Saiba quais são as pessoas e entidades suspeitas de lucrar com fraude de R$ 6 bi no INSS

g – Foto: Divulgação/Agência Brasil/ND

Ao menos 11 entidades são investigadas por lucrar com a fraude no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), revelada pela operação Sem Desconto, deflagrada na quarta-feira (23) pela Polícia Federal e Controladoria-Geral da União.

Além de empresas e associações, pessoas físicas, que estão por trás dos negócios, também são alvos da investigação. Entre 2019 e 2025, o esquema criminoso desviou R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas da previdência.

A Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos) é a entidade que está no centro das suspeitas de fraude no INSS. Segundo a Polícia Federal, a associação teve um aumento vertiginoso de arrecadação nos últimos anos.

Em 2021, as contribuições dos associados foram de R$ 135. O total saltou para R$ 14,9 milhões em 2022 e 91 milhões em 2023. Entre janeiro e março de 2024, as contribuições alcançaram R$ 71,6 milhões. O faturamento da associação soma R$ 178 milhões entre 2019 e 2024.

Ação da PF revela fraude no INSS

Fraude no INSS provocou desvios de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas – Foto: Polícia Federal/Reprodução/ND

Os advogados Daniel Bialski e Bruno Borragine, que representam a Ambec, informaram que a associação “não pratica atividade ostensiva de captação, prospecção e afiliação de seus associados, sendo tais atividades praticadas por empresas privadas diversas, de forma que, se qualquer fraude ocorreu, a associação é tão vítima quanto seus associados”.

Sindicato de irmão do Lula está entre os investigados

O Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados), dirigido por José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também é citado no inquérito. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou operações suspeitas envolvendo o sindicato e a Ambec entre 2020 e 2023. Frei Chico é vice-presidente do Sindnapi.

Em nota, o Sindicato Nacional dos Aposentados informou que apoia a investigação rigorosa das denúncias para proteger os aposentados e fortalecer a credibilidade de instituições que defendem seus direitos.

Frei Chico, irmão de Lula

Frei Chico, irmão de Lula, é vice-presidente de sindicato investigado por fraude no INSS – Foto: Reprodução/R7/ND

Em agosto de 2021, a Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos assinou um acordo de cooperação técnica com o INSS. O credenciamento permitiu que a entidade descontasse mensalidades diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas, desde que houvesse autorização expressa dos filiados.

Empresário e ‘careca do INSS’ estão entre os investigados

O empresário Maurício Camisotti é um dos principais investigados. Ele é descrito no inquérito como “figura central” do esquema. Camisotti seria “sócio oculto” da associação e teria usado familiares como laranjas em diversas empresas para receber e lavar o dinheiro da fraude no INSS.

A mulher, o filho, dois primos, um sobrinho e o cunhado dele também são investigados. Os três últimos presidentes da associação tem parentesco com o empresário, suspeito de fraude no INSS.

Outro personagem fundamental do inquérito é Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, apontado como lobista do esquema. De acordo com a PF, foi ele quem abordou servidores do INSS para conseguir os dados cadastrais dos aposentados.

Veja lista de investigados por fraude no INSS:

  • Maurício Camisotti, que seria o “sócio oculto” da Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos e operador das fraudes;
  • Cecília Montalvão Simões, mulher de Maurício e sócia da Benfix, uma das empresas supostamente usada para movimentar os recursos desviados e que movimentou mais de R$ 6 milhões entre créditos e débitos com a Ambec;
  • Paulo Otávio Montalvão Camisotti, filho de Maurício, titular da Mais Saúde, empresa que recebeu R$ 13 milhões da Ambec;
  • Ademir Fratic Basic, fundador e primeiro presidente Ambec, sobrinho de Maurício;
  • Antônio Fratic Basic, cunhado de Maurício, ex-presidente da Ambec, responsável por assinar o acordo de cooperação com o INSS;
  • Luciene de Camargo Bernardo, prima de Maurício, ex-diretora da Prevident Assistência Odontológica, que recebeu R$ 11 milhões da Ambec;
  • Edmar Policarpo Júnior, primo de Maurício, foi presidente do Centro de Estudo dos Benefícios dos Aposentados e Pencionistas, que mandou R$ 3 milhões para a Benfix;
  • Ademir Umberto Califoni, presidente da presidente da União Nacional dos Aposentados e Pensionistas do Brasil, empresa que segundo a investigação atua de forma semelhante à Ambec e que transferiu R$ 4,7 milhões à Benfix;
  • Rodrigo Rosolem Califoni, administrou a Brasil Dental Serviços, que hoje é controlada por Maurício;
  • José Hermicesar Brilhante Palmeira, presidente da Odonto Seg, que era administrada por parentes de Maurício;
  • Antônio Carlos Camilo Antunes, suposto lobista do esquema;
  • Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos);
  • Rede Mais Saúde;
  • Prevident Assistencia Odontológica;
  • Benfix Corretora de Seguros e Administradora de Benefícios;
  • Cebap (Centro de Estudo dos Benefícios dos Aposentados e Pencionistas);
  • Brasil Dental Serviços Compartilhados;
  • Odonto Seg Operadora de Planos Odontológicos;
  • Prospect Consult Empresar;
  • Unabrasil (União Nacional dos Aposentados e Pensionistas do Brasil);
  • PMC Participações;
  • THG Investiment & Services.

Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão buscou contato com as defesas, mas sem sucesso. O espaço segue aberto.

Operação Sem Desconto

A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União deflagraram, nessa quarta-feira (23), a Operação Sem Desconto, com o objetivo de combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões vinculadas ao INSS.

Fachada do INSS

Segundo a Polícia Federal, funcionários do INSS teriam recebido propina para ajudar em fraude no INSS – Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil/ND

Segundo a investigação, os dados dos aposentados foram obtidos junto a servidores do INSS, mediante o pagamento de propinas. As informações teriam sido cadastradas na Ambec e em outras associações semelhantes, sem o conhecimento dos aposentados, para operar os descontos nos contracheques.

Os descontos eram de pequenos valores. Em muitos casos, as vítimas não perceberam os abatimentos. Mas, somados, os valores apropriados indevidamente por essas associações somam R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo cálculos da CGU.

Cerca de 700 policiais federais e 80 servidores da CGU cumpriram 211 mandados de busca e apreensão, sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão e seis mandados de prisão temporária. Seis servidores públicos foram afastados de suas funções.

As ordens judiciais foram cumpridas no Distrito Federal e nos estados de Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.

Os investigados pela fraude no INSS devem responder por corrupção ativa, passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, organização criminosa e lavagem de capitais.

Contrapontos

O ND Mais busca contato com as defesas das empresas citadas por fraude no INSS. O espaço está aberto para manifestação ([email protected]).

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