Medo de uma recess\u00e3o nos Estados Unidos gera receio de investidores em aplicar seus recursos no pa\u00eds. No Brasil, as tarifas menores em compara\u00e7\u00e3o com outros pa\u00edses podem criar oportunidades comerciais. O presidente dos EUA, Trump, faz an\u00fancios sobre tarifas na Casa Branca
\nReuters\/Carlos Barria
\nNo dia seguinte ao an\u00fancio das esperadas tarifas rec\u00edprocas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, os mercados financeiros globais est\u00e3o em polvorosa.
\nO d\u00f3lar \u00e9 um dos ativos mais afetados. O \u00edndice DXY, que mede o desempenho da moeda americana em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s principais moedas do mundo, est\u00e1 em forte queda. Por volta das 12h, o \u00edndice ca\u00eda mais de 2%, atingindo a menor cota\u00e7\u00e3o desde setembro. No Brasil, o d\u00f3lar tinha baixa de 1,80%, a R$ 5,60.
\nAs principais bolsas de valores do mundo registram fortes quedas. Na \u00c1sia, os mercados fecharam em baixa, com destaque para recuo de quase 3% no Jap\u00e3o. A Europa caminha para o mesmo desfecho, com quedas na casa dos 2%.
\nNos EUA, a situa\u00e7\u00e3o \u00e9 ainda pior: o \u00edndice Dow Jones ca\u00eda 3,49%, o S&P 500, 3,85%, e o Nasdaq recuava 4,76%.
\nA queda no d\u00f3lar e recuo das bolsas \u00e9 consequ\u00eancia da expectativa de que as tarifas de Trump podem levar os EUA a uma recess\u00e3o econ\u00f4mica. Tarifas maiores tamb\u00e9m devem encarecer produtos que chegam aos EUA, subindo o pre\u00e7o de insumos para a produ\u00e7\u00e3o de bens e servi\u00e7os no pa\u00eds. \u00c9 um cen\u00e1rio que reduz o lucro das empresas e piora a infla\u00e7\u00e3o.
\nNa contram\u00e3o do mercado global, o Ibovespa, principal \u00edndice de a\u00e7\u00f5es da bolsa brasileira, opera em alta, aos 131 mil pontos. A avalia\u00e7\u00e3o de analistas \u00e9 de que as taxas anunciadas para o Brasil, de 10%, foram as menores do tarifa\u00e7o.
\nAl\u00e9m disso, as tarifas podem abrir portas para exportadores brasileiros, que podem ganhar espa\u00e7o com novos parceiros comerciais.
\nEntenda abaixo os motivos por tr\u00e1s da queda do d\u00f3lar e alta do Ibovespa.
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\nD\u00f3lar em queda, com medo de recess\u00e3o no radar
\nOs agentes do mercado financeiro reagiram mal \u00e0s tarifas anunciadas por Trump, pois h\u00e1 uma grande expectativa de que essas taxas possam levar o pa\u00eds a uma recess\u00e3o.
\nEspecialistas ouvidos pelo g1 explicam que o impacto das tarifas ser\u00e1 sentido em duas \u00e1reas:
\nPrimeiro, as taxas maiores devem gerar mais infla\u00e7\u00e3o;
\nDepois, a uma queda na atividade econ\u00f4mica.
\nAs regi\u00f5es que receberam as maiores tarifas dos EUA foram \u00c1sia e Europa (veja a lista de todas as tarifas mais abaixo), porque s\u00e3o as regi\u00f5es com as quais os EUA t\u00eam os maiores d\u00e9ficits comerciais, pontua o economista Paulo Gala, do Banco Master.
\nGala explica que muitos desses pa\u00edses se especializaram na produ\u00e7\u00e3o de determinados produtos e conseguem muito espa\u00e7o no mercado americano, como os ve\u00edculos chineses, os chips taiwaneses e as bebidas europeias, por exemplo.
\nComo o mercado americano consome muito desses produtos importados, o in\u00edcio da cobran\u00e7a das tarifas \u2014 que variam de 10% a at\u00e9 50% e ser\u00e3o somadas a outras taxas j\u00e1 anunciadas pelo presidente para alguns pa\u00edses \u2014 deve causar um grande choque inflacion\u00e1rio no pa\u00eds.
\nTanto os produtos que j\u00e1 chegam prontos ao solo americano, quanto insumos utilizados em v\u00e1rias outras cadeias produtivas ficar\u00e3o mais caros por conta das taxas, o que deve ser repassado do produtos para o consumidor.
\nNo entanto, ap\u00f3s esse choque inicial, especialistas avaliam que o consumidor americano deve reduzir seus n\u00edveis de consumo, justamente por tudo estar mais caro.
\nCom as empresas com dificuldade para produzir seus bens e servi\u00e7os por conta dos insumos mais caros e uma redu\u00e7\u00e3o no consumo, os EUA podem viver um per\u00edodo de desacelera\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica e at\u00e9 enfrentar uma recess\u00e3o.
\nENTENDA: EUA est\u00e3o a caminho de uma recess\u00e3o?
\nEssa perspectiva de recess\u00e3o leva os investidores a acreditarem que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deva iniciar um ciclo de corte em suas taxas de juros em breve.
\nIsso porque, quanto maiores os juros, mais cara fica a tomada de cr\u00e9dito para empresas e popula\u00e7\u00e3o, o que tamb\u00e9m reduz o n\u00edvel de investimentos em produ\u00e7\u00e3o e consumo. Assim, o mercado espera ver esses cortes para que a desacelera\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica no pa\u00eds n\u00e3o seja t\u00e3o forte.
\n“Os investidores (j\u00e1 est\u00e3o) passando a precificar at\u00e9 tr\u00eas cortes na taxa b\u00e1sica de juros dos Estados Unidos ainda neste ano”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reaserach. Hoje, os juros est\u00e3o entre 4,25% e 4,50% ao ano.
\nE os juros menores nos EUA reduzem a competitividade do pa\u00eds no cen\u00e1rio de ativos internacionais, j\u00e1 que eles servem de refer\u00eancia para a rentabilidade dos t\u00edtulos p\u00fablicos americanos. Esse combo de expectativa por uma recess\u00e3o e juros menores s\u00e3o os respons\u00e1veis pela queda do d\u00f3lar pelo mundo neste preg\u00e3o, explica Sung.
\nAl\u00e9m disso, Andr\u00e9 Val\u00e9rio, economista do Inter, destaca que o diferencial de juros entre Brasil e EUA tamb\u00e9m beneficiam a moeda brasileira em detrimento do d\u00f3lar.
\nA Selic, taxa b\u00e1sica de juros da economia brasileira, est\u00e1 em 14,25% ao ano e ainda h\u00e1 perspectiva de pelo menos mais uma alta \u2014 no sentido contr\u00e1rio \u00e0s baixas esperadas nos EUA.
\nCom isso, a rentabilidade dos t\u00edtulos p\u00fablicos brasileiros fica muito mais atrativa do que os americanos, privilegiando os investimentos no pa\u00eds e contribuindo para uma valoriza\u00e7\u00e3o do real.
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\nBolsa brasileira em alta, na contram\u00e3o do resto do mundo
\nNa contram\u00e3o das bolsas asi\u00e1ticas e europeias, que amargam quedas de mais de 3%, em alguns casos, o Ibovespa vive um dia de alta. Por volta das 12h, o \u00edndice tinha alta de 0,30%.
\nO analista financeiro Vitor Miziara afirma que a raz\u00e3o para esse movimento oposto \u00e9 simples: o Brasil recebeu a menor das tarifas apresentadas por Trump, de 10%.
\n“Brasil pode ser um belo beneficiado por ter uma das menores tarifas em rela\u00e7\u00e3o a todos emergentes e exportadores para os EUA e isso pode beneficiar o mercado”, diz Miziara.
\nCom taxas menores do que outros exportadores, os produtores americanos que importam produtos e insumos podem buscar os brasileiros e fechar mais neg\u00f3cios com o pa\u00eds, j\u00e1 que a tarifa menor tamb\u00e9m torna a importa\u00e7\u00e3o menos cara do que em outros casos.
\nNo mesmo sentido, outro pa\u00eds que tamb\u00e9m recebeu tarifas de 10% e vive um dia de alta nos mercados, mesmo que em menor propor\u00e7\u00e3o que o Brasil, \u00e9 o Chile.
\nAl\u00e9m de poder exportar mais para os EUA, especialistas ainda consideram que, com as taxas anunciadas por Trump para outras regi\u00f5es, o Brasil tamb\u00e9m pode ter mais facilidade para negociar com outros parceiros comerciais.
\nEm entrevista ao GloboNews, Carlos Frederico Coelho, professor de Rela\u00e7\u00f5es Internacionais da PUC-RJ, explicou que, apesar de n\u00e3o serem boas, as tarifas podem abrir novos caminhos para o Brasil.
\n“O Brasil n\u00e3o foi um dos mais prejudicados, primeiramente. A maior concentra\u00e7\u00e3o \u00e9 em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 China, e isso deve abrir algumas oportunidades espec\u00edficas para a ind\u00fastria brasileira”, pontua Coelho. “\u201cO efeito que isso tem ou pode ter \u00e9 abrir novos mercados, que est\u00e3o sendo afetados por essas novas tarifas, para produtos brasileiros. Ganhos setoriais s\u00e3o poss\u00edveis para o Brasil”.
\nVeja todas as tarifas anunciadas por Trump aos pa\u00edses:<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"