Benson Boone, J\u00e3o, Justin Timberlake, Shawn Mendes e Bush t\u00eam letras sobre ansiedade, origens, medos e outras fragilidades. Festival em SP \u00e9 na sexta (28), s\u00e1bado e domingo. Os artistas do Lollapalooza que cantam dilemas masculinos
\nO line-up do Lollapalooza tem v\u00e1rios artistas com uma coisa em comum: eles cantam dilemas masculinos. S\u00e3o homens que usam suas letras para falar de suas fragilidades, de seus desafios e de seus privil\u00e9gios.
\nUm cara que se encaixa bem nessa ideia \u00e9 Benson Boone, americano que canta no s\u00e1bado (29) de festival. Ele estourou primeiramente no TikTok e depois nos servi\u00e7os de streaming com a balada pop rock \u201cBeautiful Things\u201d.
\nA m\u00fasica \u00e9 sobre ter medo de perder as coisas que ele conquistou na vida dele, com o refr\u00e3o “\u00d3, meu Deus \/ N\u00e3o tire de mim essas coisas lindas que eu tenho”.
\nOu seja, ela \u00e9 ao mesmo tempo uma ora\u00e7\u00e3o de agradecimento e um atestado de que ele talvez n\u00e3o se ache bom o bastante para ser feliz. Parece o sinal de uma S\u00edndrome do Impostor, um tema que volta em outras m\u00fasicas. “\u00d3, como as coisas mais incr\u00edveis desmoronaram?”, ele se pergunta “Pretty Slowly”.
\nO cantor americano Benson Boone
\nDivulga\u00e7\u00e3o\/Warner
\nEle tamb\u00e9m j\u00e1 escreveu letras sobre a morte de sua bisav\u00f3, de quem era super pr\u00f3ximo (“In the stars”), e sobre viver com ansiedade (“Slow it down”). O Benson canta sobre a necessidade de dar uma desacelerada de tempos em tempos.
\nOutro que desacelerou legal nesses \u00faltimos anos foi o Justin Timberlake, headliner do domingo (30) de Lolla. O cantor de 44 anos andava meio sumido, com uma certa crise na carreira e na vida pessoal.
\nEmbora tenha v\u00e1rios hits b\u00e1sicos auto afirmativos e sensuais, uma parte do repert\u00f3rio sempre teve desafios masculinos: como a busca por um amor t\u00e3o forte quanto o dos av\u00f3s maternos dele.
\n\u201cMirrors\u201d \u00e9 sobre esse casamento que durou 63 anos: “\u00c9 como se voc\u00ea fosse o meu espelho \/ Meu espelho olhando de volta para mim”.
\nJustin Timberlake canta e dan\u00e7a durante seu show no Palco Mundo, no Rock in Rio 2017
\nAlexandre Dur\u00e3o\/G1
\nTimberlake j\u00e1 cantou sobre trai\u00e7\u00e3o, quando foi criticado por ter sido machista com a ex dele, Britney Spears (“Cry me a river”).
\nDepois, versou sobre suas origens. Ele j\u00e1 disse ter orgulho de ser um \u201cHomem do campo\u201d, mais precisamente do estado americano do Tennessee, em “Man of the Woods”, que batiza o quinto \u00e1lbum da carreira, lan\u00e7ado em 2018. “Mas voc\u00ea sabe que eu sou um homem do Sul \/ Um homem do campo e voc\u00ea \u00e9 o meu orgulho”, ele canta.
\nUma das atra\u00e7\u00f5es brasileiras mais aguardadas do Lolla, J\u00e3o tamb\u00e9m tem orgulho de ser quem ele \u00e9. E faz quest\u00e3o de cantar sobre isso. \u00c9 o que ele faz, por exemplo, em “Meninos e Meninas”: “Mas meu cora\u00e7\u00e3o \u00e9 grande e cabem \/ Todos os meninos e as meninas \/ Que eu j\u00e1 amei”.
\nJ\u00e3o se apresenta no Rock in Rio Lisboa 2024
\nDivulga\u00e7\u00e3o\/Instagram do festival
\nDono de \u00f3timos shows em festivais, o J\u00e3o virou um dos maiores popstars brasileiros cantando o que ele sente por ser um homem bissexual.
\nAs letras s\u00e3o cheias de desabafos sobre identidade e de met\u00e1foras para explicar o que ele est\u00e1 sentindo. Em “Super”, por exemplo, ele canta: “O campo n\u00e3o queima sem uma fa\u00edsca \/ E eu tenho um inc\u00eandio em mim \/ J\u00e1 fui tantas coisas pra tantas pessoas \/ Mas, j\u00e1 estou longe daqui”. No Lolla, o cantor paulistano se apresenta na sexta-feira (28).
\nOutro f\u00e3 de met\u00e1foras \u00e9 o Shawn Mendes, que foi headliner do Rock in Rio e agora \u00e9 headliner do Lolla no s\u00e1bado (29).
\nShawn Mendes se apresenta no Rock in Rio 2024
\nStephanie Rodrigues\/g1
\nEm “Mercy”, uma das mais intensas do repert\u00f3rio, ele canta: “Consumindo todo o ar dos meus pulm\u00f5es \/ Arrancando minha pele dos meus ossos \/ Estou preparado para sacrificar minha vida”.
\nA maioria das m\u00fasicas do jovem canadense tem esse amor rom\u00e2ntico, exagerado at\u00e9 demais. E ele tamb\u00e9m \u00e9 exagerado ao falar de sa\u00fade mental. Esse \u00e9 o caso de “In my blood”: “\u00c0s vezes, sinto vontade de desistir \/ Nenhum rem\u00e9dio \u00e9 forte o suficiente”.
\nNessa m\u00fasica, ele est\u00e1 ansioso e inseguro, bebendo ap\u00f3s ter dificuldades de respirar e de se medicar corretamente. Ele vai narrando o sofrimento de uma forma po\u00e9tica. Mendes fala sobre paredes desmoronando, sobre rastejar. E ele diz que o sofrimento n\u00e3o pode ser combatido por nada. \u00c9 quase definitivo. \u00c9 parte dele.
\nGavin Rossdale, em primeiro plano, em imagem do disco ‘The Science of Things’, lan\u00e7ado pelo Bush em 1999
\nReprodu\u00e7\u00e3o
\nUma letra forte assim mostra que \u00e9 poss\u00edvel cantar dilemas masculinos de uma forma que lembra o que era mais comum no rock dos anos 90. Tem uma banda que toca no Lolla e viveu seu auge nessa d\u00e9cada.
\nO Bush fazia parte da segunda parte do movimento grunge, que revelou nomes como Nirvana e Pearl Jam. Assim como essas bandas, o Bush transformava tudo em met\u00e1fora para o sofrimento.
\nO vocalista Gavin Rossdale j\u00e1 cantou sobre o medo de se relacionar com algu\u00e9m explosivo (“Glycerine”) e sobre a sensa\u00e7\u00e3o de ser “engolido e vazio” (“Swallowed”).<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"