Ruas de Fortaleza: conheça quem são os fortalezenses que dão nome aos endereços da cidade


O g1 destaca as histórias por trás dos nomes de algumas da ruas mais movimentadas de Fortaleza e que trazem homenagens a nascidos na cidade. Cinco ruas de Fortaleza que relembram figuras históricas nascidas na cidade
Você já parou para pensar por que a rua Guilherme Rocha tem esse nome? Ou quem foi o Barão de Studart, que dá nome a uma das avenidas mais movimentadas de Fortaleza? As ruas da capital cearense guardam histórias que muitas vezes passam despercebidas pelos próprios moradores.
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Mais do que simples referências para localização e deslocamento, os nomes presentes nas placas azuis com letras brancas carregam a memória de figuras marcantes da história local. Embora usados no dia a dia com naturalidade, esses nomes são homenagens que preservam parte do passado da cidade.
Em celebração aos 300 anos de Fortaleza, a serem completados em 2026, o g1 publica mensalmente, em contagem regressiva, uma série especial de reportagens que resgatam a memória e valorizam a cultura da capital. Faltando 11 meses para o tricentenário, o g1 destaca as histórias dos fortalezenses que dão nome às principais vias da cidade.
O levantamento e a pesquisa que embasam esta reportagem foram realizados por Emmanuel Montenegro, autor do livro “Ruas Biográficas”, obra que reúne 321 microbiografias de personalidades que dão nome às ruas de Fortaleza. Segundo o autor, pelo menos 53 vias homenageiam pessoas nascidas na capital.
Nesta reportagem, destacamos as histórias por trás das ruas mais movimentadas da cidade. Mais adiante, você encontrará um mapa interativo com todas as 51 vias nomeadas em homenagem a fortalezenses, acompanhado de um breve resumo sobre cada uma dessas figuras históricas.
Rua e Avenida José Bastos
Avenida José Bastos cruza bairros como Bela Vista e Rodolfo Teófilo.
Davi Rocha/SVM
Se você mora em Fortaleza, é bem provável que já tenha passado pela avenida José Bastos, que cruza bairros como Bela Vista e Rodolfo Teófilo. Próximo a ela, há também a rua José Bastos, que atravessa os bairros Damas e Couto Fernandes. Mas, afinal, quem foi José Bastos?
José Perdigão Bastos nasceu em Fortaleza em 20 de setembro de 1870. Comerciante, foi sócio de seu pai, o português João da Costa Bastos, na firma João da Costa Bastos & Filhos — especializada na importação de queijos, bacalhau e outros produtos — com sede na praça do Ferreira.
Ele estudou na Phenix Caixeiral, instituição na qual viria a integrar a diretoria e, posteriormente, assumir a presidência. Também atuou na direção da Associação Comercial do Ceará entre 1905 e 1909. A avenida que leva seu nome foi inaugurada durante a gestão do prefeito Vicente Fialho, entre 1971 e 1975.
Rua Barão de Aratanha
Rua Barão de Aratanha atravessa os bairros Centro, José Bonifácio e Fátima.
Davi Rocha/SVM
José Francisco da Silva Albano é a figura que dá nome à rua Barão de Aratanha, via que atravessa os bairros Centro, José Bonifácio e Fátima, em Fortaleza. Nascido em 21 de maio de 1830, ele foi comerciante — proprietário de um armazém de alimentos na capital cearense — e também militar, tendo alcançado o posto de coronel da Guarda Nacional.
Ao longo de sua trajetória, foi condecorado com o título de Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, em 17 de maio de 1870, e recebeu do imperador Dom Pedro II, em 3 de dezembro de 1887, o título de Barão de Aratanha.
Av. José Jatahy
Avenida José Jatahy foi nomeada em homenagem a José Pattapio da Costa Jatahy.
Davi Rocha/SVM
A avenida José Jatahy, que cruza os bairros Jacarecanga, Monte Castelo, Farias Brito, Rodolfo Teófilo, Parque Araxá e Benfica, é uma das vias mais movimentadas de Fortaleza. Seu nome homenageia José Pattapio da Costa Jatahy — cantor, poeta, compositor, radialista, sindicalista e publicitário — nascido em 10 de novembro de 1910.
Jatahy foi um dos pioneiros do rádio no Ceará, tornando-se o primeiro cantor contratado da Ceará Rádio Clube (PRE-9) nos anos 1930. Em 1942, foi eleito o melhor cantor do Estado durante o festival de música do Teatro José de Alencar. A trajetória musical de Jatahy também inclui uma com Luiz Gonzaga, com quem compôs “Eu vou pro Crato” e “Desse jeito sim”, ambas gravadas pelo “Rei do Baião”.
Compôs diversas músicas com temáticas políticas e sociais, como “Canções da Juventude”, “Hino dos Ferroviários” e “Canção do Motorista”. É também autor do hino do Pacto Sindical, do hino oficial do Ceará Sporting Club — sendo seu primeiro intérprete — e do primeiro hino do Fortaleza Esporte Clube, composto em 1959.
Além da música, Jatahy teve forte atuação política e sindical: presidiu o Sindicato dos Músicos Profissionais do Ceará (1960–1962) e o Pacto de Unidade Sindical. Durante a ditadura militar (1964–1985), foi preso no 23º Batalhão de Caçadores, acusado de “promover baderna” e de atuar no Partido Comunista Brasileiro.
Rua Guilherme Rocha
Guilherme Rocha corta grande parte do Centro de Fortaleza.
Davi Rocha
A rua Guilherme Rocha, que corta grande parte do Centro de Fortaleza, homenageia Guilherme César da Rocha, nascido na capital em 16 de agosto de 1846.
Figura pública de destaque, foi coronel da Guarda Nacional, agente da companhia de navegação Lloyd Brasileiro no Ceará, tesoureiro da Santa Casa, cônsul da Bélgica, além de exercer cargos como vice-presidente da Província, vice-presidente do Estado, deputado estadual e intendente de Fortaleza.
Durante sua gestão, foi responsável por importantes obras de urbanização, entre elas a primeira grande reforma da Praça do Ferreira, em 1902, que incluiu a criação do Jardim 7 de Setembro, uma caixa d’água e os tradicionais quiosques nos cantos da praça. Também contribuiu para o desenvolvimento da Praça Marquês do Herval (hoje Praça José de Alencar) e da Praça Caio Prado (atual Praça da Sé).
Av. Barão de Studart
Barão de Studart passa pelos bairros Meireles, Aldeota, Dionísio Torres e Joaquim Távora.
Davi Rocha/SVM
Outra importante e movimentada avenida de Fortaleza é a Barão de Studart, que passa pelos bairros Meireles, Aldeota, Dionísio Torres e Joaquim Távora, e homenageia Guilherme Chambly Studart, nascido em 5 de maio de 1856.
Médico humanitário, prestou relevantes serviços à Santa Casa de Misericórdia e às vítimas da grande seca de 1877. Foi fundador e primeiro presidente do Centro Médico Cearense, do Instituto Pasteur e também diretor honorário da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará. Atuou como membro de diversas instituições culturais e científicas, no Brasil e no exterior, além de ter sido um dos fundadores do Centro Abolicionista e da Academia Cearense de Letras.
Autor de uma vasta produção intelectual, publicou artigos e livros que abordam principalmente a história do Ceará, além de temas como medicina, geografia, biografias e línguas. Como pesquisador, colecionou inúmeros documentos históricos sobre o estado, reunidos na chamada “Coleção Studart” — parte do acervo está disponível para consulta no Instituto do Ceará.
Católico praticante, destacou-se também pela atuação na caridade e na filantropia. Participou da fundação do Círculo Católico e do Círculo dos Operários Católicos de Fortaleza. Em reconhecimento à sua trajetória, foi agraciado com o título de Barão da Santa Sé, concedido pelo Papa Leão XIII em 1900.
Rua Henriqueta Galeno
Rua Henriqueta Galeno está localizada entre os bairros Aldeota e Dionísio Torres.
Davi Rocha/SVM
Localizada entre os bairros Aldeota e Dionísio Torres, a rua Henriqueta Galeno presta homenagem a uma das figuras mais influentes da vida cultural e intelectual do Ceará. Henriqueta Galeno nasceu em Fortaleza, em 23 de fevereiro de 1897.
Filha do renomado poeta Juvenal Galeno da Costa e Silva e de Maria do Carmo Cabral Galeno, ela seguiu os passos do pai, deixando sua marca como advogada, professora, poetisa, ensaísta e escritora.
Em 1919, fundou o Salão Juvenal Galeno, que mais tarde se tornaria a Casa de Juvenal Galeno — um dos centros culturais mais importantes da cidade, o qual dirigiu por 45 anos. Em 1936, criou no espaço a “Ala Feminina”, reunindo mulheres das letras e das artes. A Casa também abrigava o Centro de Estudos Juvenal Galeno e a editora Henriqueta Galeno.
A fortalezense teve atuação destacada na Associação Cearense de Imprensa (ACI) e representou o estado do Ceará no 1º Congresso Feminista, realizado no Rio de Janeiro. Publicou diversos estudos, entre eles:
Júlia Lopes de Almeida, sobre a escritora e dramaturga;
Maria Quitéria, sobre a primeira mulher soldado do Brasil;
Juvenal Galeno, o legítimo criador do Populismo Literário no Brasil;
Mulheres Admiráveis, lançado postumamente.
Na literatura, ocupou a cadeira nº 23 da Academia Cearense de Letras (ACL), tendo como patrono seu pai. Também é patrona da cadeira nº 1 da Academia Nacional de Letras e Artes, no Rio de Janeiro.
Avenida Oliveira Paiva
Oliveira Paiva foi escritor, poeta e funcionário público.
Davi Rocha/SVM
A avenida Manuel de Oliveira Paiva, que atravessa os bairros Cidade dos Funcionários, Parque Manibura e Cambeba, homenageia um dos nomes mais importantes da literatura cearense. Nascido em Fortaleza, em 12 de julho de 1861, Oliveira Paiva foi escritor, poeta e funcionário público.
Estudou no Seminário do Crato e na Escola Militar do Rio de Janeiro, instituição que precisou deixar em 1883 por problemas de saúde, devido a uma doença pulmonar. De volta a Fortaleza, integrou o grupo do jornal Libertador, de orientação abolicionista, onde publicou o romance A Afilhada (1889), em formato de folhetim. Também escreveu contos realistas e poemas engajados no Libertador e no periódico A Quinzena.
Junto a intelectuais como João Lopes e Justiniano de Serpa, foi um dos fundadores do Clube Literário. Sua obra-prima, “Dona Guidinha do Poço”, escrita em 1892, é considerada um dos maiores romances do Naturalismo brasileiro.
Além da produção literária, atuou como secretário de Governo e 1º oficial da Secretaria do Governo do Ceará. Oliveira Paiva é o patrono da cadeira nº 25 da Academia Cearense de Letras e da cadeira nº 13 da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro.
Rua Manuel Jacaré
Rua Manuel Jacaré homenageia o jangadeiro Manuel Olímpio Meira.
Davi Rocha/SVM
Localizada no bairro Mucuripe, a rua Manuel Jacaré homenageia Manuel Olímpio Meira, o jangadeiro que entrou para a história ao liderar, em 1941, uma jornada em defesa dos direitos dos pescadores. Ao lado de outros três companheiros, ele percorreu cerca de 2.500 km em uma jangada, do litoral do Ceará até o Rio de Janeiro, com o objetivo de entregar pessoalmente ao então presidente Getúlio Vargas as reivindicações da categoria.
A travessia durou 61 dias e foi realizada em condições extremamente precárias — sem cartas náuticas, bússolas ou equipamentos de segurança, enfrentando tempestades e até a ameaça de tubarões. A coragem e o simbolismo do ato chamaram atenção nacional e internacional.
Em 1942, o cineasta norte-americano Orson Welles veio ao Brasil para filmar a história dos jangadeiros, tornando o feito ainda mais conhecido fora do país.
Avenida Senador Virgílio Távora
Avenida Senador Virgílio Távora atravessa os bairros Meireles, Aldeota e Dionísio Torres.
Davi Rocha/SVM
Você provavelmente já viu o nome Virgílio Távora em várias vias de Fortaleza, como a avenida Senador Virgílio Távora (que atravessa os bairros Meireles, Aldeota e Dionísio Torres), além de ruas com seu nome em Messejana, Barra do Ceará e no Conjunto Ceará.
Militar e político cearense, Virgílio Távora (1919–1988) foi coronel do Exército, deputado federal, ministro, senador e governador do Ceará em dois mandatos. Atuou na oposição ao governo JK e teve papel importante na construção de Brasília, como membro da Novacap.
Rua Torres Câmara
A rua Torres Câmara homenageia José Eduardo Torres Câmara.
Davi Rocha/SVM
A rua Torres Câmara, localizada no bairro Aldeota, homenageia José Eduardo Torres Câmara, nascido em Fortaleza em 13 de agosto de 1867. Bacharel em Direito pela Faculdade de São Paulo (1891), ele atuou como juiz e promotor de Justiça em São Paulo, antes de se mudar para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Instituto dos Advogados.
Em 1907, retornou a Fortaleza e assumiu o cargo de juiz. Já em 1916, foi nomeado chefe de polícia durante o governo de João Tomé. Foi responsável pela reestruturação da polícia da capital, implementando novos serviços e equipamentos, como o gabinete de identificação civil e criminal, e criando uma polícia mais voltada para métodos persuasivos, em vez do uso da força. Também desenvolveu uma política de moralização dos costumes da cidade, fechando um cassino clandestino no Cine Theatro Magestic Palace.
Confira todas as ruas:
Veja mapa das ruas nomeadas em homenagem a fortalezenses.
Louise Dutra/SVM
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