Mãe de vítima do acidente aéreo no AC diz que filho falou com ela antes de embarcar: ‘nós vamos estar em casa logo’


Francisco Alexsander Barbosa Bezerra tinha 29 anos, era vigilante de carro-forte no Amazonas e pai de uma menina de sete anos. Ele foi uma das 12 vítimas do acidente aéreo em Rio Branco no último dia 29 de outubro. Alexsander Barbosa, uma das vítimas do acidente aéreo no Acre, mandou mensagem para a mãe antes de embarcar no voo a Envira
Arquivo pessoal
“Eu sei que esse Deus que levou ele, vai ser esse Deus que vai me dar força e eu vou levar o que sobrou dele pra casa”.
É assim que a dona Nazaré Barbosa, mãe de Francisco Alexsander Barbosa Bezerra, de 29 anos, se sente ao perder o filho na tragédia aérea que matou 12 pessoas em Rio Branco no último domingo (29). Identificado pela arcada dentária, o corpo do jovem foi o terceiro a ser liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) nesta terça (31) e deve ser transladado para Eirunepé no dia seguinte.
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O voo que vitimou Alexsander e mais 11 pessoas era particular, da empresa ART Taxi Aéreo, e decolou de Rio Branco com destino a Envira, no Amazonas. A aeronave modelo Caravan tinha capacidade para até 14 pessoas e caiu por volta das 7h21 no horário local (9h21 em Brasília), logo após a decolagem. O percurso ainda incluía uma parada em Eirunepé (AM).
Emocionada, Nazaré conversou com a equipe da Rede Amazônica e falou da dor que está sentindo ao ter que lidar com a perda repentina do filho. Ela relembrou ainda da última conversa que teve com ele antes do embarque.
“Como mãe, é uma dor que parece que você não vai mais achar o chão na tua vida. Porque uma coisa é você falar com o seu filho às 5h da manhã e [ele] dizer ‘mãe, eu estou indo, te amo, beijo, nós vamos estar em casa logo logo para almoçar’. E outra coisa é você receber a notícia que, em pouco tempo [depois] teu filho já não está mais vivo e que ele não vai mais voltar. É uma dor que não vai ter nunca uma reconstituição. Ela sempre vai existir”, falou.
‘A gente quer uma resposta’
Alexsander foi militar por cinco anos e, segundo a mãe, sonhava em trabalhar em carro-forte. Por conta disso, foi para Manaus, fez cursos de capacitação e estava há três anos exercendo a profissão. O jovem deixa uma filha de sete anos.
“Para mim, é uma dor, mas uma dor que eu sei que o meu filho vai ser sempre um herói, vai ser sempre um guerreiro. Ele não gostava de tristeza. Para ele, tudo era bom. Ele não tinha tempo ruim e ainda dizia, ‘mãe, se eu morrer amanhã, vai ficar a história do Alexsander’. Eu dizia ‘meu filho, por que tu é assim?’ Ele dizia ‘porque eu sei que um dia nós vamos morrer, mas se disserem que o Alexsander morreu, todo mundo vai lembrar dele como ele era'”.
Alexsander Barbosa, morto no acidente aéreo no Acre, trabalhava como vigilante de carro-forte
Arquivo pessoal
Nazaré diz ainda que exige respostas para, ao menos, compreender o que aconteceu, bem como o que pode ter causado o acidente.
“Eu sei que esse Deus está me dando força hoje para ter chegado até aqui, para levar o que sobrou do meu filho pra casa para minha mãe, pros meus irmãos, para a filha dele. Esse Deus ele vai me guiar, como ele sempre me guiou. E não só em nome da gente, da minha família que está sofrendo, como as outras, a gente quer uma resposta, queremos saber o que aconteceu, porque a gente tem esse direito, eles têm esse direito de nos dizer se foi uma imprudência, se foi uma coisa que não tiveram cuidado com a vida do passageiro do ser humano que pagou para entrar naquele avião e que morreu”, complementou.
Nazaré Barbosa (de blusa cinza) está ao lado do filho Alexsander, de 28 anos; ele é uma das vítimas do acidente aéreo no Acre
Arquivo pessoal
Translado
Os corpos de Alexsander e do dentista Raimundo Nonato Melo, de 32 anos identificados e liberados nesta terça-feira, devem ser transladados somente na quarta (1º).
Raimundo Nonato Melo era dentista e deixa dois filhos
Arquivo pessoal
De acordo com o advogado da ART Táxi Aéreo, Thiago Abreu, houve atraso na emissão do Boletim de Ocorrência (B.O) por conta de problemas no sistema. Como há um limite no horário, o translado ocorrerá somente no dia seguinte. Ambos eram de Eirunepé, no Amazonas.
“E a gente tem um horário, a gente chama de deadline, um horário limite. Se, por exemplo, der 2h, 3h horas da tarde e ainda tiver nessa situação, fica complicado de cumprir tudo isso hoje. A nossa programação, [estamos] na nossa aeronáutica desde 10h da manhã só esperando isso [emissão do B.O]”, falou.
Primeiro identificado
Na noite de segunda-feira (30), o IML liberou o corpo do dentista Jamilo Motta Maciel, de 27 anos. A identificação dele foi possível pela arcada dentária. A vítima também era natural de Eirunepé, no Amazonas, e completaria 28 anos em 24 de dezembro.
Ainda segundo o advogado da empresa, o corpo do dentista deve ser transladado na quarta-feira (1º), a pedido da família.
Jamilo Motta Maciel, de 27 anos, foi o primeiro a ser liberado pelo IML
Arquivo pessoal
Ao g1, o diretor-geral do Departamento de Polícia Técnico-Científica, Mário Sandro Martins, havia informado que nas próximas 48 horas, outros sete corpos devem ser liberados também pela identificação da arcada dentária. Mas, enfatizou que todos devem passar também pelo exame de DNA.
Clara Maria Monteiro, a criança de um ano e sete meses que estava com a mãe, Ana Paula Melo, também já foi identificada, mas só deve ser liberada junto com o corpo da mãe.
“A questão do bebê foi até mais fácil, porque no local deu logo para verificar, individualizar pelo tamanho em si e tinha um bebê, mesmo pelo estado deu para verificar perfeitamente”, explicou.
Ana Paula Melo e a filha, Clara Maria, de um ano e sete meses, também foram vítimas do acidente aéreo no Acre
Reprodução
Na segunda-feira (30), os familiares de quatro das 12 vítimas que morreram na queda de uma aeronave chegaram na capital acreana. Eles foram recebidos por uma equipe da Secretaria de Saúde do estado (Sesacre). Bastante emocionados, eles não falaram com a imprensa. O diretor disse que alguns familiares das vítimas, que são de Eirunepé e Envira, no Amazonas, ainda estão chegando na capital acreana.
“Muitos não vão poder vir, devido às condições e estamos entrando em contato com eles para obter informações e também para obter as amostras biológicas deles para fazer o confronto de DNA, estamos entrando em contato com a área da saúde desses municípios para que eles possam então colher essas amostras e enviar para nós para que possamos fazer o processo de identificação.”
Na aeronave estavam seis homens, três mulheres e uma criança de 1 ano e 7 meses, além do piloto e do copiloto.
Seis das vítimas eram de Eirunepé (AM). Havia, ainda, moradores de Envira (AM). Veja a lista das vítimas aqui.
Cenário de destruição
Árvores foram derrubadas e consumidas pelo fogo no local da queda do acidente
Eldérico Silva/Rede Amazônica Acre
Dois dias após o acidente aéreo que matou 12 pessoas em Rio Branco, ainda há muita fumaça. A equipe da Rede Amazônica esteve no local na manhã desta terça-feira (31) e registrou imagens que revelam, além dos destroços, queda de árvores e alimentos espalhados. É possível ver batatas, outros alimentos e utensílios. São pelo menos 20 minutos de caminhada até o ponto exato do acidente.
A equipe de reportagem encontrou ainda muitos utensílios espalhados. Chama a atenção ainda a quantidade de alimentos que estavam no avião. Muitas árvores também foram consumidas pelo fogo, gerando uma clareira no meio da mata. As chamas consumiram o avião quase que por completo. (Veja o vídeo completo)
Local onde avião com 12 pessoas caiu no AC ainda tem fumaça, destroços e alimentos
Os bombeiros conseguiram controlar as chamas ainda no domingo, após cerca de quatro horas, e a retirada de corpos foi iniciada.
Acidente aéreo
O que se sabe sobre o avião que caiu no Acre
O voo era particular, da empresa ART Taxi Aéreo, e decolou de Rio Branco com destino a Envira, no Amazonas. A aeronave modelo Caravan tinha capacidade para até 14 pessoas e caiu por volta das 7h21 no horário local (9h21 em Brasília), logo após a decolagem. Nesta segunda, o espaço da empresa no aeroporto de Rio Branco estava fechado e apenas uma mensagem com números de telefone foram colocadas na porta.
O governo do Acre informou que todas as 12 vítimas morreram carbonizadas. No entanto, conforme o diretor do departamento de Polícia Técnica Científica, ainda não é possível confirmar a causa da morte.
Parte dos passageiros estava viajando para receber tratamento médico.
O advogado da empresa, Thiago Abreu, informou ao g1 que o piloto e o copiloto tinham experiência e treinamento. Segundo a Anac, o avião estava em situação regular.
Veja a origem e o destino da aeronave que caiu em Rio Branco (AC).
Ighor Costa/g1
A aeronave era pilotada por Cláudio Atílio Mortari, que, de acordo com suas redes sociais, era natural de São Paulo, mas também morava em Itaituba. O copiloto Kleiton Lima Almeida, de 39 anos, que também morreu na queda de avião, nasceu e morava em Itaituba, no sudoeste do Pará. Ele tinha se tornado pai há um mês.
Investigação
O Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VII), localizado em Manaus, vai apurar as causas da queda do avião. A Polícia Civil explicou que tem feito o levantamento para, caso seja solicitado, encaminha à Polícia Federal e à Aeronáutica, que devem ficar a cargo das investigações. Os peritos traçaram como o acidente aconteceu.
De acordo com a Aeronáutica, na investigação “serão utilizadas técnicas específicas, conduzidas por pessoal qualificado e credenciado que realiza a coleta e confirmação de dados, a preservação de indícios, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias ao processo”.
VÍDEOS: Reportagens do acidente
Colaborou o repórter Richard Lauriano, da Rede Amazônica Acre.

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