O que os cardeais ouviram momentos antes do conclave

Missa Pro Eligendo Pontifice: ‘Que seja eleito o Papa que a Igreja e a humanidade precisam’Divulgação/Vatican News

Pouco depois do meio-dia desta quarta-feira (7), 133 cardeais foram enclausurados na Capela Sistina, no Vaticano, para escolher o próximo papa.

Fora dali cabe a ordem da mensagem em latim “Extra Omnes” – ou seja, todos fora. E a quem está fora não cabe vislumbrar o que acontece sob os afrescos de Michelângelo, certo?

Mais ou menos.

Meu amigo Felipe Zangari, jornalista, teólogo e mestre em Ciências da Religião pela PUC de Campinas (SP), lista uma série de recados ouvidos antes do início do conclave, seja nas novendiais – as nove missas que começaram no funeral do papa Francisco e terminaram no domingo – seja nos briefings divulgados na sala de imprensa do Vaticano durante as 12 congregações gerais que antecedem a escolha.

Outros recados foram dados durante as homilias dos cardeais nas celebrações realizadas no período.

“Nessas missas vimos, quase uníssono, a necessidade de dar vazão a tudo o que o papa Francisco implementou como reformas estruturantes: o apelo pela evangelização, o cuidado com o clima, com as minorias e a dimensão acolhedora e missionária da Igreja”, cita.

A questão da comunhão dentro da Igreja também apareceu nas congregações. Isso porque, apesar de reformador, o papa Francisco foi vítima de um contexto global de polarização. E essa polarização também chegou à Igreja.

“Não foram raras as vezes em que o papa foi acusado de ser comunista”, lembra Zangari.

Por isso, aqui e ali, foi possível ouvir apelos para a união da Igreja, marcada por disputas internas ferozes. Um dos desafios do próximo pontífice é reduzir inimizades que, afirma o especialista, não foram criadas por Jorge Mario Bergoglio, mas pela ira de seus opositores.

Ainda assim, ele pontua: “a vida na Igreja não se encaixa nas categorias que vemos nos parlamentos. Um conclave não é uma eleição para presidente da Câmara ou do Senado. São outras categorias em análise que não cabem no xadrez político convencional”.

Outra questão presente neste conclave são as finanças da Santa Sé, que passam por um momento delicado. 

Zangari pontua que é preciso prestar atenção no tempo de duração do conclave. Se terminar na quinta ou na sexta, é sinal de que há uma concertação em torno de um nome. 

Caso contrário, os cardeais mostrarão que não há concordância sobre temas-chave, como a manutenção da dimensão pastoral e do diálogo, uma marca do pontificado de Francisco – em detrimento de um “olhar mais para dentro” – e a escolha de um novo secretário de Estado que compreenda os impasses diplomáticos do mundo atual.

Zangari lembra ainda que um em cada cinco cardeais eleitores tem menos de 65 anos. Isso aumenta a possibilidade de a Igreja Católica ser liderada, a partir de agora, por um papa jovem, e que teria pela frente (em tese) um pontificado longo. Dali pode sair um outsider – ou seja, um cardeal menos conhecido.

Outro caminho é a opção por um líder mais experiente, que faça deste um papado de transição.

A resposta saberemos em breve. Ou não.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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