Venda de emendas tem ameaça de morte e medo de desvio de propina: ‘Só paga se for para você’

Três deputados do PL viram réus por desvios de emendas do orçamento secreto: provas contemplam diálogos, planilhas de pagamento e até extratos bancários. A investigação que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a transformar três deputados do Partido Liberal (PL) em réus desnuda o submundo da negociação de propina em troca de emendas do orçamento secreto. O processo sobre os parlamentares Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE) tem relatos de ameaça de morte e até medo de desvio do dinheiro que já era, segundo a Procuradoria, roubado do povo.
As provas juntadas na denúncia contemplam diálogos, planilhas de pagamento e até extratos bancários.
O caso, relatado pelo ministro Cristiano Zanin, registra em detalhes a exigência de “R$ 1,6 milhão em contrapartida à destinação de recursos públicos federais no total de R$ 6.6 milhões ao município de São José de Ribamar (MA)”. O dinheiro vinha das emendas dos parlamentares.
A denúncia foi julgada ontem pela primeira turma e o voto de Zanin foi seguido por todos os integrantes do colegiado. O ministro afirma que há “depósitos e transferências bancárias documentalmente comprovados, extratos e planilhas de pagamentos indicando valores repassados aos denunciados envolvidos nas negociações das emendas parlamentares”.
A PGR elencou uma série de elementos de prova. Inclusive diálogos. Os deputados, em especial Maranhãozinho, tinham um “cobrador de propina”, conhecido como Pacovan. Ele morreu. Nos diálogos, fica evidente que há profunda desconfiança entre todos os agentes envolvidos no desvio do dinheiro, e que as emendas se tornaram um negócio alvo de lobistas e atravessadores.
O cobrador, Pacovan, temia o desvio da propina cobrada pelos deputados. A denúncia da PGR e o voto de Zanin mostram que havia uma demanda por comprovantes das emendas destinadas às prefeituras, para que a propina fosse paga.
“Essa situação de eu não ter pegado o comprovante… Pagou no dia 31, dia 05 já era pra [sic] eu estar com os papéis na mão. Entendeu? Rapaz, só raposas. Na hora que cai na conta, já cai [sic] outras pessoas dizendo que é deles. Outros lobistas, outras pessoas. Tem que ser assim, caiu na conta, no dia seguinte já pegar o comprovante. E eu fui lá com 30 dias depois. Caiu dia 31, eu tô [sic] indo lá dizer: ‘aqui é meu’, dia 21 de janeiro. Como é que é teu, por que tu não veio dia 05, dia 10? Eu tô [sic] com ar de doido”, diz Pacovan ao deputado Maranhãozinho em áudio.
O medo de perder a propina chega a fazer o cobrador tecer ameaças de morte. “Esse daí é o telefone do prefeito e do secretário de saúde. Porque eu quero desmascarar, esse cara que tá dizendo que é dele. Ele vai pegar uma bala na cara. Esse vagabundo. Eu fiquei ontem até meia noite lá com o prefeito.”
No fim, o deputado Maranhãozinho é instado a pegar o dinheiro pessoalmente. Ele se recusa, num diálogo a ir até a casa do pagador da propina. “Não posso ir na [sic] casa dele. É perigoso, pois pode ter câmeras para nos filmar. Pode ser aqui em São Luís em qualquer local. Não podemos ir em escritório dele”, diz o parlamentar do PL.
Numa outra conversa, também registrada pelos investigadores, o cobrador de propina do deputado, Pacovan, diz que a prefeitura só vai pagar o dinheiro diretamente pro deputado. “Bom dia, Josimar, tudo bom meu filho? Deixa eu te falar, ontem eu fui atrás do Homi [sic] lá do Ribamar. Tentei falar com ele. Ele disse que só senta se for contigo. Entendeu? Ele só paga se for pra [sic] você. Ele só resolve as coisas com você.”
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