Promotor que atuou em negociações durante rebelião no AC sofre ataques homofóbicos de policial penal


Promotor Tales Tranin participou das negociações com os presos durante rebelião no Presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro, entre quarta (26) e quinta (27). MP-AC divulgou uma nota de solidariedade ao promotor e pediu que o policial penal seja punico pelos ataques. Promotor Tales Tranin participou das negociações com os presos durante rebelião em Rio Branco
Arquivo pessoal
O promotor de Justiça dos Direitos Humanos do Ministério Público do Acre (MP-AC), Tales Tranin, sofreu ataques homofóbicos nas rede sociais após sua participação nas negociações com os presos que se rebelaram no Presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro, na última quarta-feira (26). Um policial penal chamou o promotor de “afeminado” e criticou sua participação na mediação do conflito.
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A rebelião na unidade de segurança máxima Antônio Amaro começou na quarta e terminou apenas na quinta (27) após mais de 24 horas de negociação com os presos que mantinham um policial penal refém. Cinco presos, que seriam de uma facção rival aos rebelados, foram mortos no conflito.
Um policial penal foi atingido ainda com um tiro de raspão no olho e um preso levou um tiro no braço. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp) iniciou uma investigação para descobrir todas as causas da situação. A pasta trata o caso como uma tentativa de fuga no presídio.
A participação do promotor Tales Tranin nas negociações teria sido solicitada pelos próprios detentos. Em uma postagem de um site local, que falou sobre a atuação do membro do MP-AC, um policial penal fez comentários homofóbicos e de ameaças de morte.
“Esse promotor afeminado tem de ser devolvido em um pacote na sede do MP. Porque o Acre merece um promotor sério e comprometido com o combate à criminalidade. Não se pode tratar como iguais quem afronta as leis, tenta matar operador de segurança e vem liderando o crime, as fações, usando como escudo e proteção do Estado”, diz parte dos ataques do servidor público.
Após a publicação do policial, o MP-AC divulgou uma nota de solidariedade ao promotor e disse que vai tomar as medidas necessárias para que o caso seja apurado.
“O MP acreano é reconhecido por sua firme atuação contra o preconceito e todas as formas de discriminação, e defende de forma intransigente que todas as pessoas sejam respeitadas, independentemente de sua orientação sexual. Por fim, informamos que adotaremos todas providências cabíveis para que o policial penal seja investigado e punido”, destaca.
Procurado pela reportagem, o membro do MP-AC preferiu não se posicionar sobre a situação. “Acho melhor não. A nota do MP já é bem completa”, resumiu.
Policial penal fez comentários homofóbicos e de morte contra o promotor Tales Tranin
Reprodução
Rebelião
Dois inquéritos foram abertos pela Polícia Civil para investigar como foi a dinâmica da rebelião dentro do presídio de Segurança Máxima. Os presos renderam um detento e um policial penal e conseguiram tomar o presídio em um ato que durou de quarta (26) até quinta-feira (27). Dos cinco mortos, três foram decapitados.
Há duas possibilidades de motivação: a que a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) divulgar oficialmente é de uma tentativa de fuga de 13 presos, que foram contidos e, por conta disso, teria mantido reféns para garantir as negociações.
Há também uma versão de que a facção criminosa que orquestrou a rebelião queria apenas entrar no pavilhão da grupo criminoso rival e matar os integrantes para demonstrar poder na guerra por territórios.
Rebelião em presídio de segurança máxima no AC já durou mais de 24 horas
Reprodução/Rede Amazônica Acre
O presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro Alves existe há 15 anos e tem, ao todo, 99 presos, segundo o Instituto de Administração Penitenciária do Estado do Acre (Iapen-AC). Os tipos de presos são aqueles que exercem poder de chefia nos grupos criminosos que fazem parte. Os grupos criminosos são separados por pavilhões.
Toda a dinâmica e motivação devem ser esclarecidas nos inquéritos abertos pela Polícia Civil. O primeiro vai ser conduzido pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP) e o outro conduzido pelo Departamento Técnico-Científico, onde será possível traçar como iniciou a rebelião dentro da unidade.
Os inquéritos têm 30 dias para serem concluídos.
Nota de solidariedade do MP-AC
O Ministério Público do Estado do Acre vem a público manifestar solidariedade ao promotor de Justiça Tales Tranin, titular da 4ª Promotoria de Justiça Criminal da Comarca de Rio Branco, e repúdio aos ataques homofóbicos feitos por um policial penal nas redes sociais contra o membro do MPAC.
Durante dois dias, o promotor de Justiça acompanhou as negociações no Presídio Antônio Amaro Alves, que resultaram no fim do motim iniciado na última quarta-feira, 26 de julho.
Em uma postagem de um site local que noticia a atuação do promotor de Justiça no caso, o agente da segurança pública faz comentário com ameaças de morte e xingamentos contra o membro do MPAC.
O MP acreano é reconhecido por sua firme atuação contra o preconceito e todas as formas de discriminação, e defende de forma intransigente que todas as pessoas sejam respeitadas, independentemente de sua orientação sexual.
Por fim, informamos que adotaremos todas providências cabíveis para que o policial penal seja investigado e punido.
Danilo Lovisaro do Nascimento Procurador-Geral de Justiça
Rio Branco-Ac, 28 de julho de 2023
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