Sem registro há mais de uma década, pesquisadores encontram morcego-pescador em Viçosa


Das sete espécies de morcegos que arrastam as patas sobre a água para se alimentar, três delas são encontradas no Brasil. A maior espécie com esse hábito, com aproximadamente 50 cm, e a única que se alimenta frequentemente de peixes é a que foi registrada na cidade mineira. Morcego-pescador
Deborah Gonçalves/Divulgação
Após 16 anos sem registro, o morcego-pescador Noctilio leporinus foi avistado no mês de agosto na reserva da Mata do Paraíso, em Viçosa, na Zona da Mata mineira.
O morcego-pescador captura pequenos peixes através das garras longas dos pés em formato de anzol, o que o torna um pescador altamente eficiente. Sua coloração dorsal é marrom-avermelhada, enquanto o ventre é mais claro, geralmente em tons de amarelo ou laranja.
Das sete espécies de morcegos que arrastam as patas sobre a água para se alimentar, três delas são encontradas no Brasil. A maior espécie com esse hábito, com aproximadamente 50 cm, e a única que se alimenta frequentemente de peixes é a que foi registrada na cidade mineira.
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Projeto de pesquisa realiza captura
Morcego-pescador “Noctilio leporinus”
Foto: Deborah Gonçalves
A captura ocorreu durante atividade de campo relacionada à pesquisa de mestrado de Deborah Cardoso Gonçalves, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, orientada pelo professor Guilherme Garbino.
O local, composto por Mata Atlântica, é administrado pelo Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e é constantemente utilizado para pesquisas científicas.
Intitulado “Comunidade de morcegos (Chiroptera) em duas áreas de Mata Atlântica inseridas em paisagens com diferentes graus de fragmentação”, o projeto tem como objetivo a captura, identificação, medição, análise reprodutiva e avaliação da dieta dos morcegos no Parque Estadual Serra do Brigadeiro e na Mata do Paraíso, visando a conservação da biodiversidade.
A mestranda trabalha com morcegos desde 2020, realizando coletas recorrentes na mata. Ela e outros pesquisadores já tinham até perdido as esperanças de encontrar a espécie na Mata do Paraíso.
Segundo a mestranda, a primeira vez viu o animal na natureza foi durante o 11° Congresso Brasileiro de Mastozoologia, realizado em Fortaleza em 2022, onde teve a oportunidade de observar um Noctilio caçando na encosta do mar.
Desde então, ela desejava encontrar o animal novamente, especialmente na Mata do Paraíso, pois havia apenas um registro anterior dessa espécie na área, datado de 2008.
“Quando a Thaís Alves, outra mestranda do Laboratório de Mastozoologia, trouxe o animal para que eu pudesse aferir as medidas, mal pude acreditar que era realmente um Noctilio. Todos da equipe ficaram animados e felizes por ter a chance de ver esse incrível animal de tão perto”, relata Deborah.
Deborah Gonçalves segura o animal capturado
Foto: Deborah Gonçalves
A estudante Deborah Gonçalves contou, ainda, que o morcego foi capturado utilizando rede de neblina, uma rede de malha fina que pesquisadores de aves e de morcegos usam para capturar esses animais.
“A captura ocorreu próximo a uma represa na Mata do Paraíso, com o apoio de alunos do Laboratório de Mastozoologia, vinculado ao Departamento de Biologia Animal. O morcego, um macho adulto, foi pesado e teve as medidas de orelha, pé, antebraço, cauda e calcâneo aferidas”, acrescenta.
Novos estudos serão conduzidos para aprofundar o conhecimento sobre o morcego-pescador e outras espécies de morcegos presentes na região.
Papel ecológico dos morcegos
Os morcegos desempenham importantes papéis ecológicos, como a dispersão de sementes, o controle de pragas e a polinização, essenciais para a manutenção e regeneração das florestas. Isso é relevante na Mata Atlântica, pois se trata de um hotspot de biodiversidade, que está em risco de extinção.
“Áreas de reserva, como a Mata do Paraíso, são fundamentais para conservar a biodiversidade e equilibrar os ecossistemas, protegendo espécies ameaçadas e preservando a diversidade genética. Além disso, essas reservas salvaguardam habitats naturais, como os ocos de árvores que abrigam os morcegos-pescadores, reduzem a fragmentação e oferecem oportunidades para pesquisa e educação ambiental”, explica Deborah.
A preservação dessas áreas também contribui para a proteção das florestas e a mitigação das mudanças climáticas, que afetam diretamente os habitats dos morcegos.
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