Casarão histórico de Magé é demolido sem explicação; Iphan afirma que obra é ilegal

Antiga sede de fazenda, edificação do sec. XVIII também abrigou hospital. Na segunda-feira (24), o MPF determinou, entre outras medidas, a abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar a demolição e uma multa de 10 milhões de reais contra o município de Magé. Casarão histórico de Magé é demolido sem explicação; Iphan afirma que obra é ilegal
Um casarão que ajuda a contar a história de Magé e é protegido pelo IPHAN, foi derrubado sem qualquer explicação. A construção, erguida à beira do Rio Magepe, estava ali, pelo menos, desde o século XVIII, segundo pesquisadores.
O casarão era um símbolo colonial da história do município de Magé, a antiga sede da Fazenda Magepe Mirim. Exatamente nessas terras, surgiram os primeiros sinais de ocupação da cidade.
Na década de 1970, a construção passou a abrigar a Casa de Saúde Nossa Senhora da Piedade. A unidade, que depois ganhou um anexo, foi fechada no início dos anos de 1990. Em 2020, a prefeitura começou uma obra de reforma para reconstruir o hospital – mas apenas nessa área anexa. Só que o casarão histórico, protegido pelo IPHAN e tombado pelo município, continuou abandonado.
Silvia Scoralich de Carvalho, arquiteta e pesquisadora, fez sua dissertação de mestrado exatamente sobre a sede da antiga Fazenda Magepe Mirim.
“Toda a centralidade do primeiro distrito é construída dentro das terras dessa fazenda, se for falar da memória da cidade. A gente também tem função dentro dessa antiga sede da casa de saúde que foi uma unidade hospitalar que é a grande memória da população mageense”, ressalta.
O estado precário do casarão já era alvo de uma ação do Ministério Público Federal desde 2017. Segundo o MPF, a Justiça Federal já havia determinado que o município buscasse autorização do IPHAN para a realização da reforma do hospital e restaurasse o casarão. Mas, no lugar de restauração, a construção histórica foi simplesmente demolida na sexta-feira da semana passada.
Restaram apenas duas colunas de pé. A placa do IPHAN, que alertava para a importância histórica da construção, já não está mais lá.
Além do motivo, não se sabe quem deu ordem para derrubar o casarão. A Prefeitura de Magé disse que já existia até um projeto de escoramento e requalificação do local, mas “foi surpreendida com a demolição”.
A nota não esclarece, no entanto, de quem partiu a decisão de demolir a construção. O município também afirmou que notificou a empreiteira para que suspendesse a obra. Só que, nesta terça-feira , a equipe do RJ2 esteve no local e havia operários trabalhando.
Em nota, o Iphan disse que a demolição foi feita de forma ilegal e proibiu a retirada do entulho. Na segunda-feira (24), o MPF determinou, entre outras medidas, a abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar a demolição e uma multa de 10 milhões de reais contra o município de Magé.
“A gente fica muito frustrado, principalmente porque existia a expectativa de novos estudos na fazenda para comprovar se ela realmente era um exemplar do século 18. Era muito importante que ela ainda se mantivesse, mesmo que em estado de arruinamento, para que esses estudos pudessem ser feitos. Além de não interferir num sítio histórico do patrimônio federal, que isso também é um crime bem grave”, lamenta Silvia Scoralich de Carvalho.
O IPHAN disse que agora está em negociações com a prefeitura para discutir medidas compensatórias pelo dano causado ao patrimônio cultural de Magé. Mas, para a população de Magé, ver a memória da cidade transformada em escombros representa uma perda histórica, sem reparação.
“Isso é um patrimônio da cidade que não deveria terminar assim desse jeito. Não era para o patrimônio terminar desse jeito”, lamentou a faxineira Maria Conceição Silva.
Nós tentamos contato com a empreiteira ágabo, responsável pela obras da nova unidade de saúde que está sendo construída no local, mas não tivemos retorno.//
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