A morte de Cilon foi confirmada pelo governo federal nos anos 1990, e, em 2021, houve o reconhecimento de que ele foi executado – mas o corpo nunca foi encontrado.
“Faz mais de 50 anos que o Cilon foi executado pelo estado militar e, até hoje, não vimos o corpo para sepultura. Já há uma decisão do Conselho Nacional de Justiça para que os cartórios deem uma certidão de óbito. Eu já tenho três certidões, mas elas são incompletas”, conta Lino Brum Filho, irmão de Cilon.
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Governo reconheceu que Cilon Cunha Brum, desaparecido durante a ditadura militar, foi executado
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Filme reacendeu desejo por respostas
O filme “Ainda Estou Aqui”, que concorre ao Oscar e retrata a história do também desaparecido político Rubens Paiva, reforçou o desejo da família em buscar respostas.
“Desde que nasci, eu acompanho a dor da espera para dar um enterro digno ao meu tio que foi executado pelo instituto militar. A retificação da certidão de óbito é um alento para a família, mas a sua circunstância ainda está à espera do seu enterro”, diz César Brum, sobrinho de Cilon.
Cilon ganhou uma praça em homenagem na cidade natal. Ele completaria 80 anos em 2026.
Placa em homenagem a Cilon Cunha Brum, desaparecido durante a ditadura militar no Brasil
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“Caso o filme ‘Ainda Estou Aqui’ ganhe o Oscar, ele demonstra para o país que a nossa história precisa ser contada e que esse passado brasileiro é reconhecido internacionalmente como um passado relevante do ponto de vista da reflexão, da transformação da história como um ensinamento do presente”, afirma o professor de história Felipe Rios Pereira.
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A sepultura de Cilon recebe a visita frequente da irmã, Tânia, que busca a justiça que os pais nunca tiveram em vida.
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