Comandado pelo DJ Zek Picoteiro, Afluentes investiga como as \u00e1guas influenciam no modo de fazer m\u00fasica na regi\u00e3o e inspira a gama de ritmos forjados na beira dos rios. Zek Picoteiro durante incurs\u00e3o pelos rios para o projeto Afluentes
\nB\u00e1rbara Vale
\nDe quantos ritmos \u00e9 feita a floresta? \u201cPra mais de 40\u201d, garante o DJ, produtor e pesquisador musical Zek Picoteiro, que lan\u00e7ou nesta segunda (31\/03) o projeto Afluentes, que re\u00fane uma s\u00e9rie de podcast, v\u00eddeos e site interativo que convidam a um mergulho profundo na pot\u00eancia dos povos que dan\u00e7am lambada, tecnobrega, tocam tambor e fazem da Amaz\u00f4nia um celeiro musical.
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\nO projeto \u00e9 fomentado pelo Programa Funarte Retomada, com produ\u00e7\u00e3o do Instituto Regat\u00e3o Amaz\u00f4nia, realiza\u00e7\u00e3o da Funda\u00e7\u00e3o Nacional das Artes, Minist\u00e9rio da Cultura e Governo Federal.
\nNo projeto, Zek percorre o rio Amazonas e alguns dos seus principais afluentes, como o Tapaj\u00f3s e o Guam\u00e1. O objetivo \u00e9 mapear g\u00eaneros musicais produzidos no fluxo desses rios, imergindo na cultura ribeirinha para compreender a maneira como o amaz\u00f4nida comp\u00f5e, toca, produz, escuta e distribui a sua pr\u00f3pria m\u00fasica.
\nEntre subidas e descidas de barco, \u00e9 no encontro das \u00e1guas que surgem as festas de Beirad\u00e3o, os tambores de Carimb\u00f3, o swingue da Lambada, as toadas do Boi Bumb\u00e1, os batuques de Marabaixo e as batidas do Tecnobrega \u2013 ritmos que s\u00e3o temas da primeira temporada do projeto.
\nZek Picoteiro entrevistando M\u00e1rcia Siqueira
\nRodrigo Viellas
\nEm seis epis\u00f3dios, Zek viaja por diversas cidades e comunidades ribeirinhas para entrevistar, vivenciar e documentar como os ritmos da Amaz\u00f4nia se espraiam por furos, igarap\u00e9s e rios caudalosos.
\nAl\u00e9m do podcast, Afluentes lan\u00e7a um site contendo um mapa interativo da bacia hidrogr\u00e1fica Amaz\u00f4nica junto a informa\u00e7\u00f5es sobre g\u00eaneros sonoros, artistas e movimentos musicais da regi\u00e3o – um reposit\u00f3rio central de todos os conte\u00fados produzidos, artigos, di\u00e1rios de bordo, playlists e sets mixados.
\nBacia hidromusical
\nOs rios s\u00e3o a principal forma de circula\u00e7\u00e3o e integra\u00e7\u00e3o cultural, \u00e9 atrav\u00e9s deles que a identidade amaz\u00f4nica \u00e9 formada na sua mais profunda ess\u00eancia. \u00c9 por meio deles que os povos navegam, escoam sua produ\u00e7\u00e3o, pescam seu principal alimento, banham, constituem seus saberes, tradi\u00e7\u00f5es e culturas.
\nA s\u00e9rie busca compreender como os g\u00eaneros e movimentos musicais se organizam na Amaz\u00f4nia – e a rela\u00e7\u00e3o com o rio \u00e9 o ponto em comum a todos eles. Para Zek, apesar das especificidades, cada movimento musical na Amaz\u00f4nia tem uma rela\u00e7\u00e3o profunda com o pr\u00f3prio movimento das \u00e1guas. A m\u00fasica \u00e9 criada, inspirada, ouvida e difundida pelo rio.
\nZek Picoteiro mergulhou na efervesc\u00eancia dos ritmos que se difundem pelos rios
\nB\u00e1rbara Vale
\n\u201cCada g\u00eanero musical \u00e9 como se fosse um bra\u00e7o, um furo, uma fonte, um olho d’\u00e1gua, uma ilha\u2026 um afluente dessa enorme ‘bacia hidromusical’ que existe aqui na Amaz\u00f4nia. Para entender melhor essa rela\u00e7\u00e3o, eu decidi navegar pelos nossos rios e encontrar pessoas que fazem a nossa m\u00fasica acontecer\u201d, diz Zek.
\nO projeto resulta de uma d\u00e9cada de garimpagem musical feita por Zek – uma soma de discos de vinil, muitos pendrives trocados com DJs de aparelhagens, anos comprando m\u00eddia pirata nas ruas de Bel\u00e9m e downloads n\u00e3o autorizados na internet.
\n“Desde 2015, eu venho acumulando um volume muito grande de arquivos de m\u00fasica digital. Desde que eu comecei a catalogar esses arquivos, fui percebendo a variedade de g\u00eaneros musicais originais da regi\u00e3o amaz\u00f4nica. A ind\u00fastria fonogr\u00e1fica brasileira nunca conseguiu absorver a nossa diversidade, quase sempre o que \u00e9 produzido na Amaz\u00f4nia entra na prateleira do \u2018regional\u2019. Agora, eu reuni tudo o que eu ouvi, li e vivenciei ao longo dessa jornada para compartilhar com voc\u00eas\u201d, celebra Zek.
\nBeirad\u00e3o
\nO epis\u00f3dio de abertura traz a sonoridade mais popular do Amazonas: o Beirad\u00e3o. Uma mistura de pitadas de lambada, forr\u00f3, teclado, guitarra e saxofone, o g\u00eanero se tornou um fen\u00f4meno que atravessa as comunidades ribeirinhas e se espraia por 17 mil quil\u00f4metros de rios, com festas o ano inteiro.
\nInicialmente, o Beirad\u00e3o n\u00e3o era reconhecido como g\u00eanero musical, mas sim como um local onde a m\u00fasica acontecia. Os festejos re\u00fanem os moradores ribeirinhos, com m\u00fasica, dan\u00e7a, jogos e atividades ligadas \u00e0 colheita de alimentos como mam\u00e3o, a\u00e7a\u00ed e mandioca.
\nZek Picoteiro
\nB\u00e1rbara Vale
\nO Beirad\u00e3o, um g\u00eanero ainda em evolu\u00e7\u00e3o, \u00e9 uma express\u00e3o cultural rica e singular que representa a identidade do povo amazonense. O podcast j\u00e1 est\u00e1 dispon\u00edvel em todas as plataformas de v\u00eddeo e no site do projeto.
\n\u201c\u00c9 ineg\u00e1vel que o beirad\u00e3o \u00e9 um fen\u00f4meno cultural. N\u00e3o \u00e9 uma cultura sazonal, \u00e9 o ano inteiro tocando essa m\u00fasica, que \u00e9 uma mescla cultural muito grande. N\u00e3o s\u00e3o s\u00f3 as bandas, os saxes, \u00e9 tamb\u00e9m a culin\u00e1ria, a caldeirada de bod\u00f3, o jaraqui, o linguajar, o lado religioso, que s\u00e3o os festejos, tudo isso que culmina na m\u00fasica. Uma cultura muito rica\u201d, revelou Hadail Mesquita, um dos principais artistas da cena, que comanda o \u201cPortal Beirad\u00e3o\u201d, canal no Youtube com mais de 10 milh\u00f5es de visualiza\u00e7\u00f5es e que concentra as maiores express\u00f5es musicais do g\u00eanero.
\nV\u00cdDEOS: Mais vistos do g1 Santar\u00e9m e Regi\u00e3o<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"