Transplante de órgãos: conheça a história dos pacientes do AC que receberam fígados de doadores de Palmas e Goiânia


Laude do Nascimento, de 41 anos, recebeu o órgão do doador de Palmas e Josuel Cruz da Silva, de 35 anos, de Goiânia. Eles se recuperam na UTI da Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) após as cirurgias no último fim de semana. Laude do Nascimento (esq.) e Josuel da Silva (dir.) passaram por transplante de fígado na Fundhacre
Arquivo pessoal
“Foi uma surpresa muito boa, ficamos surpresos quando o telefone tocou com a notícia. Foi um milagre porque tem gente que fica anos esperando”. O relato é de Rosilene Pereira de Souza, de 40 anos, esposa do taxista Laude Ferreira Do Nascimento, de 41, submetido a um transplante de fígado no último sábado (23) na Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), em Rio Branco.
O órgão veio de longe, da cidade de Palmas, no Tocantins, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e chegou nas primeiras horas de sábado na capital acreana, onde o taxista já estava na sala de cirurgia esperando para começar uma nova vida.
No último final de semana, as equipes da Fundhacre realizaram dois transplantes de fígado. O primeiro foi em Laude e o segundo em Josuel Cruz da Silva, de 35 anos, na manhã de domingo (24). Os dois pacientes sofriam de cirrose hepática por vírus da hepatite B e Delta (CH VHB) e entraram na fila de espera.
Conforme dados do Ministério da Saúde, mais de 40,5 mil estão na fila de espera de transplantes. Os dados são atualizados diariamente na plataforma do Governo Federal.
Atualmente, o Acre é habilitado a fazer apenas transplante de fígado. Segundo a coordenação de Transplantes Estadual da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), há 16 pessoas na fila de espera por um órgão. Outras 14 já passaram pelo procedimento este ano. Entenda mais abaixo.
A reportagem conversou com as esposas dos transplantados para coletar os relatos, já que os pacientes seguem se recuperando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Fundhacre.
Equipes da Fundação Hospitalar do Acre fizeram os procedimentos entre sábado (23) e domingo (24)
Arquivo/Fundhacre
Internação
O taxista Laude do Nascimento segue na UTI da Fundhacre se recuperando do procedimento. Morador de Boca do Acre, no Amazonas, ele descobriu que tinha hepatite em 2018 e começou a fazer o tratamento. Com o início da pandemia, Laude parou de ir ao médico e fazer o acompanhamento.
Em julho deste ano, ele passou mal e veio para a capital acreana fazer exames e descobriu que o quadro clínico tinha evoluído para cirrose hepática. O taxista ficou internado na unidade de saúde cerca de 20 dias e foi inserido na fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Ele bebia bastante há uns oito anos e também perdeu um irmão para essa doença. Fez o tratamento antes da pandemia, mas abandonou e voltou a ficar ruim. Retornamos no médico e já encaminharam a gente imediatamente para voltar a fazer o tratamento”, relembrou Rosilene.
Laude do Nascimento tirou uma foto sorrindo antes da cirurgia no último domingo (24)
Arquivo pessoal
Nos últimos meses, Rosilene conta que o marido ficou muito debilitado, deixou de trabalhar e perdeu peso. “Perdeu muito peso, ficou com uns 55 quilos, deixou de trabalhar por conta da doença e tivemos que ficar aqui na casa da minha mãe porque ficou muito fragilizado, muito magrinho. Ele sofria muito, casa dia que passava ficava mais debilitado”, confirmou.
A mulher relembrou que, em uma das internações, os médicos chegaram a retirar 5 litros de água da barriga do marido. “Ele tem muita fé, foi uma surpresa muito boa, a gente achava que ia demorar mais. Nunca foi para UTI, mas ficou com a barriga muito grande, chegou a ficar internado”, resumiu.
No dia do transplante, Rosilene tirou uma foto do marido no leito da Fundhacre à espera da equipe médica que iria levá-lo para a sala de cirurgia. Com um sorriso enorme no rosto, Laude celebrou o momento.
“Ele estava muito confiante, agradecido, louvando a Deus direto e clamando para que desse tudo certo, e deu. O que aconteceu ali, meu marido é milagre de Deus”, celebrou.
Em estado grave
O trabalhador rural Josuel Cruz da Silva, de 35 anos, chegou em Rio Branco no dia 29 de agosto com o quadro de saúde grave. Ele mora em Jaci Paraná, distrito de Porto Velho, em Rondônia, e luta contra a cirrose hepática desde 2019.
Ele estava trabalhando quando passou mal, vomitou sangue e desmaiou. Levado às pressas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da localidade, descobriu após exames que estava com hepatite B. Josuel foi para a capital rondoniense e começou o tratamento no Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron).
Desde então, a vida do trabalhador mudou. Ele chegou a ficar 12 dias na UTI antes de fazer o transplante e as previsões médicas não eram nada boas. “Passava 15 dias em casa, outros 12 dias na UTI e foi se agravando cada vez mais”, contou Roseana Cardoso dos Santos, mulher de Josuel.
Josuel da Silva e a mulher Roseana dos Santos vieram para Rio Branco em agosto
Arquivo pessoal
Em agosto deste ano, quando retornou ao médico em Porto Velho, o trabalhador descobriu que estava com cirrose hepática e precisava vir para a capital acreana fazer o tratamento. Sem voo direto para Rio Branco, Josuel e Roseana foram para São Paulo, depois Brasília e finalmente Rio Branco.
“A agência não queria ficar responsável por ele, podia morrer lá em cima. Pedi até pelo amor de Deus para trazerem ele, que a situação era grave, comecei a orar e deu certo. Ele se internou dia 30, tiraram água da barriga dele na fundação e depois de três dias tiraram mais água dele. Ao todo, tiraram 18 litros de água”, destacou.
Josuel já estava na fila de transplante. Foi do leito do hospital que ele e a mulher clamaram por um milagre. No sábado, os profissionais da Fundhacre receberam uma notificação de uma doação de fígado de um paciente de Goiânia. A equipe foi para a cidade goiana em um voo comercial, o órgão foi captado na madrugada de domingo (24) e chegou em Rio Branco pela manhã também em um voo da FAB.
“Foi um milagre mesmo. Quando soube, só fiz cair de joelhos e agradeci. É difícil, foi uma vida pela outra, mas agradeci a Deus por tudo que fez. Graças a Deus, vi ele depois da cirurgia, levaram ele para UTI e ontem [segunda-feira, 25] fui visitá-lo e ele de olho aberto, disse que não estava com dor. Parece que nem fez cirurgia. Hoje foi para o banheiro só, fez exercícios e está uma maravilha”, concluiu.
Habilitação
A coordenadora de Transplantes Estadual, Celiane Maria de Meireles explicou que a Sesacre está em processo de renovar a habilitação de transplante de fígado junto ao Ministério da Saúde. Atualmente, o Acre é habilitado para fazer transplante apenas de fígado.
A equipe acreana aguarda ainda a autorização para fazer transplante de rim em breve. “O pessoal está sendo atendido ambulatoriamente para começar a fazer a indicação de quem precisa ir para transplante. Todos os pacientes que fazem hemodiálise estão no pré-ambulatório, vão ser selecionado e, a medida que a gente for credenciado para fazer o transplante, começa a formar a fila”, ressaltou.
Outro credenciamento que está em processo de renovação é o de córnea. “Automaticamente, as pessoas vão para a fila de espera. Temos 16 pessoas na fila para fígado. A fila de espera não é oficial porque conta dessa habilitação. Há cada quatro anos as habilitações precisam ser renovadas. Todas as filas de transplantes foram zeradas na pandemia”, finalizou.
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