Após morte de atendente por ‘doença do pombo’, vereador quer criar programa de controle de infestação da ave em Rio Branco


Nessa terça-feira (21), foi realizada uma tribuna popular na Câmara Municipal de Rio Branco para discutir sobre o tema de saúde pública. Vereador Samir Bestene declarou que pretende apresentar PL para o controle do animal. Vereador Samir Bestene quer criar programa de controle de infestação da ave em Rio Branco
Arquivo/Câmara de Rio Branco
Depois da morte da atendente de loja Sandra Silveira Bezerra, de 49 anos, causada pela ‘doença do pombo’, o vereador Samir Bestene (PP) declarou, em tribuna popular nessa terça-feira (21) na Câmara Municipal, que pretende protocolar nos próximos dias um Projeto de Lei de controle da ave da capital acreana.
A atendente morreu no último dia 15 no Pronto-Socorro de Rio Branco. Na certidão de óbito consta que Sandra faleceu de meningite fúngica, criptococose, conhecida como “Doença do Pombo”, edema cerebral e pneumonia.
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A proposta de lei, que ainda vai passar por ajustes antes de ser apresentada formalmente na Câmara de Vereadores, pretende instituir o “Programa de controle de infestação de pombos nos espaços públicos de Rio Branco”.
O vereador enviou ao g1 um protótipo do PL que está sendo finalizado. Conforme o documento, a proposta trata da manutenção da salubridade dos locais onde existe superpopulação de pombos o que, por consequência, apresente um alto risco de contaminação por doenças.
O artigo dois traz que o município deve designar numa equipe com profissionais especializados nas áreas de biologia, medicina veterinária e zootecnia para atuar no programa.
“Esse é o protótipo do projeto, vamos só fazer alguns ajustes para protocolar, mas vai ser em cima mais ou menos desse documento. Quero protocolar ainda essa semana e em conjunto com a vereadora Lene Petecão. Na verdade, eu já tinha feito o projeto, e como ela propôs essa tribuna popular que tivemos ontem [terça, 21], aí propus de a gente fazer em conjunto o PL”, disse o vereador.
O que diz o projeto
A proposta inicial diz que, nos locais identificadas com superpopulação de pombos, o município deve providenciar a captura controlada das aves, as quais devem ser submetidas a tratamento, incluindo exames para identificação de possíveis patógenos, devendo manter um banco de dados com informações das condições desses animais.
Além disso, o projeto prevê que seja administrado um medicamento que não apenas iniba a postura de ovos, mas também que vise prevenir a transmissão de doenças, garantindo a segurança sanitária e salubridade para os espaços onde esse animal habita.
Após o tratamento, as aves devem ser identificadas com um anel fixado na pata e liberadas em áreas adequadas, assegurando o monitoramento contínuo de sua saúde. A proposta pontua ainda que o município deve realizar ampla divulgação de conscientização sobre a importância do controle de pombos e a participação da população na prevenção da infestação.
O vereador disse que pretende incluir no texto um artigo sobre a conscientização para que a população não alimente esses animais e prevendo sanções em caso de descumprimento.
“Já falei com o meu jurídico, o que quero acrescentar aí é colocar algum artigo falando de trabalho de conscientização para não alimentar os pombos, e ter uma fiscalização disso. E, se por acaso alguém for identificado fazendo isso, essa pessoa pode sofrer alguma sanção. Porque o que acontece nesse caso específico do Bosque é que tem algumas pessoas que alimentam os pombos lá”, afirmou o parlamentar.
Em 2013, a então vereadora Roselane Alves (PRP-AC) apresentou uma indicação à Mesa Diretora da Câmara Municipal de Rio Branco para a implantação de um serviço de combate aos pombos na cidade. Ela utilizou como argumentos os males e as doenças causadas pelas aves que se adaptam facilmente ao meio urbano. Mesmo não tendo um projeto estruturado em mente na época, Roselane dizia que a ideia era que os animais fossem capturados pelo Centro de Zoonoses e encaminhados para uma espécie de viveiro.
Sessão na Câmara
Proposta pela vereadora Lene Petecão (PSD), uma tribuna popular discutiu sobre a infestação de pombos na cidade de Rio Branco, sobretudo na região do Mercado do Bosque. O dono da loja que a atendente trabalhava, Ney Matos, foi ouvido na tribuna e relatou que há dois anos foi acometido pela a ‘doença do pombo’.
Na época, ele chegou a ser transferido em UTI aérea para São Paulo, onde foi diagnosticado. Após uma investigação de uma equipe médica e uma biópsia, o empresário descobriu que tinha a doença.
“É uma doença irreversível, tomo remédio para não deixar a doença desenvolver. Minha funcionária, a Sandra, teve um diagnóstico tardio e veio a falecer. Estou com dois anos com esse problema, fui para São Paulo de UTI. O certo é que eu estou contaminado, mas estou vivo e tenho esperança de que isso não acontece com mais pessoas que circulam no nosso bairro. Venho aqui para pedir aos vereadores que nos ajude, não é só Bosque, mas a cidade toda está contaminada. Porque alimentar um animal desse dentro da cidade, que só traz prejuízos para a gente? Seria importante uma lei pelo menos para proibir que alimentem esses animais. Ninguém pode ficar esperando que mais pessoas venham a óbito”, disse Matos.
A vereadora Lene solicitou que a vigilância sanitária tome atitudes para controlar a infestação de pombos nos mercados municipais.
“Esse é um assunto de vigilância sanitária. A doença do pombo é uma infecção que afeta tanto humanos quanto animais. Eu, desde 2022, que acompanho esse caso. Muitos pombos ficam pelos mercados. Essa infecção é de difícil diagnóstico. O que peço é que a Vigilância Sanitária faça uma campanha para que não deem comida aos pombos. Se a população de Rio Branco não entender que essa é uma doença grave, nós não vamos avançar nesse quesito”, afirmou a vereadora.
Sintomas da ‘doença do pombo’
Tosse, dor no peito, dores de cabeça, tontura, vômito. Estes são alguns dos sintomas da criptococose, conhecida como “Doença do Pombo”. A médica infectolosta Cirley Lobato deu informações sobre a doença causada por um fungo presente nas fezes dos pombos.
“É causada quando a pessoa inala os poros do fungo, chamados criptococos, e, nesse momento, vai para o pulmão. Inicialmente, o paciente pode apresentar um quatro de pneumonia, uma gripe, que se confunde com muita coisa. Como a doença do pombo não é tão frequente, o diagnóstico é mais difícil”, contou.
A especialista explicou também que o fungo pode entrar na circulação sanguínea do paciente e atingir o cérebro, causando um quadro de meningite com dor de cabeça intensa.
“É uma dor de cabeça intensa que não passa com medicação para dor, como dipirona, paracetamol, vômitos e pode ter alteração de consciência. Infelizmente, pode evoluir para a morte e ter sequelas. Para eu fazer o diagnóstico de um agravo, tenho que pensar neste agravo. Como não é uma doença tão frequente, e muitas vezes atinge com quadros mais graves, pessoas que têm alguma imunossupressão, não pensado logo nisso”, ressaltou.
A infectologista destaca também que, em pessoas sem comorbidades, a primeira avaliação leva a crer em um quadro de Covid, gripe, tuberculose, pneumonia e até meningite.
Cuidados
Cirley explicou quais cuidados são necessários para evitar o contato com o fungos. Ele orientou a população a não alimentar as aves para evitar a presença delas nos locais.
“Não exterminar os pombos, tem que ter cuidado quando estiver manuseando as fezes do pombo, tem que lavar bem com água, sabão, o cloro consegue eliminar bem os poros, usar máscaras e luvas quando estiver manuseando este material”, orientou.
Diante de qualquer sintoma, a pessoa precisa procurar uma unidade de saúde. “Geralmente, tratam como uma pneumonia. Se não melhorar, volte ao profissional de saúde para se fazer uma investigação melhor. Começa a apresentar dor intensa na região da nuca, vômito forte. Procure o atendimento médico porque existe tratamento”, disse.
Diagnóstico
Sandra Silveira morreu nessa quarta-feira (15) no Pronto Socorro de Rio Branco
Arquivo pessoal
Sandra começou a passar mal no final do mês de setembro com tontura. Em outubro, passou a sentir muita fraqueza, tosse e dificuldades para respirar. Ela foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), fez um raio-X e foi detectada uma mancha em seu pulmão.
Foi então que a filha mais velha levou Sandra em um pneumologista para exames mais específicos. Ela ficou na UPA do 2º Distrito até dia 8 de novembro, quando foi transferida para o PS.
Na unidade de saúde, segundo Fábia Rodrigues, filha da atendente, fizeram um exame para meningite e a atendente começou a tomar antibióticos.
O diagnóstico certo foi descoberto apenas no dia 14 de novembro, quando Fábia pegou o resultado do exame feito em Sandra no laboratório e apresentou para o médico plantonista. O quadro dela piorou, ela foi entubada e não resistiu. A filha contou que sempre desconfiou que a mãe tinha doença do pombo devido à presença das aves próximo ao local do trabalho dela.
Exame detectou a presença do fungo Cryptococcus no organismo de Sandra Silveira
Reprodução
Saúde investiga caso
Depois da morte de Sandra, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) emitiu uma nota afirmando que investiga o caso.
No comunicado, o chefe do Departamento de Vigilância em Saúde, Edvan Meneses, disse que o caso foi confirmado por meio de exame no último dia 8 de novembro, e que diversos órgãos estão envolvidos nessa investigação, tais como Núcleo de Zoonoses, Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica Hospitalar, Divisão de Vigilância Ambiental e Centro de Referência em Saúde do Trabalhado.
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