{"id":197621,"date":"2025-04-02T09:45:49","date_gmt":"2025-04-02T12:45:49","guid":{"rendered":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/197621"},"modified":"2025-04-02T09:45:49","modified_gmt":"2025-04-02T12:45:49","slug":"auge-das-baterias-provoca-epidemia-de-intoxicacao-por-chumbo-em-bangladesh","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/197621","title":{"rendered":"Auge das baterias provoca epidemia de intoxica\u00e7\u00e3o por chumbo em Bangladesh"},"content":{"rendered":"
Munir UZ ZAMAN <\/p>\n
Junayed Akter tem 12 anos, mas o chumbo t\u00f3xico que corre em suas veias fez com que parecesse v\u00e1rios anos mais novo do que a maioria das crian\u00e7as de sua aldeia em Bangladesh.<\/p>\n
Akter \u00e9 uma das 35 milh\u00f5es de crian\u00e7as – ao redor de 60% de todas as crian\u00e7as desse pa\u00eds do sul da \u00c1sia – que tem n\u00edveis perigosamente altos de exposi\u00e7\u00e3o ao chumbo. <\/p>\n
As causas s\u00e3o diversas, mas sua m\u00e3e culpa uma f\u00e1brica, j\u00e1 fechada, que reciclava apressadamente baterias de ve\u00edculos antigos com fins lucrativos, contaminando o ar e a terra de seu pequeno povoado. <\/p>\n
“Come\u00e7ava \u00e0 noite, e toda a regi\u00e3o se enchia de fuma\u00e7a. Ao respirar, se percebia um cheiro diferente”, explica Bithi Akter \u00e0 AFP. <\/p>\n
“A fruta n\u00e3o crescia mais durante a temporada. Um dia, encontramos at\u00e9 mesmo duas vacas mortas na casa da minha tia”, acrescenta. <\/p>\n
Os exames m\u00e9dicos mostraram que o sangue de Junayed continha o dobro de chumbo que a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade considera que causa altera\u00e7\u00f5es mentais graves, e provavelmente irrevers\u00edveis, em crian\u00e7as pequenas. <\/p>\n
\u201cA partir da terceira s\u00e9rie, ele n\u00e3o queria mais nos ouvir, n\u00e3o queria ir \u00e0 escola\u201d, diz Bithi, enquanto seu filho se senta ao seu lado, olhando fixamente para o quintal de sua casa.<\/p>\n
“Tamb\u00e9m chorava o tempo todo”, acrescenta. <\/p>\n
A intoxica\u00e7\u00e3o por chumbo n\u00e3o \u00e9 um fen\u00f4meno novo em Bangladesh. Muitos casos s\u00e3o atribu\u00eddos a f\u00e1bricas n\u00e3o regulamentadas de reciclagem de baterias que proliferaram por todo o pa\u00eds em resposta \u00e0 crescente demanda. <\/p>\n
As crian\u00e7as expostas a n\u00edveis perigosos de chumbo correm o risco de sofrer uma diminui\u00e7\u00e3o da intelig\u00eancia e do rendimento cognitivo, anemia, atraso do crescimento e transtornos neurol\u00f3gicos pela vida toda. <\/p>\n
A f\u00e1brica do povoado onde vivia a fam\u00edlia Akter fechou ap\u00f3s as cont\u00ednuas reclama\u00e7\u00f5es da comunidade, mas a organiza\u00e7\u00e3o de defesa do meio ambiente Pure Earth acredita que pode ter 265 instala\u00e7\u00f5es desse tipo em outros lugares do pa\u00eds. <\/p>\n
“Desmontam as pilhas velhas, retiram o chumbo delas e o fundem para fabricar pilhas novas”, explicou \u00e0 AFP Mitali Das, da Pure Earth. <\/p>\n
“Fazem tudo isso ao ar livre”, acrescentou. “Os gases t\u00f3xicos e a \u00e1gua \u00e1cida que s\u00e3o produzidas durante a opera\u00e7\u00e3o contaminam o ar, o solo e a \u00e1gua”. <\/p>\n
– “Mataram o nosso povoado” –<\/p>\n
Em Fulbaria, um povoado localizado a algumas horas de carro no norte da capital, Daca, outra f\u00e1brica de reciclagem de baterias de propriedade de uma empresa chinesa opera com capacidade total. <\/p>\n
De um lado, h\u00e1 campos de arroz verdejantes. Do outro lado, um cano jorra \u00e1gua turva em uma lagoa salobra cercada por terra morta, cobertas por uma espessa lama alaranjada. <\/p>\n
“Quando crian\u00e7a, costumava levar comida para o meu pai quando estava nos campos. A paisagem era magn\u00edfica, verde, a \u00e1gua era clara”, afirma Rakib Hasan, um engenheiro e morador local de 34 anos. <\/p>\n
“Voc\u00ea v\u00ea como est\u00e1 agora. Est\u00e1 morto, para sempre”, acrescenta. “Mataram o nosso povoado”. <\/p>\n
Nem a empresa nem a embaixada chinesa em Daca responderam aos pedidos de coment\u00e1rios da AFP. <\/p>\n
Syeda Rizwana Hasan, que dirige o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente de Bangladesh, n\u00e3o quis comentar o caso, porque ainda est\u00e1 nos tribunais, mas afirmou que realizam “regularmente opera\u00e7\u00f5es contra a produ\u00e7\u00e3o e a reciclagem ilegais de baterias el\u00e9tricas”. <\/p>\n
– Inconscientes dos perigos –<\/p>\n
A reciclagem ilegal de baterias \u00e9 um neg\u00f3cio no auge em Bangladesh, impulsionado principalmente pela eletrifica\u00e7\u00e3o maci\u00e7a dos bicitaxis, muito populares e que antes eram movidos a pedais. <\/p>\n
H\u00e1 mais de quatro milh\u00f5es desses ve\u00edculos em circula\u00e7\u00e3o no pa\u00eds e as autoridades estimam que o mercado para equipar todos eles com motores el\u00e9tricos e baterias \u00e9 de cerca de 870 milh\u00f5es de d\u00f3lares (4,9 bilh\u00f5es de reais).<\/p>\n
“A maioria das pessoas n\u00e3o est\u00e1 consciente dos perigos”, declarou Maya Vandenant, funcion\u00e1ria do Unicef que promove uma estrat\u00e9gia para sanear o setor com normas mais estritas e incentivos fiscais. <\/p>\n
“O custo da perda de coeficiente intelectual causada pelo chumbo \u00e9 estimada em 6,9 pontos de crescimento para a economia do pa\u00eds”, acrescentou. <\/p>\n
Para Muhammad Anwar Sadar, que supervisiona a situa\u00e7\u00e3o no Minist\u00e9rio da Sa\u00fade, a situa\u00e7\u00e3o j\u00e1 \u00e9 urgente. <\/p>\n
“Se n\u00e3o fizermos nada”, alertou, “o n\u00famero de afetados se triplicar\u00e1 ou quadruplicar\u00e1 nos pr\u00f3ximos dois anos”. <\/p>\n<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Agrigultor trabalha em um arrozal contaminado com res\u00edduos de uma f\u00e1brica de reciclagem de baterias de chumbo em Bangladesh, em 8 de fevereiro de 2025Munir uz Zaman Munir UZ ZAMAN Junayed Akter tem 12 anos, mas o chumbo t\u00f3xico que corre em suas veias fez com que parecesse v\u00e1rios anos… Continue lendo