{"id":198888,"date":"2025-04-03T15:26:46","date_gmt":"2025-04-03T18:26:46","guid":{"rendered":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/198888"},"modified":"2025-04-03T15:26:46","modified_gmt":"2025-04-03T18:26:46","slug":"estudo-revela-onde-o-maior-felino-das-americas-vive-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/198888","title":{"rendered":"Estudo revela onde o maior felino das Am\u00e9ricas vive na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"

Pesquisa in\u00e9dita estimou a densidade populacional da on\u00e7a-pintada em 22 \u00e1reas protegidas e 4 pa\u00edses que abrigam a floresta amaz\u00f4nica. Pesquisa estima densidade do felino em \u00e1reas protegidas da Amaz\u00f4nia
\nEmiliano Ramalho
\nQuantas on\u00e7as-pintadas vivem na Amaz\u00f4nia? Essa pergunta, simples na forma, acaba de ganhar uma resposta robusta com base em anos de trabalho de campo, parcerias cient\u00edficas e mais de 40 campanhas com armadilhas fotogr\u00e1ficas espalhadas pela floresta.
\nUma pesquisa in\u00e9dita, liderada pelo bi\u00f3logo Guilherme Alvarenga, analista de pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel Mamirau\u00e1, estimou, com base em dados coletados entre 2005 e 2020, a densidade populacional da on\u00e7a-pintada (Panthera onca) em 22 \u00e1reas protegidas da Amaz\u00f4nia, nos territ\u00f3rios do Brasil, Peru, Col\u00f4mbia e Equador.
\nAs \u00e1reas protegidas analisadas na pesquisa possuem diferentes categorias de prote\u00e7\u00e3o, como Parques Nacionais, Reservas Extrativistas, Terras Ind\u00edgenas, entre outras. Elas abrangem uma diversidade de ambientes, incluindo florestas de terra firme e regi\u00f5es alagadas, como as florestas de v\u00e1rzea e igap\u00f3.
\nAo todo, 6.389 on\u00e7as-pintadas foram identificadas nas imagens obtidas por armadilhas fotogr\u00e1ficas, que permitem reconhecer cada indiv\u00edduo pelas pintas \u00fanicas em sua pelagem \u2014 como se fossem impress\u00f5es digitais naturais.
\nAs informa\u00e7\u00f5es coletadas foram processadas por meio de um modelo espacial de captura-recaptura, permitindo calcular a densidade de on\u00e7as-pintadas em cada uma das \u00e1reas protegidas estudadas. A m\u00e9dia registrada foi de 3,08 indiv\u00edduos por 100 km\u00b2, embora esse n\u00famero tenha apresentado varia\u00e7\u00f5es significativas entre as diferentes regi\u00f5es analisadas.
\nO funcionamento do m\u00e9todo \u00e9 relativamente simples: as c\u00e2meras utilizadas possuem sensores de movimento e calor, que s\u00e3o ativados automaticamente quando um animal passa em frente a elas. Como cada on\u00e7a tem um padr\u00e3o exclusivo de pintas, os pesquisadores conseguem identificar cada indiv\u00edduo registrado.
\nAs on\u00e7as-pintadas foram identificadas nas imagens obtidas por armadilhas fotogr\u00e1ficas
\nEmiliano Ramalho
\nA partir disso, essas informa\u00e7\u00f5es s\u00e3o inseridas em modelos estat\u00edsticos que, combinando os dados de movimenta\u00e7\u00e3o dos animais, tamanho da \u00e1rea monitorada e n\u00famero de vezes que cada on\u00e7a aparece nas fotos, estimam quantos indiv\u00edduos vivem naquela regi\u00e3o. Dessa forma, \u00e9 poss\u00edvel chegar a estimativas robustas e padronizadas da densidade populacional da esp\u00e9cie em diferentes pontos da floresta.
\n“Eu diria que a gente conseguiu ter uma amostragem bem legal, uma cobertura bem interessante, o que nos permitiu entender que foi o que eu diria, o principal resultado do nosso trabalho que foi refor\u00e7ar, mostrar mais uma vez a import\u00e2ncia que as unidades de conserva\u00e7\u00e3o, sejam elas de base ind\u00edgena ou n\u00e3o, t\u00eam para a preserva\u00e7\u00e3o das on\u00e7as e refor\u00e7ando o que j\u00e1 existia na literatura para outros grupos tamb\u00e9m”, explica Guilherme Alvarenga, autor do artigo.
\nQuase 10 on\u00e7as por 100 km\u00b2: Mamirau\u00e1 lidera
\nA campe\u00e3 de densidade foi a Reserva de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel Mamirau\u00e1, no estado do Amazonas. L\u00e1, a m\u00e9dia foi de impressionantes 9,97 on\u00e7as a cada 100 km\u00b2 \u2014 um n\u00famero compar\u00e1vel aos maiores j\u00e1 registrados para a esp\u00e9cie no Pantanal. J\u00e1 a menor densidade foi observada na Reserva Biol\u00f3gica do Cuieiras, tamb\u00e9m no Amazonas, com apenas 0,6 on\u00e7as por 100 km\u00b2.
\nEssa varia\u00e7\u00e3o, segundo o estudo, se explica principalmente pela produtividade prim\u00e1ria da floresta, ou seja, a capacidade daquele ecossistema de gerar biomassa \u2014 o que est\u00e1 diretamente ligado \u00e0 oferta de presas para os grandes felinos.
\n“Os nossos estudos, as nossas modelagens, elas mostraram que a densidade de on\u00e7as \u00e9 diretamente ligada \u00e0 produtividade prim\u00e1ria da floresta. O que \u00e9 isso? O quanto que a floresta consegue ser produtiva ou n\u00e3o, no sentido de crescimento, de produ\u00e7\u00e3o de frutos e tudo mais. Mamirau\u00e1 est\u00e1 numa das \u00e1reas com maior fertilidade da Amaz\u00f4nia porque ele se encontra numa regi\u00e3o de v\u00e1rzea”, diz o autor do artigo.
\nReserva de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel Mamirau\u00e1 teve uma m\u00e9dia de 9,97 on\u00e7as a cada 100 km\u00b2
\nMiguel Monteiro
\nGuilherme explica que as \u00e1reas de v\u00e1rzea s\u00e3o florestas que alagadas por rios de \u00e1gua branca, como o Amazonas ou Solim\u00f5es, que v\u00eam de uma regi\u00e3o que \u00e9 mais jovem geologicamente, a regi\u00e3o dos Andes.
\nLEIA TAMB\u00c9M
\nEntre secas e cheias: diferen\u00e7as no modo de vida das on\u00e7as-pintadas na Reserva Mamirau\u00e1, no Amazonas
\nConhe\u00e7a a comunidade que vive de acordo com o sobe e desce das \u00e1guas
\nTanto a regi\u00e3o andina, da interface Amaz\u00f4nia-Andes, quanto as calhas, as \u00e1reas alagadas por rios que nascem nessa regi\u00e3o, s\u00e3o regi\u00f5es que t\u00eam alta quantidade de nutrientes e, por consequ\u00eancia, os solos s\u00e3o mais f\u00e9rteis e as florestas tendem a ser mais produtivas, beneficiando todo o restante da cadeia alimentar.
\nA gente tende a ter uma maior riqueza e abund\u00e2ncia, maior riqueza de esp\u00e9cie, maior abund\u00e2ncia de fauna dessas esp\u00e9cies, o que em \u00faltima etapa vai beneficiar os predadores, os carn\u00edvoros topo da cadeia, como a on\u00e7a, e Mamirau\u00e1 \u00e9 uma dessas regi\u00f5es, ent\u00e3o provavelmente as altas densidades de on\u00e7a na regi\u00e3o prov\u00eam dessa disponibilidade de presas que permite que a unidade de conserva\u00e7\u00e3o mantenha uma popula\u00e7\u00e3o t\u00e3o alta
\nImport\u00e2ncia das \u00e1reas protegidas
\nApesar de cobrirem apenas cerca de 5% da \u00e1rea total da Amaz\u00f4nia, as 22 unidades analisadas j\u00e1 abrigam mais on\u00e7as do que existem tigres no mundo \u2014 cuja popula\u00e7\u00e3o global na natureza est\u00e1 estimada em cerca de 3.000 indiv\u00edduos. Esse n\u00famero mostra como a Amaz\u00f4nia ainda \u00e9 um reduto fundamental para a conserva\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie, e como as \u00e1reas protegidas e terras ind\u00edgenas desempenham um papel vital nesse cen\u00e1rio.
\n“Se nesse tamanho a gente conseguiu estimar 6 mil on\u00e7as, voc\u00ea imagina o quanto de on\u00e7a que existe na Amaz\u00f4nia, n\u00e9, o que vem como alento pra conserva\u00e7\u00e3o. Apesar de toda a perda de h\u00e1bitat, todo desmatamento, todas as popula\u00e7\u00f5es que est\u00e3o ficando isoladas, pelo menos ainda na Amaz\u00f4nia, tudo indica que a gente tem uma popula\u00e7\u00e3o muito saud\u00e1vel, que tem que ser cuidada, tem que ser monitorada e para garantir que ela permane\u00e7a dessa forma”, informa o pesquisador do Instituto Mamirau\u00e1.
\nEsse resultado refor\u00e7a o que outros estudos j\u00e1 indicavam: o Brasil provavelmente abriga a maior popula\u00e7\u00e3o de on\u00e7as-pintadas em toda a \u00e1rea de distribui\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie \u2014 e grande parte dessa popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 na Amaz\u00f4nia. Por isso, segundo o pesquisador, \u00e9 fundamental que esse privil\u00e9gio seja levado em conta na formula\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas voltadas \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o da fauna e dos ecossistemas brasileiros.
\nEsse resultado refor\u00e7a o que outros estudos j\u00e1 indicavam: o Brasil provavelmente abriga a maior popula\u00e7\u00e3o de on\u00e7as-pintadas em toda a \u00e1rea de distribui\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie \u2014 e grande parte dessa popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 na Amaz\u00f4nia. Por isso, segundo o pesquisador, \u00e9 fundamental que esse privil\u00e9gio seja levado em conta na formula\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas voltadas \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o da fauna e dos ecossistemas brasileiros.
\nAs informa\u00e7\u00f5es coletadas foram processadas por meio de um modelo espacial de captura-recaptura, permitindo calcular a densidade de on\u00e7as-pintadas em cada uma das \u00e1reas protegidas estudadas
\nMiguel Monteiro
\nO estudo tamb\u00e9m refor\u00e7a a import\u00e2ncia do monitoramento cont\u00ednuo e da valoriza\u00e7\u00e3o de territ\u00f3rios com alta produtividade prim\u00e1ria. Para Guilherme Alvarenga, o mapeamento da densidade de on\u00e7as pode orientar pol\u00edticas p\u00fablicas de conserva\u00e7\u00e3o, priorizando \u00e1reas-chave da floresta, especialmente as v\u00e1rzeas.
\n\u201cA gente sabe a import\u00e2ncia que as \u00e1reas protegidas t\u00eam, sejam elas ind\u00edgenas ou n\u00e3o, para as on\u00e7as pintadas e, claro, para outras esp\u00e9cies. Existem \u00e1reas no Brasil, na Amaz\u00f4nia, que n\u00e3o foram tituladas, e elas n\u00e3o t\u00eam designa\u00e7\u00e3o ainda. Ent\u00e3o, por exemplo, elas poderiam ser transformadas em \u00e1reas protegidas para, assim, garantir o status, a qualidade ambiental que elas t\u00eam no momento e preservar todas as popula\u00e7\u00f5es\u201d.
\nApesar da for\u00e7a simb\u00f3lica e ecol\u00f3gica da on\u00e7a-pintada, os riscos \u00e0 sua sobreviv\u00eancia persistem \u2014 inclusive dentro de \u00e1reas protegidas. Para Alvarenga, o maior perigo pode estar no que acontece ao redor dessas unidades.
\n\u201cA minha recomenda\u00e7\u00e3o, por exemplo, de ordem pr\u00e1tica seria focar nas \u00e1reas n\u00e3o designadas que est\u00e3o a\u00ed abandonadas servindo para a grilagem e para o avan\u00e7o do desmatamento e transform\u00e1-las em parques e unidades de conserva\u00e7\u00e3o para a gente manter o m\u00e1ximo de \u00e1rea protegida dentro do bioma amaz\u00f4nico\u201d, reflete o bi\u00f3logo.
\nBrasil provavelmente abriga a maior popula\u00e7\u00e3o de on\u00e7as-pintadas em toda a \u00e1rea de distribui\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie
\nEmiliano Ramalho
\nA perda de conectividade entre territ\u00f3rios \u00e9 um problema grave, n\u00e3o s\u00f3 para as on\u00e7as, mas para toda a biodiversidade amaz\u00f4nica. Esse isolamento, explica o pesquisador, favorece o chamado efeito de borda: fragmentos antes cont\u00ednuos passam a receber mais luz solar, vento e calor nas extremidades, o que torna a floresta mais seca e vulner\u00e1vel a queimadas.
\nAo longo do desenvolvimento da pesquisa, uma das maiores surpresas foi a comprova\u00e7\u00e3o da enorme quantidade de on\u00e7as-pintadas abrigadas pelas \u00e1reas protegidas da Amaz\u00f4nia. Mesmo com uma amostragem pequena diante da vastid\u00e3o do bioma, o n\u00famero de on\u00e7as identificadas foi significativo, superando o de pa\u00edses inteiros que tamb\u00e9m abrigam a esp\u00e9cie, como o M\u00e9xico.
\nA prote\u00e7\u00e3o da on\u00e7a-pintada e da natureza como um todo tamb\u00e9m passa pelo comportamento da sociedade. Segundo Alvarenga, \u00e9 fundamental que as pessoas consumam com mais responsabilidade e consci\u00eancia sobre os impactos gerados.
\n\u201cA gente vive num planeta com recursos que s\u00e3o finitos e tudo que a gente consome vem desses recursos, ent\u00e3o a gente precisa ter um pouco de consci\u00eancia, e para al\u00e9m disso eu acho que a gente precisa come\u00e7ar a se posicionar e dar mais valor para a natureza, para a biodiversidade que o nosso pa\u00eds abriga e come\u00e7ar a cobrar pol\u00edticas p\u00fablicas dos nossos governantes para que n\u00f3s, como na\u00e7\u00e3o, possamos ter planos de longo prazo para manuten\u00e7\u00e3o da floresta, da biodiversidade, dos nossos biomas\u201d, finaliza.
\n*Texto sob supervis\u00e3o de Lizzy Arruda
\nV\u00cdDEOS: Destaques Terra da Gente
\nVeja mais conte\u00fados sobre a natureza no Terra da Gente<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Pesquisa in\u00e9dita estimou a densidade populacional da on\u00e7a-pintada em 22 \u00e1reas protegidas e 4 pa\u00edses que abrigam a floresta amaz\u00f4nica. Pesquisa estima densidade do felino em \u00e1reas protegidas da Amaz\u00f4nia Emiliano Ramalho Quantas on\u00e7as-pintadas vivem na Amaz\u00f4nia? Essa pergunta, simples na forma, acaba de ganhar uma resposta robusta com base… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-198888","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/198888","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=198888"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/198888\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=198888"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=198888"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=198888"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}