Com taxa básica de juros em alta, brasileiros recorrem a penhor para conseguir empréstimos


O ouro é um investimento seguro: escasso, durável e universalmente valorizado — especialmente em tempos de turbulência. Com alta taxa de juros, brasileiros recorrem ao penhor.
Reprodução/Jornal Nacional
Com a taxa básica de juros no maior patamar em quase duas décadas, brasileiros estão recorrendo a uma prática milenar para conseguir empréstimos.
As joias de família atravessaram muitas crises econômicas com a Núria.
“É uma maneira de você continuar com o seu bem e conseguir o dinheiro na hora e não ter que pagar os juros altos de um empréstimo bancário. E com os juros do penhor, mesmo tendo um ‘jurinho’ todo mês, a gente sabe que vai conseguir dar conta desse pagamento. E as minhas joias estão lá”, conta Núria Paez Borras, aposentada.
Esse conselho vale para o “tesouro” da aposentada. Vale também para a tesouraria dos bancos. E para as reservas dos governos.
O ouro é um investimento seguro: escasso, durável e universalmente valorizado — especialmente em tempos de turbulência.
O preço internacional, negociado na Bolsa Mercantil de Nova York, disparou nos últimos meses. De um ano para cá, a alta é de mais de 40%.
No Brasil, também subiu a busca pelos contratos de penhor — a operação em que você pega dinheiro emprestado a uma taxa média de 2,97% ao mês, com as joias como garantia.
Os dados são da Caixa Econômica Federal, a única instituição autorizada a fazer esse tipo de empréstimo no Brasil.
“Em 2023 a gente contratou alguma coisa próxima de R$ 15 bilhões. Em 2024, esse número subiu para um pouco mais de R$ 17 bilhões. E nesse ano agora, até abril, a gente já está com mais de R$ 6 bilhões. A gente vem crescendo a dois dígitos e vamos continuar crescendo nessa direção”, detalha Luiz Francisco Monteiro de Barros, diretor de Produtos de Varejo da Caixa.
O penhor é a mais antiga modalidade de crédito da história da economia.
E se agora voltou “à moda”, foi por razões bem atuais: a instabilidade do cenário externo — com guerras e a política comercial americana — levou investidores a buscar segurança, o que valorizou o ouro e, por consequência, as joias de penhor.
Além disso, no Brasil, o nível de endividamento e das taxas de juros têm levado as famílias a buscar formas mais baratas de conseguir dinheiro.
É o caso da Sandra.
“Eu estou fazendo uma reforminha em casa, porque você sabe que casa sempre tem que estar reformando. Aí eu precisava inteirar o dinheiro para comprar algumas coisas para o material de construção”, explica a aposentada Sandra Lima Coelho.
O professor de economia do Insper, Ricardo Rocha, confirma que é uma boa saída.
“É um escape para quem precisa de uma quantia pequena e não tem, às vezes, renda para tomar. Ou já está com seu limite de crédito totalmente tomado, né? Ou até inadimplente. Pode estar até negativado, mas ele dá a garantia”, afirma.
“Um empréstimo, sem precisar perguntar se você está com o nome limpo ou não”, comenta Sandra.
O risco, claro, é o bem ir para leilão. Foi por isso que Sandra voltou à agência para prorrogar o prazo por mais 60 dias.
“Tô vindo aqui pra não perder.”
O prazo do penhor pode ser renovado várias vezes, desde que o cliente pague periodicamente os juros.
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