Deputado discursa com bebê reborn e bíblia na mão: “Não é pecado”

Pastor leu a bíblia durante discursoReprodução

Durante sessão no plenário da Câmara dos Deputados, realizada na terça-feira (20), o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) levou um bebê reborn ao púlpito e utilizou a boneca para defender o uso do item por adultos.

Com uma bíblia na mão, o parlamentar afirmou que a prática “não é pecado”, desde que não interfira em serviços públicos ou religiosos.

“Se alguém cria um bebê reborn, compra roupinha, dá mamadeira, faz chá de fralda, faz gastos com esses bonecos de silicone, sem querer importunar o SUS, padres e pastores, para inclusive ter que abençoar seus objetos de silicone, que tenham e brinquem com seus bonecos, não é pecado”, declarou durante o discurso.

Com a boneca no colo, o deputado também fez menção à situação de crianças em situação de vulnerabilidade social.

“Não devemos é esquecer das nossas crianças de carne e osso, que têm espírito e alma, e na maioria das vezes estão abandonadas”, disse.

Ao encerrar a fala, o parlamentar ainda comentou a presença da boneca em tom descontraído. Roupas, bolsa e mamadeira da boneca estavam dispostos sobre a tribuna.

“Inclusive, a minha neta está querendo ser agora deputada federal, por falar nisso, parece que fez ‘pipi’ aqui”, encerrou.

Polêmica

O uso de bebês reborn tem gerado debate nas redes sociais desde maio de 2025. Vídeos que mostram adultos cuidando das bonecas como se fossem crianças reais passaram a circular em plataformas como TikTok, Instagram e X. Os registros incluem simulações de rotinas de cuidado, passeios e até simulações de parto.

A repercussão incluiu relatos não confirmados de tentativas de atendimento médico em unidades do SUS, uso de filas preferenciais e assentos reservados em transportes públicos, além de um caso judicial em Goiânia, no qual um casal disputava a guarda de uma boneca reborn e a gestão de seu perfil monetizado em rede social.

O que são bebês reborn

Bebês reborn são bonecas produzidas artesanalmente com características que simulam recém-nascidos, como textura da pele, peso corporal, cabelos implantados fio a fio e olhos de vidro.

Algumas incluem dispositivos que imitam batimentos cardíacos ou funções corporais. Fabricadas em silicone ou vinil, os preços variam entre R$ 750 e R$ 9,5 mil, dependendo do nível de personalização.

São usadas como itens de colecionismo, expressão artística ou como instrumento terapêutico em casos de luto gestacional ou traumas emocionais.

Propostas no Congresso

Bebês reborn se tornou febre entre colecionadoresReprodução/PupilasReborn

A repercussão da prática resultou na apresentação de quatro projetos de lei na Câmara dos Deputados entre os dias 15 e 16 de maio de 2025. As propostas tratam de diferentes aspectos relacionados ao uso de bebês reborn.

O PL 2326/2025, de autoria do deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), propõe a proibição do atendimento a bebês reborn em unidades de saúde públicas e privadas, incluindo o SUS.

O texto prevê advertência, suspensão ou demissão para profissionais que descumprirem a norma. Instituições privadas estariam sujeitas a multa de até R$ 50 mil ou descredenciamento do SUS.

Outro projeto, o PL 2320/2025, apresentado pelo deputado Zacharias Calil (União-GO), propõe multa de 5 a 20 salários mínimos — de R$ 7.590 a R$ 30.360 — para quem tentar obter benefícios destinados a pais de crianças reais com o uso de bebês reborn. Os valores arrecadados seriam destinados a fundos para a primeira infância.

A deputada Rosângela Moro (União-SP) propôs a criação de diretrizes para acolhimento psicossocial de pessoas que apresentem vínculos afetivos intensos com as bonecas.

O atendimento seria feito pela Rede de Atenção Psicossocial do SUS e incluiria identificação e acompanhamento de casos de sofrimento emocional, como luto ou isolamento, sem criminalizar o uso das bonecas.

Um quarto projeto, também do Partido Liberal, foi apresentado, mas os detalhes não foram especificados nos documentos disponíveis. A proposta também trata da restrição de benefícios indevidos relacionados ao uso dos bebês reborn.

Todas as proposições estão em fase inicial e aguardam análise pelas comissões da Câmara. Caso aprovadas, seguirão para o Senado e, posteriormente, para sanção presidencial.

Dados do mercado

A comercialização de bebês reborn tem registrado crescimento. Ateliês especializados relatam aumento nas vendas, e feiras voltadas a colecionadores movimentam o setor.

Segundo dados do setor, o comércio de acessórios, como carrinhos e roupas para as bonecas, teve crescimento de 20% em 2024.

Bookmark the permalink.