Após ter reconstituição da mama negada, professora de ioga consegue cirurgia reparatória e questiona atendimento no AC


Iri Nobre recebeu diagnóstico de câncer de mama há cerca de dois meses e vai precisar retirar parte de um dos seios. Ela afirma que reconstituição foi negada inicialmente, apesar de ser garantida por lei. Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) classifica o caso como “erro de comunicação”, mas reconhece fila de pacientes que aguardam prótese. Iri enfrenta diagnóstico de câncer de mama há cerca de dois meses
Arquivo pessoal
A professora de ioga e bailarina acreana Iri Nobre lida com um diagnóstico de câncer de mama há cerca de 2 meses e, além de enfrentar a doença, ela conta que teve dificuldades em garantir a protese mamária, já que vai precisar retirar boa parte de uma das mamas. O acompanhamento tem sido feito na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), em Rio Branco, que teria negado o pedido.
Com isso, ela iniciou uma campanha nas redes sociais, com postagens questionando a decisão, e chamando atenção para a lei nº 3.358, de dezembro de 2017, que prevê, entre outros direitos, cirurgia plástica reparadora de mama.
“Agora me digam: como uma mulher pode estar bem para encarar um processo de cura que dura de 5 a 10 anos, sem a mama reconstruída e seu direito de cidadã assegurado, conforme a lei estadual 3.358? Eu estou desolada mas quero lutar, eu nunca sequer quis prótese com fins estéticos apenas”, questiona em uma das postagens.
Ela relata que a alegação do Unacon é de que não seria possível fazer o procedimento devido à falta de material, no caso, próteses mamárias. Porém, esse não era o procedimento solicitado. Apenas depois de várias reuniões com a direção do hospital, foi esclarecido que, na verdade, ela buscava um procedimento sem prótese, que aproveita o tecido da outra mama.
Indignação levou professora de ioga acreana a reclamar nas redes sociais
Reprodução
Espera e atendimento
“Vou retirar o nódulo, fazer o quadrante mamário, como eles chamam, e fazer a reconstituição usando tecido da outra mama. Sem prótese agora, porque não me interessa a prótese agora, verifiquei com a minha mastologista que é o melhor para o meu tratamento, que ainda é longo. Mas a questão das próteses é muito séria no Acre, porque há muitas mulheres que precisam de prótese, existe uma fila de mulheres mastectomizadas e a justificativa que eles dão é que eles abrem o pregão licitatório para as próteses, mas para o Acre, é uma quantidade que é considerada pequena pelas empresas, e nenhuma comparece [ao pregão]. Mas, quando acontece isso, é chamado de pregão inexistente, abre imediatamente a prerrogativa para o hospital comprar diretamente”, alega.
Além da própria situação, Iri relata ficar sensibilizada com outras mulheres que não conseguem o procedimento de reparação da mama, e, por isso, resolveu ir à internet questionar a situação. Ainda segundo ela, nesta terça-feira (27) deve ser feita a internação, e ela irá passar pelo procedimento na quarta-feira (28).
Com a continuação do tratamento, Iri afirma temer pelos próximos estágios por conta do atendimento que teria recebido.
“Eu só consegui essa cirurgia reparatória no ato da retirada do nódulo porque eu saí do Unacon e voltei para o Centro de Controle Oncológico do Acre (Cecon), onde recebi um excelente atendimento. Inclusive, eu estou insegura, pois quando for fazer a quimioterapia, daqui a trinta dias, se tudo correr bem, vou voltar para o Unacon. Então quimioterapia, radioterapia são serviços que eu tenho que fazer no Unacon”, avalia.
Outra reclamação apresentada por Iri, é em relação à estrutura do local onde funciona a unidade. Segundo ela, pacientes aguardam em um local parcialmente coberto, apesar de haver uma obra pronta, e que ainda não foi inaugurada.
“A recepção é bonita, e fiquei sabendo recentemente que ela só não foi inaugurada porque a empresa que trabalhou é uma dessas empresas envolvidas nesses escândalos do governo estadual. E o que acontece com os pacientes é que a gente fica no sol, porque tem uma tenda na lateral e são muitos pacientes, com a pele extremamente fina e fragilizada. Uma série de efeitos colaterais e os pacientes não têm proteção”
O que diz o Unacon
A gerência do Unacon reconhece a falta de material para implante de próteses, e atribui as reclamações da paciente a um erro de comunicação. Segundo Kelcineia Souza, gerente-geral da unidade, Iri solicitou procedimento de reparação sem prótese, também chamado de simetria das mamas, mas o que teria chegado à direção da unidade é que ela havia solicitado prótese. A gerente informou ainda que o processo de compra dos itens já foi aberto.
“De fato está indisponível. A Sesacre e Fundhacre estão em processo de compra, e o processo de compra da Sesacre está na fase de publicação de edita. Mas as pacientes que têm indicação podem ter acesso mediante judicialização ou TFD”, ressalta.
Sobre as reclamações quanto à recepção da unidade, Kelcineia afirmou que a obra ainda está em fase de conclusão e tem previsão de ser inaugurada no mês de julho. Ainda em relação à falta de próteses, a gerente afirma que há uma fila de 10 pacientes.
Indignação
Apesar do posicionamento da unidade, Iri reforça que deixou claro desde o início que não buscava procedimento estético, e que pedia apenas a simetria das mamas. Ela conta ainda ter ficado abalada diante da negativa ao procedimento e da falta de material.
“Eu fiquei engatilhada, em choque. Quando fui refletir em casa, me perguntei: mas que material é esse? É material de prótese? É material humano? Porque no meu caso, eu sempre deixei claro que não queria prótese, e já sabia que podia ser feito reconstituição com o tecido da outra mama. Só que não me deixaram falar”, reclama.
Após a revolta ao ter o direito negado, Iri conta que refletiu, e percebeu que o problema não afeta apenas ela, e resolveu expor o problema, ainda que não precise de prótese. “No primeiro dia, eu fiquei em choque. Mas no segundo dia, quando comecei a me acalmar e a refletir a respeito, eu entendi que nem de longe isso é só sobre mim. Isso é sobre as mulheres acreanas”, destaca.
A questão do procedimento de reparação que Iri pedia, foi resolvida. Porém, permanece a preocupação com outras pacientes que precisam aguardar em filas por um procedimento.
“Imagina como é que eu ia me recuperar de um pós-operatório, me vendo mutilada. Eu trabalho com meu corpo, eu sou artista, sou dançarina, sou bailarina aérea, sou acrobata, sou professora de ioga. Como é que eu ia me ver? Eu sei quantas mulheres precisam e cada dia mais eu me deparo com mulheres que chegam até mim relatando seus casos”
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