Após 15 dias, famílias acampadas em frente à Aleac mantêm reivindicações: ‘queremos moradia, não três meses de aluguel’


Laiana Vasques, que era moradora da área de invasão Terra Prometida, relata que acampamento é desconfortável, mas que famílias têm sobrevivido. Governo diz que não há negociações para que o grupo deixe o local. Famílias estavam acampadas em quadra esportiva e se instalaram em frente à Aleac após a chuva que atingiu a capital acreana
Murilo Lima/Arquivo/Rede Amazônica Acre
Após 15 dias acampadas em frente à Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), as famílias que moravam na área de invasão Terra Prometida mantêm as reivindicações por moradia e terras. A área foi desapropriada no dia 15 de agosto, no bairro Irineu Serra, em Rio Branco, e mais de 100 casas foram demolidas no local.
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Laiana Vasques, que era moradora da Terra Prometida, relata que o acampamento é desconfortável, mas que as famílias têm sobrevivido. Foi montada uma cozinha e um banheiro improvisado, e a Aleac também permitiu que eles utilizassem os banheiros da casa até às 22h.
“Não é fácil, mas é questão de necessidade. Não temos para onde ir, não dormimos bem, passamos a noite, pois na madrugada muitos usuários de drogas e moradores de rua ficam cercando. Adaptar seria muito, mas estamos sobrevivendo. Montamos uma cozinha onde fazemos nossa alimentação, a própria comunidade que está nos ajudando. Usamos o banheiro da Assembleia até as 22h, que nos foi cedido, e improvisamos um banheiro lá no pátio para o banho”, relata.
Ainda segundo a moradora, eles ainda não receberam uma proposta satisfatória das autoridades que os procuraram. O governo oferece o cadastro no aluguel social, ou a concessão de 25 terrenos para parte das famílias, porém, o grupo acredita que o aluguel social não é uma solução definitiva, e a quantidade de terrenos é insuficiente, pois querem que todos sejam contemplados.
“Tudo que o governo tem para nós, é aluguel social ou 25 terrenos em uma área no Defesa Civil. Somos mais que 25 famílias, tivemos nossas casas derrubadas, perdemos tudo. Queremos moradia, e não três meses de aluguel social, que sabemos como funciona”, afirma.
Por meio de nota, o governo informou que o pagamento do primeiro lote do aluguel social das famílias cadastradas nas terras públicas do Irineu Serra já foi solicitado na última quarta-feira (6), e aguarda somente os trâmites legais para a liberação. Em relação às famílias que estão acampadas, o governo informou que não existe nenhum tipo de negociação para que deixem o local.
Segundo Laiana, 50 famílias estão instaladas no acampamento. Ela relata que algumas pessoas acham que o número de famílias acampadas diminuiu, mas explica que isso acontece porque muitas trabalham e as crianças estudam durante o dia.
“Alguns jornalistas falam em 30 pessoas, mas é porque vêm aqui, e fica pouca gente, pelo fato de que muitos trabalham, e as crianças vão para a escola. Mas de noite estão todos aqui de volta”, relata.
Grupo segue acampado há 15 dias em frente à Aleac, no Centro de Rio Branco
Arquivo pessoal
Reivindicação e plano do governo
Moradora relata que o local é desconfortável, mas as famílias não pretendem sair sem uma solução para todos
Arquivo pessoal
Conforme o governo, a área reintegrada deve ser usada, futuramente, para construção de casas populares com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida. A obra será executada pela Secretaria de Estado de Habitação e Urbanismo (Sehurb), segundo o site oficial do governo.
A primeira etapa, prevista para começar no final do ano, é planejada para construção de 234 apartamentos de 40 metros quadrados. No total, o governo diz que vai construir 1,2 mil apartamentos na localidade.
Ariadne Lemos, diretora Operacional da Sehurb, conta: “Na primeira etapa será realizada a construção de 234 apartamentos de 40 metros quadrados. Porém, no momento, estamos voltados para a fase de demolição e limpeza da área, seguida de um cercamento imediato”, consta no site oficial do governo.
Os moradores que ocupavam a Terra Prometida protestaram durante o desfile cívico-militar na última quinta-feira (7). Com cartazes e apitos, eles reivindicavam moradia após uma ação de reintegração de posse, em agosto deste ano. Os manifestantes se dirigiram ao governador Gladson Cameli, que chegou a tentar conversar com o grupo, mas mudou de ideia.
“Meu papel constitucional eu irei fazer: pagar o auxílio-moradia, de eu ser fiador inclusive para quem fosse alugar a casa, colocar eles no plano de habitação e pronto”, falou Cameli.
Enquanto uma solução satisfatória não é apresentada, Laiana diz que o grupo acompanha as sessões na Aleac todos os dias para que os parlamentares lembrem deles e de suas necessidades.
“O governador tem muitas terras. Ele deveria nos dar uma para podermos construir nossas casas novamente e vivermos nossas vidas. A gente só pede uma terra, só isso. Aqui [no acampamento] está muito difícil para nós. Mas não temos para onde ir. Ontem uma mulher passou mal aqui foi levada de ambulância para o pronto-socorro e tudo. Nós oramos todo dia para Deus amolecer o coração do governador e nos dar uma solução”, finaliza.
Moradores acompanham sessões da Aleac diariamente para serem lembrados pelos parlamentares
Arquivo pessoal
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