‘Pacientes perderam transplantes porque não atenderam telefone’: como chamadas automáticas prejudicam o sistema de saúde


Aproximadamente 20 bilhões de ligações automáticas são feitas por mês no Brasil, com 10 bilhões disparadas por robôs, dificultando o acesso a atendimentos médicos essenciais. 23 mil ligações por segundo: o Fantástico investiga como funcionam os robôs programados para tirar você do sério
No Brasil, um problema aparentemente simples está colocando vidas em risco: as chamadas automáticas, ou robocalls. Essas ligações, muitas vezes oriundas de sistemas de telemarketing, estão causando prejuízos diretos à saúde dos pacientes, especialmente aqueles à espera de procedimentos críticos como transplantes de órgãos e exames médicos importantes. A falta de atendimento a essas chamadas pode significar a perda de uma chance de vida.
Em hospitais e centros de transplante, onde o tempo é um fator vital, as chamadas automáticas podem ser fatais.
A enfermeira da Santa Casa de Porto Alegre, Jaquelina Bica, relembra: “já tivemos pacientes que perderam o transplante porque não atenderam o telefone.”
A situação é ainda mais grave quando consideramos que, muitas vezes, as ligações são feitas por números desconhecidos e de curta duração, o que leva os pacientes a não atenderem por medo de se tratar de uma ligação indesejada ou de telemarketing.
Além dos transplantes, muitos pacientes estão sendo prejudicados em seus tratamentos devido à falta de atendimento a chamadas de agendamento de exames médicos. Gabriela Scholl, funcionária pública de Santana do Livramento (RS), perdeu a chance de realizar um exame importante porque não atendeu a uma dessas ligações automáticas.
“Eu já poderia ter feito o exame, poderia estar em tratamento,” lamenta Gabriela.
Esse cenário se repete em diversos cantos do país, gerando frustração tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde que enfrentam desafios para garantir que os pacientes recebam os cuidados necessários.
Muitas vezes, a dependência de sistemas automáticos de comunicação nas unidades de saúde resulta em falhas na transmissão de informações essenciais para a continuidade do tratamento.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirma que tem trabalhado na implementação de medidas que visam reduzir os danos causados pelas chamadas automáticas.
Uma dessas iniciativas é o sistema “Origem Verificada”, que permite que as empresas que fazem chamadas automáticas sejam identificadas no visor do celular, além de informar o motivo da ligação.
A intenção é dar mais segurança ao paciente, permitindo que ele reconheça uma ligação importante relacionada à sua saúde.
Celulares com chamadas automáticas
Reprodução/TV Globo
Mesmo com essas medidas em andamento, a situação ainda é crítica. A quantidade de robocalls disparadas todos os meses no Brasil é gigantesca: cerca de 20 bilhões de ligações, sendo que muitas delas são feitas para números válidos, mas acabam se misturando às chamadas de telemarketing.
Isso cria um cenário no qual os pacientes, temendo mais um incômodo, acabam não atendendo as chamadas que, em alguns casos, podem ser a única oportunidade para um procedimento de emergência.
Além disso, especialistas apontam que os criminosos também estão se aproveitando dessa tecnologia para aplicar golpes, aproveitando-se da confusão e da desconfiança geradas pelas robocalls.
O advogado especialista em crimes cibernéticos José Milagre alerta que “muitos golpistas usam robocalls para manipular as vítimas, pedindo respostas como ‘sim’ ou ‘não’ em um contexto de fraude, o que pode ser extremamente prejudicial.”
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