Oito mil famílias foram afetadas por conflitos de terra no Acre em 2022, diz levantamento


Comissão Pastoral da Terra lançou caderno com dados preocupantes do estado. Além dos conflitos, também foram registrados dois casos de trabalho escravo. Comissão Pastoral da Terra lançou publicação que reúne dados de conflitos no campo em 2022
Reprodução/Rede Amazônica Acre
A Comissão Pastoral da Terra, Regional Acre, lançou nesta terça-feira (5) a publicação anual com os dados de conflitos no campo no estado. O Caderno de Conflitos no Campo do Brasil 2022 revelou dados alarmantes dos conflitos de terras na região da Amazônia Legal. Maria Luciene é seringueira, e vive na comunidade São Bernardo, na região do Riozinho do Rola há 45 anos, e conta que por lá existem muitos conflitos.
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“Olha, quando nós chegamos lá, era de um fazendeiro, e esse fazendeiro repassou para um outro fazendeiro. Quando esse outro fazendeiro pegou, o conflito de terra não parou mais. Aí, é direto, ele ameaça a gente, ameaça dar despejo, como deu da minha mãe, aí fomos atrás na justiça, e a justiça tá ajudando a gente até hoje. Já ganhamos duas instâncias em juízo, mesmo assim, ele continua nos perturbando”, relata.
Comunidades rurais do Acre e do sul do Amazonas, autoridades e professores da Universidade Federal do Acre prestigiaram o lançamento do caderno. A análise foi feita pelo centro de documentação Dom Tomás Balduino.
Em todo o país, foram registrados 1572 ocorrências de conflitos por terra, um aumento de 16,70% em relação ao mesmo período do ano passado. Só no Acre foram registrados 60 conflitos. A agente pastoral Sara Braga destaca que cerca de oito mil famílias foram afetadas por esses conflitos.
“O caderno é construído por agentes pastorais, e hoje, ele é um dos nossos maiores instrumentos de denúncia. No Acre, foram contabilizados 60 conflitos de terra, afetando pouco mais de oito mil famílias. Então, é muita gente, é muita família sofrendo esses conflitos, essas ameaças, essas torturas. A gente atribui muito a questões políticas, a gente acredita que as questões políticas fizeram com que a gente chegasse, estamos colhendo consequências dos últimos quatro anos. Aumentaram o número de queimadas, números de desmatamento, número de ameaças, extorsões, torturas físicas e psicológicas”, avalia.
Os municípios com maiores índices de conflitos são Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Manoel Urbano, Acrelândia e Boca do Acre. Além dos conflitos de terra, o Acre registrou dois casos de trabalho escravo envolvendo 49 pessoas, nos municípios de Manoel Urbano e Rio Branco.
“Em pleno 2022, a gente ainda presencia trabalho escravo no nosso país, e no Acre foram dois casos, totalizando 49 pessoas. Esses casos foram aqui em Rio Branco, capital, e Manoel Urbano”, acrescenta.
Pastoral da Terra lança publicação com dados de conflitos no campo no Acre

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