Contagem regressiva catastrófica: o terremoto que pode afundar e inundar o noroeste do Pacífico

 

Imagem de casas e mar entrando na praia para representar efeitos do terremoto na Falha de Cascadia

Um terremoto na Falha de Cascadia pode provocar o afundamento de terras costeiras nos Estados Unidos – Foto: Imagem gerada por IA/ND

Um terremoto na Falha de Cascadia, nos Estados Unidos, pode provocar o afundamento de terras costeiras e ampliar drasticamente as áreas de risco de inundação em estados como Califórnia, Oregon e Washington.

Combinado à elevação do nível do mar causada pelas mudanças climáticas, o cenário ameaça tornar comunidades inteiras inabitáveis.

Por que o terremoto na Falha de Cascadia preocupa os cientistas

Um estudo publicado nesta segunda-feira (28) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences alerta que o impacto de um grande terremoto na Falha de Cascadia, localizada na Califórnia, pode ser muito mais devastador do que se imagina.

A pesquisa, conduzida por cientistas do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, nos Estados Unidos, indica que o tremor pode provocar o afundamento de até dois metros do solo em regiões costeiras.

Isso ampliará as áreas oficialmente reconhecidas como suscetíveis a inundações em até 300 km², segundo os cientistas.

Imagem de mapa da zona de subducção de Cascadia

Zona de subducção de Cascadia – Foto: Divulgação/Earth Explorations Toolbook/ND

Subsidência: como o solo pode afundar até dois metros

Conforme a geocientista Tina Dura, professora do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, e autora principal do estudo, esse tipo de afundamento — conhecido como subsidência — tem o potencial de dobrar o número de pessoas e estruturas expostas a enchentes atualmente.

E, até o final do século, esse risco pode triplicar, agravado pela elevação global do nível do mar.

Terremoto na Falha de Cascadia: estudo projeta risco triplo de inundações até 2100

Usando dezenas de milhares de modelos sísmicos, a equipe analisou como as futuras rupturas ao longo da falha poderiam alterar a topografia costeira em 24 estuários e comunidades próximas.

Para se ter noção, o cenário simulado para um grande terremoto nos dias atuais projeta inclusão de mais:

  • 14.350 moradores;
  • 22.500 estruturas;
  • 1.250 km de estradas na zona de inundação pós-terremoto.

Nesse sentido, hospitais, escolas, aeroportos, usinas, estações de tratamento de esgoto e fontes de contaminação química também estão entre os pontos ameaçados.

A situação se agrava ao considerar o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que apontam o aumento de até 90 cm no nível do mar ao longo da costa do Pacífico Noroeste até 2100. Neste cenário, áreas alagadas se expandiriam ainda mais, com impactos sociais e econômicos.

“Com o aumento do nível do mar, os danos às infraestruturas essenciais retardam a resposta emergencial e dificultam a reconstrução. Muitas comunidades podem se tornar permanentemente inabitáveis”, afirma Dura, também vinculada ao Global Change Center da universidade.

Imagem de inundação em farol em praia

Um terremoto na Falha de Cascadia pode promover a inundação da costa até 2100 – Foto: Canva/ND

Perda de ecossistemas costeiros e danos irreversíveis

Com um terremoto na Falha de Cascadia, o avanço do mar também colocam em risco ecossistemas naturais que atuam como barreiras contra tempestades e erosão — como dunas, estuários e zonas úmidas intertidais.

A erosão dessas áreas não expõe apenas o litoral a danos físicos, mas reduz sua capacidade de estocar carbono e de manter a biodiversidade, como aponta um estudo do Fralin Life Sciences Institute.

Essa zonas úmidas são vitais para a filtragem da água, habitat de aves migratórias e espécies marinhas, além de capturar grandes quantidades de carbono atmosférico.

Sendo assim, a degradação ou submersão desses ecossistemas representa perda de serviços ambientais insubstituíveis.

Casos semelhantes: megaterremotos no Chile, Alasca e Japão

Além do terremoto na Falha de Cascadia, outros fenômenos semelhantes  já ocorreram em outras regiões com zonas de subdução. O terremoto do Chile em 1960 submergiu florestas e forçou o abandono de áreas agrícolas.

Em 1964, no Alasca, comunidades inteiras foram realocadas para terrenos mais altos. Além disso, o terremoto de Sumatra, em 2004, e o do Japão, em 2011, causaram erosão costeira, destruição de portos e até desastres nucleares.

Esses eventos comprovam que os efeitos da subsidência costeira são imediatos e podem durar séculos. “Durante um terremoto de magnitude 9, o solo afunda em questão de minutos, gerando inundações instantâneas, que são seguidas por tsunamis em até 20 minutos”, explica Dura.

Risco global em zonas de subducção

Vale destacar que a ameaça do terremoto na Falha de Cascadia não se limita ao Noroeste dos Estados Unidos. Regiões como Japão, Indonésia, Nova Zelândia, Alasca, Rússia e América do Sul também estão sobre zonas de subdução — onde uma placa tectônica desliza sob outra.

Nessas áreas, a tensão acumulada por séculos é liberada de forma súbita, resultando em terremotos catastróficos e alterações permanentes na paisagem.

Em estudos de paleossismologia conduzidos pela equipe de Dura indicam que pelo menos 11 grandes terremotos atingiram a região nos últimos 7 mil anos, com frequência de 200 a 800 anos.

O último ocorreu em 26 de janeiro de 1700, há mais de 300 anos, o que preocupa os cientistas sobre a iminência de um novo evento.

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