Empresários acusam Roraima Energia de vetar instalação de placas solares sem estudo prévio


Donos de empresas do setor de energia solar formalizaram denuncia na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula o fornecimento de energia no Brasil. Eles alegam que a Roraima Energia quer ‘manter os consumidores dependentes da energia fornecida pela empresa’. Placas solares instaladas em Boa Vista para fornecimento de energia fotovoltaica
Caíque Rodrigues/g1 RR
Empresários do setor de energia solar em Roraima denunciam que a concessionária Roraima Energia estaria impedindo novas instalações de placas solares em casas e comércios sem a realização de um estudo técnico prévio. A denuncia foi feita na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com a alegação de que os vetos têm o objetivo de “manter os consumidores dependentes da energia fornecida pela empresa”.
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De acordo com os empresários, a Roraima Energia tem justificado os vetos alegando inversão de fluxo sem que haja uma analise adequada de cada caso. Eles relatam prejuízos que chegam a R$ 1 milhão e até 20 vetos em menos de três meses.
🔎 O que é inversão de fluxo? O fluxo reverso de energia elétrica acontece quando uma fonte de energia injeta na rede elétrica em vez de apenas recebê-la, invertendo o sentido habitual do fornecimento. Esse excedente pode causar complicações, como sobrecarga, variações de tensão e interrupções no fornecimento de energia e é proibido por lei.
🔌 A Roraima Energia é a concessionária elétrica no estado. Por isso, as empresas de energia solar precisam pedir permissão para realizar a instalação de sistemas de energia solar. Quando um consumidor deseja instalar um sistema de energia solar, a empresa elabora um projeto e o submete à Roraima Energia para aprovação ou negativa mediante um estudo detalhado por parte da concessionária.
Neste fluxo, os empresários acreditam que estão sendo boicotados pela concessionária para diminuir o crescimento de fontes de energias alternativas no estado.
“A concessionária está impedindo avanços em sustentabilidade sem apresentar estudos técnicos concretos. O impacto vai além dos negócios; estamos falando de energia renovável e sustentável”, disse ao g1 o empresário Alexandre Padilha Bastos, de 32 anos, sócio na empresa Solartech.
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O g1 procurou a Roraima Energia, questionou se há o interesse em se posicionar mas não foi respondido até o momento. A reportagem também procurou a Aneel, que regula o fornecimento de energia no Brasil e questionou se a denuncia esta sendo apurada.
⚡🌞 Novas instalações barradas
Na empresa de Alexandre, nos últimos três meses foram mais de 20 instalações de placas solares barradas pela Roraima Energia com a mesma justificativa. De acordo com ele, nem o texto do documento que barra a instalação era alterado pela concessionária.
“Até instalações pequenas são negadas com 20 a 22 placas, que gerariam cerca de 1.200 kWh. Antes, apenas projetos grandes, acima de 75 kW, eram negados. Agora, qualquer projeto com inversor acima de 7,5 kW está sendo barrado”, disse.
Alexandre Padilha Bastos, de 32 anos, é sócio da Solartech
Caíque Rodrigues/g1 RR
Os prejuízos já somam mais de R$ 1 milhão e, para ele, isso é prejudicial para os consumidores e também para as empresas. Ele destaca a geração de emprego e renda que novas fontes de energia estão gerando no estado.
“Em vez de adaptar a rede para receber essa energia, a empresa simplesmente impede novos clientes de instalarem seus sistemas, e tudo isso sem estudos técnicos ou comprovação. Conseguir um parecer técnico deles é uma batalha, e quando conseguimos, ele vem sem embasamento adequado”.
Paulo Soares, de 41 anos, é dono da Solares
Caíque Rodrigues/g1 RR
Paulo Soares, de 41 anos, é dono da empresa Solares. Ele também tem enfrentado problemas nas aprovações de novas instalações. Para ele, o argumento usado pela Roraima Energia “não se sustenta”, já que instalações pequenas também são negadas.
“O argumento é que essa carga instalada, tanto na unidade consumidora do cliente quanto nas vizinhanças, não é suficiente para absorver a energia solar gerada. Antes, o limite para instalação era de 75 kW de inversor sem necessidade de subestação. Agora, há essa nova barreira”.
A empresa dele enfrentou seis negativas da concessionária nos últimos meses e o prejuízo também se aproximam a R$ 1 milhão.
“O maior prejuízo é para a sociedade como um todo, não apenas para as empresas de energia solar. O cliente quer instalar o sistema para economizar e contribuir com o meio ambiente, mas fica impedido porque a concessionária alega que sua rede não está preparada”, afirmou o empresário ao g1.
Mhayos Correia, de 27 anos, é projetista da Sustentável Energia
Caíque Rodrigues/g1 RR
Mhayos Correia, de 27 anos, é projetista da Sustentável Energia. Em dois meses, a empresa teve quatro projetos vetados pela Roraima Energia – o que totalizou um prejuízo de R$ 100 mil.
Ele afirma que a empresa precisou achar saídas para seguir com os projetos usando sistemas chamados de Grid Zero (geração de energia que não depende da rede elétrica convencional) e Fast Track (modalidade que permite a conexão simplificada de sistemas de microgeração solar de pequeno porte), ambas permitidas pela Aneel.
“A gente teve o veto de quatro projetos, mas dois deles conseguimos contornar. Além disso, temos tentado mudar os locais de instalação para obter aprovações”.
Para Mhayos, o que revolta é a falta de transparência da Roraima Energia ao vetar as novas instalações.
“A concessionária emite um orçamento assumindo que já sabemos quais circuitos estão no limite, mas essa informação não é disponibilizada. Isso cria um impasse: primeiro, damos entrada no projeto; depois, ele é recusado com base em um relatório genérico e pouco claro”.
“A concessionária poderia fazer a redistribuição de carga ou reforçar a rede para permitir mais conexões fotovoltaicas. Se já sabem que há um problema de fornecimento, por que não investem para atender novos consumidores?”, questionou.
Isolamento energético
Estrada que dá acesso a reserva indígena Waimiri-Atroari
Valéria Oliveira/G1 RR/Arquivo
Roraima é o único estado do país que não é ligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e, durante anos, dependeu da energia fornecida pela Venezuela. No entanto, o país parou de enviar energia ao estado em março de 2019 e, desde então, o trabalho é feito por quatro termelétricas da Roraima Energia.
O parque térmico do estado é formado pelas usinas termelétricas de Monte Cristo, na zona Rural de Boa Vista, Jardim Floresta e Distrito, ambas na zona Oeste, e Novo Paraíso, em Caracaraí, região Sul do estado.
Atualmente, duas turbinas da Usina Termoelétrica Jaguatirica II já estão em operação e ajudam a reduzir o consumo da usina termelétrica do Monte Cristo, que funciona a óleo diesel.
Os 715 km do Linhão de Tucuruí são apontados como o fim do isolamento elétrico e dos constantes blecautes. O início da obra foi foco de um impasse por 11 anos, já que 122 km de torres vão atravessar a reserva Waimiri Atroari.
Sem a energia importada, o custo para fornecimento elétrico estado é de R$ 8 bilhões por ano — conta que é dividida entre todos os consumidores de energia elétrica do país. E, para reverter esta situação, a solução é construção do Linhão de Tucuruí.
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