Famílias de crianças autistas sofrem com falta de remédios e tratamentos em Tatuí: ‘Tenho medo de dar uma crise e eu não estar perto’, diz avó


Grupo com mais de 200 mães reclamam sobre a falta de apoio por parte do poder público, mesmo em casos com decisões da Justiça, que não estão sendo cumpridas. Pais de crianças autistas sofrem com falta de remédios e tratamentos em Tatuí
Famílias crianças autistas sofrem com falta de remédios e tratamentos em Tatuí (SP). Um grupo com mais de 200 mães reclama da falta de apoio por parte do poder público, mesmo em casos com decisões da Justiça, que não estão sendo cumpridas.
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Sônia Regina da Costa Oliveira, passa cerca de quatro horas e meia de segunda sexta-feira. O neto dela, de seis anos, tem autismo e está no primeiro ano na Escola Eugênio Santos, localizada no Centro.
“Desde o ano passado, eu não consegui cuidadora e como vem aumentando as crises dele, o que eu tenho que fazer, enquanto não tenha a cuidadora: tenho que ficar na frente da escola, sentada, dar 13h até às 17h20”.
“Eu tenho medo de dar uma crise e eu não estar perto e ninguém me avisar. A gente está bem cansada, porque eu tenho 61 anos e, além da gente passar tudo isso com ele dentro de casa, que ele é muito agressivo, tem dias que ele está bom, tem dias que não está”, reforça.
Sônia Regina da Costa Oliveira aguarda o neto autista todos os dias do lado de fora da escola com medo de dar uma crise nele
Reprodução/TV TEM
“As medicações dão a impressão para a gente que já não está mais fazendo efeitos. Então, a gente vai desgastando, mas eu não desisto, eu estou aqui”.
Falta de medicamento
Além da falta de um auxiliar na escola, outros problemas foram relatados pelo grupo de mães, como a falta de medicamentos e ausência de tratamentos adequados.
Por isso, elas se reuniram para lutar por esses direitos. A empreendedora Melissa Paloma dos Santos, coordena um grupo com cerca de 200 mães. Ela tem um filho de cinco anos que também foi diagnosticado com autismo quando tinha dois anos.
“É um grupo de mães e famílias atípicas, cerca de 210, mais ou menos, mães e familiares. Ele é coordenado por mim e por mais uma advogada. A gente junta as questões que a gente está precisando, o que está acontecendo, para ir se informando do que está ruim para um, está ruim para o outro”, conta.
Melissa reforça que as reclamações entre as mães aumentaram drasticamente nos últimos tempos, o que a alertaram a irem buscar pelos próprios direitos. Crianças diagnosticadas com autismo precisam do atendimento de equipes multidisciplinares, mas, segundo elas, alguns tratamentos não estão sendo oferecidos de forma adequada.
Grupo com mais de 200 mães reclamam de falta de remédios e tratamentos para filhos autistas em Tatuí (SP)
Reprodução/TV TEM
“O CIR (Centro Municipal Integrado de Reabilitação), está dando apenas seis meses de tratamento para qualquer criança autista. Isso não pode acontecer… Por lei, a criança autista tem direito sem determinar a quantidade de terapias”, destaca Melissa.
“E eles estão dando apenas seis meses e dão alta. Fora isso, já faz um ano e meio que não tem psiquiatra no CIR e a criança autista, ela precisa do psiquiatra para remédios, para ajustar as medicações dos autistas”, continua.
A estimativa é que aproximadamente dois milhões de pessoas tenham o transtorno do espectro autista no Brasil. A filha da Flávia de Oliveira depende de medicações, que, segundo ela, não estão sendo fornecidas. Recentemente, a filha teve uma crise por falta de medicamentos.
“Minha filha está correndo risco de vida, já faz oito meses sem medicamento nenhum, e sem fraldas há onze meses. Medicamento dela é controlado para a epilepsia, ela é esquizofrênica, uma criança de 11 anos que pesa 90 quilos, ela tem a apneia do sono, não dorme de jeito nenhum”, reclama Flávia.
A Rosângela de Paula Goes também faz parte do grupo. Ela é mãe do Israel, que tem 31 anos e foi diagnosticado com a síndrome de Noonan, doença genética hereditária, com características faciais incomuns, baixa estatura, problemas cardíacos, além dele também ter autismo.
Israel depende dos cuidados da mãe de maneira integral, ao tomar mais de 30 medicamentos que, quando algum deles está em falta, os danos à saúde são graves.
Israel depende dos cuidados da mãe Rosângela de Paula Goes de maneira integral em Tatuí (SP)
Reprodução/TV TEM
“Até o ano passado, no mês de novembro, veio e que eu ainda estava me segurando, mas agora não tem jeito mais… A gente está naquele ponto de grito de socorro para que alguma autoridade tome providência”, declara Rosângela.
As mães cobram apoio por parte do poder público para que a situação mude. “Onde que está a gestão da cidade de Tatuí? Onde que ‘está’ os vereadores que se manifestaram na época da política, falando que estavam ali, que eles iam guerrear pelas crianças portadoras de eficiência, mas eu estou vendo que eles estão todos sentados, de braços atados, e o dinheiro deles? Eu tenho certeza que nenhum deles estão sem receber o salário deles”, Rosângela completa.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Tatuí informou que está acompanhando os casos citados na reportagem, mas não informou especificamente sobre cada um dos casos. Sobre os medicamentos, todos que fazem parte da tabela do SUS foram entregues. Já os medicamentos que necessitam de um processo de compra especial estão em andamento.
A Prefeitura informou também que são 169 cuidadores na rede municipal, no ensino fundamental, 1 e 2, para atender até 500 crianças. Atualmente, são 334 crianças matriculadas e que um processo para contratar novos cuidadores está em andamento
O presidente da Câmara Municipal se reuniu com as mães e, no dia 14 de abril, foi aprovado um requerimento convocando os Secretários da Saúde, da Educação e dos Direitos humanos, para prestar esclarecimentos sobre as questões relacionadas às pessoas do espectro autista de Tatuí. A sessão extraordinária será nesta sexta-feira (25), às 15h, aberta ao público.
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