Com El Niño mais intenso em 70 anos, AC deve ter altas temperaturas e dificuldades na captação de água


Institutos internacionais apontam que o fenômeno deve aumentar temperaturas em vários locais, inclusive no Acre. Ocorrência de chuvas deve se manter na média, mas o doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Ufac, José Genivaldo Moreira, acredita que estiagem deve ser intensa. Rio Acre chegou a 1,25 metro em Rio Branco no ano passado
Iryá Rodrigues/g1
O fenômeno conhecido como El Niño, que aumenta temperaturas e reduz chuvas, voltou a ser registrado após três anos de La Niña, que tem efeitos opostos. De acordo com o doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Universidade Federal do Acre (Ufac), José Genivaldo Moreira, foi a primeira vez que o La Ninã aconteceu por três anos seguidos, de 2020 a 2022.
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Para 2023, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do governo dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), a estimativa é que o El Niño tenha uma das ocorrências mais intensas dos últimos 70 anos.
Impacto do El Niño no inverno de cada região brasileira
Arte/g1
De acordo com projeções baseadas no monitoramento do Climatempo, as temperaturas devem ficar acima da média na maior parte dos estados do Brasil, incluindo o Acre. Por outro lado, as chuvas devem se manter na média no estado, assim como no restante do país.
Estimativas
O professor Moreira ressalta que essas previsões são muito complexas, e podem ter alterações ao longo dos meses. Ele acredita que a seca no Acre este ano não deve alcançar os níveis de 2022, quando o Rio Acre chegou à menor cota já registrada, com 1,25 metro em Rio Branco. Porém, o período de estiagem deve impor dificuldades ao estado, principalmente na captação de água.
“Com isso, evidentemente todos sistemas vão sofrer, uma vez que as nossas estruturas são muito incipientes, como o abastecimento. A agricultura ainda não avançou muito nos projetos de irrigação e de captação de outras fontes de água. Aqui no Acre, a nossa cultura é de ir no rio, captar a água, e distribuir para os diversos usos. A gente espera que seja suficiente o que os rios têm a oferecer. Ainda não fizemos previsão esse ano para cotas do Rio Acre, mas acredito que teremos dificuldades”, explica.
Queimadas
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Arquivo/SOS Amazônia
Segundo Moreira, o intervalo com o qual o El Niño ocorre é entre 2 e 5 anos, enquanto o La Niña tem intervalo de 1 a 3 anos. Para o especialista, a cheia histórica que atingiu principalmente a capital acreana em 2023, foi um dos últimos efeitos do La Niña.
Com isso, a região entra no período de atenção para a menor ocorrência de chuvas. Aliado a esse fator também está o problema das queimadas. O ano passado registrou a segunda maior área queimada mapeada desde 2005 no Acre, com mais de 322 hectares. Já este ano, o governo decretou nesta quarta-feira (5) situação de emergência ambiental em pelo menos 10 municípios por conta do desmatamento ilegal e queimadas.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU em 2015
Nações Unidas Brasil
Longo prazo
Moreira vê a publicação do decreto como um sinal de que o estado leva a questão a sério. Porém, para ele, é necessário um plano para o longo prazo, e que também inclua fontes alternativas para a captação de água.
O especialista destaca que os estados não têm atendido à Agenda 2030, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê uma série de objetivos para o desenvolvimento sustentável, e menciona a necessidade de acesso à água potável e energia limpa.
“O ideal é que cada estado comece a pensar na Agenda 2030 da ONU, nos objetivos do desenvolvimento sustentável, que passa pela segurança hídrica. Aqui no estado, não temos a cultura de se preocupar com água porque temos abundância, mas se formos observar, não é tão abundante. Isso é falta de planejamento a longo prazo. Começamos a captar em Rio Branco em 1957, todos os projetos são voltados para melhoria na captação no rio. Mas quando foi que o estado fez um plano para captar em outras fontes? Isso foge à Agenda 2030”, avalia.
VÍDEOS: g1

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