{"id":197761,"date":"2025-04-02T12:08:32","date_gmt":"2025-04-02T15:08:32","guid":{"rendered":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/197761"},"modified":"2025-04-02T12:08:32","modified_gmt":"2025-04-02T15:08:32","slug":"cacau-faz-70-exalta-o-pai-faz-as-pazes-com-a-mae-e-mira-autoperdao-a-vida-e-um-voo-cego","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/197761","title":{"rendered":"Cacau faz 70, exalta o pai, faz as pazes com a m\u00e3e e mira autoperd\u00e3o: \u2018A vida \u00e9 um voo cego\u2019"},"content":{"rendered":"
Ele j\u00e1 esteve ao lado de Maradona, entrevistou Chico Buarque e tem Caetano Veloso como \u00eddolo. Na fase atual, o modelo \u00e9 Mick Jagger. Tamb\u00e9m ouve muito Roberto Carlos e Bob Dylan, agora pilotando uma Harley-Davidson, passeando por Coqueiros, relembrando os bons tempos. Manezinho, filho de Manoel e Bras\u00edlia, Cl\u00e1udio de Menezes, o nosso Cacau Menezes, chega hoje aos 70 anos de vida e mais de 50 de carreira ainda relevante.<\/p>\n
Germano Rorato\/ND \u2013 Foto: Germano Rorato\/ND<\/p>\n<\/div>\n
Pol\u00eamico, irreverente, amado por muitos e odiado por uma meia d\u00fazia, venceu o c\u00e2ncer, encara de frente a leucemia e se considera numa \u00e9poca de paz. Hoje, Cacau Menezes, colunista mais famoso de Florian\u00f3polis, se torna um setent\u00e3o.<\/p>\n
E ele segue enfrentando os desafios da vida, na profiss\u00e3o, na paternidade e at\u00e9 enquanto filho. No seu cantinho em Jurer\u00ea, ou no escrit\u00f3rio no Centro, vem pensando muito sobre a vida e est\u00e1 disposto a registrar os sucessos e os trope\u00e7os num livro de mem\u00f3rias. \u201cA hora \u00e9 essa!\u201d, acredita.<\/p>\n
\u201cPara falar dos 70 anos, tenho que falar do come\u00e7o. Nasci junto com o rock and roll, com James Dean e \u201cSatisfaction\u201d, dos Stones, Beatles. Era o auge de Florian\u00f3polis, uma prov\u00edncia deliciosa\u201d, lembra Cacau. Na d\u00e9cada de 1960, com dez anos, era ele o \u201cmascote\u201d do Ava\u00ed, seu clube do cora\u00e7\u00e3o, onde conta que o aprendizado come\u00e7ou e, tr\u00eas anos depois, foi para o r\u00e1dio transmitir futebol e n\u00e3o parou mais.<\/p>\n
Cacau na juventude \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
\u201cUma carreira precoce. Come\u00e7ou cedo e espero que termine tarde. A vis\u00e3o do mundo \u00e9 outra, as necessidades s\u00e3o outras. As preocupa\u00e7\u00f5es, aquele medo dos outros, felizmente, est\u00e1 deixando de existir. Eu vivia com muito medo de tudo, de juiz, desembargador, pol\u00edcia, vizinho, sogra\u201d, frisa Cacau.<\/p>\n
Esse medo, que ele carregou boa parte da vida, tem rela\u00e7\u00e3o quase que direta com a hist\u00f3ria do pai, Manoel de Menezes. Deputado eleito somente com votos da Capital, Manoel teve o mandato cassado na ditadura, o que por pouco n\u00e3o aniquilou a fam\u00edlia. \u201cDele, tirei a ess\u00eancia de quase tudo e me atualizei com os filhos e com a minha gera\u00e7\u00e3o de jovens\u201d.<\/p>\n
Essa gera\u00e7\u00e3o viu Woodstock, o Santos de Pel\u00e9, o Botafogo de Garrincha, a Bossa Nova, a ditadura, a anistia, a volta dos anistiados, mudan\u00e7as de comportamento na m\u00fasica e no jornalismo. \u201cPeguei os grandes mestres, influenciado por Carlinhos de Oliveira, Tarso de Castro, Vin\u00edcius de Moraes, Tom Jobim, Gil e Caetano\u201d, ressalta Cacau.<\/p>\n
No in\u00edcio de tudo, a viv\u00eancia no bairro Coqueiros abriu a mente de Cacau. \u201cEra um Rio de Janeiro em miniatura. As pessoas que frequentavam a praia da Saudade eram as que iam para o Rio, ningu\u00e9m ia para o exterior\u201d, comenta. J\u00e1 o come\u00e7o na profiss\u00e3o, Cacau deve \u00e0 influ\u00eancia do pai, que al\u00e9m de pol\u00edtico, foi jornalista e empres\u00e1rio.<\/p>\n
Cacau Menezes, numa boa, em casa, com a tacinha de vinho, porque tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 de ferro \u2013 Foto: Germano Rorato\/ND<\/p>\n<\/div>\n
O estilo diferenciado, que chama aten\u00e7\u00e3o at\u00e9 hoje, aqui e fora, foi trazido aos poucos das idas para Vit\u00f3ria (ES) e principalmente para o Rio. Dos sapatos \u00e0s m\u00fasicas, passando pelas roupas, incluindo cal\u00e7as rasgadas, jaqueta de general, cal\u00e7a vermelha, boca de sino, cetim amarelo.<\/p>\n
Motos e carros tamb\u00e9m ajudam a contar essa hist\u00f3ria: \u201cTive moto com 13 anos e agora com 70 anos. A primeira moto que ganhei foi uma Leonette, da Hermes Macedo, de Curitiba. Agora uma Harley-Davidson, que me faz realizar o sonho americano da adolesc\u00eancia e da juventude\u201d.<\/p>\n
Embora se aventure na moto, aos 70, Cacau diz que as necessidades e preocupa\u00e7\u00f5es mudaram. Agora, por exemplo, participa da cria\u00e7\u00e3o e da vida de quatro filhos e quatro netos. A primog\u00eanita, Maria Cl\u00e1udia, \u00e9 a que mais o ajuda, inclusive na sele\u00e7\u00e3o de fotos da coluna que Cacau mant\u00e9m no jornal ND desde 2020, al\u00e9m de not\u00edcias do pop e da cultura em geral.<\/p>\n
Cacau e uma das filhas \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
Tamb\u00e9m se esfor\u00e7a para se manter antenado. Tem, ainda, as mudan\u00e7as f\u00edsicas, mas ter filhos jovens, ajuda. \u201cN\u00e3o consigo envelhecer. S\u00e3o 70 anos, mas n\u00e3o tenho mais ideia da minha idade. Quando vejo o Mick Jagger, tr\u00eas horas de show correndo pra l\u00e1 e pra c\u00e1, com 80 anos, uma vida saud\u00e1vel. Faz ioga, faz dan\u00e7a em casa, tem professor de dan\u00e7a, escuta m\u00fasica\u201d, brinca.<\/p>\n
Nascido, criado e habitante de Florian\u00f3polis h\u00e1 sete d\u00e9cadas, descontando longas horas de viagem pelo mundo, Cacau percebe que a cidade est\u00e1 diferente. Embora cr\u00edtico, acredita que Florian\u00f3polis mudou para melhor e n\u00e3o \u00e9 hora de dizer que se tornou uma cidade invi\u00e1vel.<\/p>\n
Cacau Menezes entrevista Chico Buarque \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
\u201cAinda \u00e9 a Capital mais segura do Brasil. Existe uma certa preocupa\u00e7\u00e3o de seguran\u00e7a, mas se tu sair agora \u00e0 noite, n\u00e3o vai ver pol\u00edcia na rua. Qualquer cidade capital, nessa situa\u00e7\u00e3o do Brasil hoje, em que as pessoas est\u00e3o comendo lixo, tem que tomar cuidado\u201d.<\/p>\n
R\u00e1dio Jornal a Verdade, Di\u00e1rio da Manh\u00e3, Guaruj\u00e1, Jornal de Santa Catarina, Jornal da Semana, jornal O Estado e Di\u00e1rio Catarinense s\u00e3o alguns dos ve\u00edculos de imprensa onde Cacau Menezes marcou \u00e9poca. Mas a origem de tudo foi aos 13 anos.<\/p>\n
\u201cO narrador mais jovem do Brasil\u201d, brincando de narrar jogos sozinho, com o gravador Philips do pai, na d\u00e9cada de 1960. Manoel ia trabalhar e Cacau pegava o gravador para narrar os jogos, dando voz \u00e0 imagina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
A chegada \u00e0 TV, na antiga RBS, foi em 5 de novembro de 1979, onde ficou quatro d\u00e9cadas e se consolidou, porque conhecido na cidade j\u00e1 era. Manter-se no topo esse tempo todo, segundo ele, foi \u201cuma b\u00ean\u00e7\u00e3o de Deus\u201d. Como o pai teve uma vida intensa, Cacau diz que pegou dele o lado pol\u00eamico e a vontade de ser um cara popular, conhecido na rua e conseguiu.<\/p>\n
Cacau e uma das netas \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
\u201cComecei cedo, n\u00e3o fiz faculdade e era curioso. Estava marcado que ia ser alguma coisa e rezava muito. Quase todo dia ia para a Catedral, me ajoelhava em frente a S\u00e3o Judas Tadeu e pedia: \u2018me salva, me d\u00ea um emprego. Me d\u00ea um futuro, uma luz\u2019. Lutei muito, n\u00e3o sabia que ia durar tanto\u201d, afirma Cacau.<\/p>\n
Venerado pela maioria, sabe que n\u00e3o \u00e9 unanimidade e tamb\u00e9m lida com cr\u00edticas. \u201cMinha posi\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 para levar ningu\u00e9m para compadre. Se \u00e9 segredo, n\u00e3o me conta. Meus amigos j\u00e1 sabem dessa regra. E se for corrupto, criminoso, agressor, n\u00e3o quero mais como amigo\u201d, diz Cacau.<\/p>\n
Maradona e Cacau Menezes \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
Os posicionamentos pol\u00edticos, segundo ele, tamb\u00e9m afastaram algumas pessoas, ali\u00e1s, algo que n\u00e3o vivencia sozinho. \u201cQuando come\u00e7ou essa polariza\u00e7\u00e3o pol\u00edtica, deixei de lado algumas pessoas que tinha como meu irm\u00e3o\u201d, lamenta.<\/p>\n
Quando o assunto \u00e9 m\u00fasica, o que poderia soar incoerente, para ele, \u00e9 uma forma de separar as coisas. Embora discorde das posi\u00e7\u00f5es pol\u00edticas dos artistas nacionais, segue ouvindo e apreciando as obras.<\/p>\n
Cacau num dos encontros com Caetano Veloso \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
\u201cJamais vou deixar de ouvir e ver show do Caetano, um dos meus \u00eddolos. Artista excepcional. Chico Buarque tamb\u00e9m. Essa turma \u00e9 toda de esquerda, ent\u00e3o, como vou romper? Rasgar o meu passado, o meu gosto? N\u00e3o, eu separo as coisas\u201d, diz.<\/p>\n
Manoel de Menezes, a figura paterna, foi o espelho de Cl\u00e1udio e depois de Cacau. Foi quem o levou para trabalhar e quem o defendeu em todas as situa\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
\u201cFoi parceira\u00e7o, fez o que eu quis, me deu carro, moto, emprego, profiss\u00e3o, coragem, exemplos. \u2018Dinheiro n\u00e3o cai do c\u00e9u, n\u00e3o tens pai, nem av\u00f4 rico, n\u00e3o vais ter heran\u00e7a, vai buscar a tua grana\u2019. Meu pai me fez um homem, um guerreiro\u201d, ressalta Cacau.<\/p>\n
Se por um lado sempre reverencia a rela\u00e7\u00e3o com o pai, por outro, Bras\u00edlia Silva Menezes, a m\u00e3e, \u00e9 mencionada rar\u00edssimas vezes. Trata-se de uma ferida e a inten\u00e7\u00e3o \u00e9 contar os detalhes no livro biogr\u00e1fico.<\/p>\n
\u201cMantive uma certa dist\u00e2ncia, \u00e9 algo que me deixa triste. Na minha inf\u00e2ncia e adolesc\u00eancia parecia ser a melhor m\u00e3e do mundo, depois, fez coisas que n\u00e3o foram legais. Mas \u00e9 a m\u00e3e, sempre vou visitar, perdoei. Fa\u00e7o carinho na cabe\u00e7a dela, ela fecha os olhos. Acho que a coisa que ela mais esperou foi essa aproxima\u00e7\u00e3o. Qual \u00e9 a m\u00e3e que n\u00e3o quer ter um filho, principalmente na despedida de vida do lado?\u201d, diz Cacau, emocionado.<\/p>\n
Al\u00e9m da m\u00e3e, ele acredita que perdoou todo mundo e que o desafio, agora, \u00e9 o autoperd\u00e3o. Com os exames bons, acredita que vai durar mais alguns anos. Depois do c\u00e2ncer, em 2010, e da leucemia h\u00e1 quatro anos, intensificou os cuidados. \u201cEspero morrer dormindo. E ainda vou viver, porque me sinto ainda um cara de 30 anos e minhas lembran\u00e7as s\u00e3o de 12, 15 anos\u201d, afirma.<\/p>\n
Cacau e uma das filhas \u2013 Foto: Arquivo pessoal<\/p>\n<\/div>\n
Na parceria com Elvira, Cacau deu vida a uma constela\u00e7\u00e3o: Maria Claudia, Maria Vit\u00f3ria e Maria C\u00e2ndida, as tr\u00eas marias, al\u00e9m de Manoel. O nascimento da primog\u00eanita foi estrondoso.<\/p>\n
\u201cO maior impacto que tive na vida. Sempre quis\u201d. Cacau tamb\u00e9m \u00e9 irm\u00e3o do Marcelo, da C\u00e1tia e da Mirella, e muito ligado a todos. \u201cQuando minha m\u00e3e foi embora para o Rio, a C\u00e1tia praticamente substituiu ela na cria\u00e7\u00e3o dos irm\u00e3os\u201d, conta.<\/p>\n
Em 2010, com tudo pronto para embarcar para \u00c1frica do Sul a fim de cobrir mais uma Copa do Mundo, um dos maiores baques da vida: o diagn\u00f3stico de c\u00e2ncer na pr\u00f3stata. Nesse momento, tudo mudou:<\/p>\n
\u201cA vida n\u00e3o avisa quando vem a morte, nem a doen\u00e7a que pode te matar. Tudo \u00e9 uma surpresa. A vida \u00e9 um voo cego. Voc\u00ea pode morrer atropelado. O avi\u00e3o pode cair\u201d. Disposto a manter o projeto Copa do Mundo, recebeu uma inje\u00e7\u00e3o que seguraria as pontas por 40 dias e, depois, cirurgia.<\/p>\n
A doen\u00e7a sumiu e o homem ficou ainda mais forte e um tanto mais cuidadoso. Aos 70 anos, acorda todo dia por volta das 5h, entre 6h e 6h30 come\u00e7a a preparar os textos para os 10 minutos de quadro no Balan\u00e7o Geral, rotina que repete desde 2020, quando entrou no Grupo ND. \u00c0s 9h, toma caf\u00e9 e depois sobe o Morro da Cruz para editar o material, fazer a maquiagem e apresentar tudo ao vivo.<\/p>\n
Salve, salve, simpatia \u2013 Foto: Germano Rorato\/ND<\/p>\n<\/div>\n
Na reta final da corrida, diz que o tempo de trabalho ser\u00e1 menor que o de vida e, quando parar de trabalhar, pretende viver mais uns anos gastando as economias. Superando o luto da partida de um grande amigo que perdeu recentemente, Jair de Oliveira, o Jair da Dinamarca, participando da hist\u00f3ria dos filhos e netos, com 70 anos, Cacau se v\u00ea diante de um novo baque, por\u00e9m, n\u00e3o se enxerga nem com 70 nem com 60:<\/p>\n
\u201cEmo\u00e7\u00f5es eu vivi e elas v\u00e3o continuar. E voc\u00eas v\u00e3o ter que me engolir, como dizia o mestre Zagalo para os argentinos. Vamos em frente, segue o baile e pode ter certeza que, quando eu me sentir ultrapassado, cansado, desmotivado, injusto e sacana, vou parar.\u201d<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Ele j\u00e1 esteve ao lado de Maradona, entrevistou Chico Buarque e tem Caetano Veloso como \u00eddolo. Na fase atual, o modelo \u00e9 Mick Jagger. Tamb\u00e9m ouve muito Roberto Carlos e Bob Dylan, agora pilotando uma Harley-Davidson, passeando por Coqueiros, relembrando os bons tempos. Manezinho, filho de Manoel e Bras\u00edlia, Cl\u00e1udio… Continue lendo