Canadá vai às urnas nesta segunda com favoritismo de partido de Trudeau impulsionado por oposição a Trump

As eleições legislativas antecipadas no Canadá acontecem na segunda-feira (28). O conflito com o vizinho norte-americano, alimentado pela guerra comercial e pelas ameaças de anexação de Donald Trump, mudou completamente o cenário desta eleição.
O Partido Liberal de Mark Carney, que sucedeu Justin Trudeau como primeiro-ministro, lidera as pesquisas diante do campo conservador representado por Pierre Poilievre.
Cerca de 29 milhões de eleitores canadenses são chamados às urnas para eleger 343 novos deputados. As eleições legislativas deveriam ocorrer no fim do ano, mas o abalo político causado pela renúncia do primeiro-ministro liberal Justin Trudeau em 6 de janeiro mudou o calendário.
Sem maioria absoluta no Parlamento, seu sucessor, Mark Carney, pediu a dissolução da Câmara dos Comuns logo após sua nomeação, o que levou à convocação das eleições antecipadas.
“No Canadá, há basicamente dois partidos: o Partido Liberal e o Partido Conservador”, explica Gérard Boismenu, professor emérito de ciência política da Universidade de Montreal.
“E também há o que chamamos de ‘terceiros partidos’. Nos últimos anos, temos dois: o Novo Partido Democrático [de orientação social-democrata] e o Bloco Quebequense, um partido que defende a independência do Quebec e que só apresenta candidatos naquela província. Esses quatro partidos são os principais.”
Entretanto, a disputa principal será entre o Partido Liberal e o Partido Conservador, enquanto os outros dois partidos, menores, têm trajetórias mais instáveis. Apesar do trágico incidente em Vancouver — quando um motorista atropelou a multidão em um festival, deixando muitas vítimas —, o que pesa de fato sobre esta eleição é a situação internacional e as tensões com Donald Trump.
Mark Carney, o novato em altaApós a saída de Justin Trudeau no início do ano, Mark Carney assumiu oficialmente como primeiro-ministro em meados de março. Atual líder do Partido Liberal, Carney é o favorito para vencer, segundo as pesquisas — um feito notável para alguém que os canadenses conheceram há apenas algumas semanas.
Mark Carney é novo na política, mas tem ampla experiência na gestão de crises. Essa é a imagem que ele procura transmitir, mais do que propostas específicas como a redução de impostos para a população de baixa renda e investimentos nas áreas de defesa, energia e habitação.
Seu currículo é sua maior credencial. Formado por Harvard e Oxford, Carney, de 60 anos, nunca havia concorrido a cargos eletivos. Fez carreira como banqueiro de investimentos e comandou o Banco do Canadá durante a crise financeira de 2008 e o Banco da Inglaterra durante o Brexit. Em ambas as funções, ficou conhecido como alguém pragmático e competente.
Sua falta de ligação com governos anteriores no Canadá é vista como uma vantagem. Quando tentam compará-lo a Justin Trudeau, Carney responde: “Nunca participei do governo Trudeau, enquanto os conservadores me convidaram para ser ministro das Finanças”. Com seu perfil, Carney está levando o Partido Liberal para uma linha mais centrista e atraindo até eleitores conservadores moderados. Segundo Gérard Boismenu, ele é “uma pessoa reservada”, mas que “consegue um forte apoio popular”.
Pierre Poilievre, o conservador afetado pelas polêmicas de TrumpO principal adversário de Carney é o conservador Pierre Poilievre. Sua vitória parecia provável há algumas semanas, após uma década de domínio liberal sob Justin Trudeau, que havia sucedido o conservador Stephen Harper em 2015. No entanto, Poilievre hoje aparece com apenas 38% das intenções de voto, contra 44% para Carney, que pode até alcançar a maioria absoluta na Câmara dos Comuns (172 cadeiras).
A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos alterou completamente a situação para Poilievre, de 45 anos. Sua proximidade ideológica com Trump e seu estilo agressivo tornaram-se desvantagens.
Poilievre foi eleito deputado aos 25 anos, tornou-se líder do Partido Conservador em 2022 e já atuou como ministro de Assuntos Democráticos e de Recursos Humanos e Desenvolvimento Sustentável. É conhecido por suas declarações de impacto. Prometeu ser um “primeiro-ministro anti-agenda progressista” e anunciou planos para reduzir impostos, cortar gastos públicos e diminuir o número de servidores.
Seu discurso radical lembra o do atual presidente norte-americano. Porém, Trump tem feito repetidas ameaças de transformar o Canadá no “51º estado” dos Estados Unidos e instaurou uma forte guerra comercial contra o país. Esse contexto pode prejudicar o Partido Conservador nas urnas.
“Grande parte do apoio a Carney e ao Partido Liberal está ligada à rejeição da ideia de anexação, além do desejo de afirmar com firmeza a independência nacional”, avalia Gérard Boismenu. “Os canadenses estão votando em quem eles acreditam que pode enfrentar Trump.”
Recentemente, Poilievre tentou adotar uma postura mais moderada. No entanto, pode ser tarde demais para se livrar da imagem de “mini-Trump” que seus adversários lhe atribuíram.
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