Bolo envenenado: relembre o caso que chocou o RS e o Brasil

O bolo com arsênio foi analisado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP)Sofia Villela/IGP

O caso bolo envenenado, servido na véspera de Natal do ano passado em uma confraternização familiar em Torres (RS), ganhou repercussão nacional depois que três pessoas morreram por consumirem o doce. A principal suspeita do crime, Deise Moura do Anjos, foi presa durante as investigações, mas foi encontrada morta na cela antes da conclusão da Polícia Civil.

A investigação apontou para um histórico de brigas familiares como motivação do crime. Após o caso, a polícia descobriu que o sogro de Deise também havia sido envenenado por ela. Confira a cronologia do caso e a atuação técnica do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul.

Mortes na confraternização de Natal

Caso do bolo envenenado ocorreu em Torres, no Rio Grande do SulReprodução

Zeli dos Anjos, sogra de Deise, revelou que decidiu preparar a receita do bolo no mesmo dia do crime, uma tradição que mantinha há mais de 40 anos na família. O encontro reuniu sete pessoas, mas apenas João, marido de uma das vítimas, não consumiu o doce. 

As irmãs de Zeli, Maida e Neuza, e sua sobrinha Tatiana comeram o bolo — que depois a perícia descobriu estar envenenado com arsênio — e morreram. Zeli também consumiu o doce, mas sobreviveu após passar 19 dias internada. Outras duas pessoas que comeram o bolo também sobreviveram.

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS), que investigou o caso, concluiu que Deise premeditou o crime, e misturou arsênio à farinha que seria usada na preparação do bolo.

Durante as investigações, os agentes recuperaram o histórico de buscas de Deise na internet, onde ela pesquisou sobre substâncias tóxicas, incluindo “veneno para o coração” e “veneno para matar humanos”. 

Prisão de Deise

A nora da mulher que preparou o bolo foi presa em 5 de janeiro. A prisão foi decretada por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e três tentativas de homicídio duplamente qualificado. 

Na época, o delegado do caso, Marcos Vinicius Veloso, contou ao iG que foram coletados 20 depoimentos no inquérito e produzidas algumas provas, a partir de coleta de dados de telefones celulares.

Morte do sogro e do próprio pai

Após a prisão de Deise, a polícia começou a suspeitar da morte do seu sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que havia morrido por infecção intestinal após consumir produtos levados pela nora quatro meses antes, em setembro.

O Instituto-Geral de Perícias (IGP) exumou o corpo do homem, em 8 de janeiro, e constatou que ele também havia ingerido arsênio. Segundo o instituto, foram analisados conteúdo estomacal, sangue e urina, e as amostras “apresentavam níveis muito altos de arsênio, sendo incompatíveis com alguma contaminação ambiental.”

Em 2020, o pai de Deise, José Lori da Silveira Moura, morreu supostamente de cirrose, mas a polícia suspeita de que a filha o tenha envenenado gradualmente com pequenas doses de arsênio ao longo do tempo. Essa parte da investigação não foi confirmada.

Brigas familiares

Para a polícia, Deise possuía ressentimentos em relação a alguns familiares, como uma dívida de R$ 600 e o fato de uma prima ter se casado antes dela em uma igreja que ela almejava.

Ela teria comprado o veneno e recebido pelos Correios. Deise seria uma pessoa calculista que demonstrou uma frieza assustadora durante os interrogatórios.

Existiu também a suspeita de que a mulher tentou envenenar a sogra quando ela estava no hospital, se recuperando do envenenamento pelo bolo. A hipótese foi descartada pelo IGP.

Morte da suspeita

Deise teria se matado em sua cela, na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba (RS)Reprodução

Deise foi encontrada enforcada em sua cela em 13 de fevereiro. Segundo a delegada Karoline Calegari, que confirmou a informação ao Portal iG, ela ainda estava viva quando agentes penitenciários iniciaram os primeiros socorros, mas não resistiu. Antes do ocorrido, há indícios de que a suspeita tenha entregado sua aliança, possivelmente após o marido pedir o divórcio.

Deise escreveu um recado antes de ser encontrada desacordada dentro da cadeia. 

“Ela deixou um escrito, que nós estamos apurando ainda detalhes, no local. Tipo um desabafo, se dizendo inocente, dizendo que era uma pessoa que estava em sofrimento, em depressão”, afirmou o delegado Fernando Sodré.

Conclusão do inquérito

No final de fevereiro, a polícia afirmou que reuniu provas suficientes para apontar Deise como a responsável pelas quatro mortes. O delegado Heraldo Guerreiro, subchefe da Polícia Civil, afirmou que não há dúvidas sobre a autoria do crime, apesar de Deise ter deixado um bilhete negando ser uma assassina.

A pena, caso ela fosse condenada, poderia ultrapassar 100 anos de prisão. O caso foi dado como encerrado com a identificação da autora, mesmo sem a possibilidade de punição legal.  O artigo 17 do Código Penal impossibilita a punibilidade de uma pessoa falecida.

A polícia destacou que a investigação foi complexa, uma vez que Deise não estava presente na cena do crime e não preparou o bolo envenenado.

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