O papel da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio vem perdendo espa\u00e7o. Entre os motivos, o aumento das negocia\u00e7\u00f5es bilaterais e regionais, e a dificuldade em concluir a Rodada de Doha. OMC prev\u00ea queda de 1% no com\u00e9rcio global esse ano
\nA Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio prev\u00ea que as tarifas americanas v\u00e3o reduzir os neg\u00f3cios globais em 1% em 2025.
\nO c\u00e1lculo est\u00e1 no comunicado da diretora-geral da OMC divulgado nesta quinta-feira (3). Ngozi Okonjo-Iweala expressou preocupa\u00e7\u00e3o e frisou:
\n“Muitos membros j\u00e1 entraram em contato, e n\u00f3s estamos dialogando para responder sobre o potencial impacto nas economias e no sistema de com\u00e9rcio global. Os an\u00fancios recentes v\u00e3o ter implica\u00e7\u00f5es significativas no com\u00e9rcio global e nas previs\u00f5es de crescimento econ\u00f4mico. As nossas estimativas sugerem que essas medidas, juntamente com as introduzidas no in\u00edcio do ano, poder\u00e3o levar a uma contra\u00e7\u00e3o global de cerca de 1% no volume do com\u00e9rcio mundial esse ano – uma baixa de quase quatro pontos percentuais em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s proje\u00e7\u00f5es anteriores\u201d.
\nA nota prossegue:
\n“Medidas comerciais dessa magnitude t\u00eam o potencial de provocar efeitos de distor\u00e7\u00e3o significativa no com\u00e9rcio. Apelo que os membros da OMC atuem de forma respons\u00e1vel para evitar a prolifera\u00e7\u00e3o de tens\u00f5es comerciais\u201d.
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\nA OMC foi criada para servir exatamente em momentos como este, ela destacou. Lago Leman: bem em frente fica a sede da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio. A constru\u00e7\u00e3o \u00e9 imponente. Mas o papel vem perdendo espa\u00e7o. Entre os motivos, o aumento das negocia\u00e7\u00f5es bilaterais e regionais e a dificuldade em concluir a Rodada de Doha – uma grande reforma da OMC.
\nA crise se agravou em 2018, quando o \u00f3rg\u00e3o de apela\u00e7\u00e3o do principal mecanismo de solu\u00e7\u00e3o de disputas parou de funcionar. Justamente porque Donald Trump, ainda no primeiro mandato, barrou a nomea\u00e7\u00e3o de novos ju\u00edzes para pressionar por reformas.
\nOMC prev\u00ea que tarifas americanas v\u00e3o reduzir neg\u00f3cios globais em 1% em 2025
\nJornal Nacional\/ Reprodu\u00e7\u00e3o
\nMesmo assim, a OMC ainda \u00e9 um canal para negocia\u00e7\u00f5es comerciais. O advogado Pablo Bentes contou que o telefone dele nesta quinta-feira (3) n\u00e3o parou. O brasileiro j\u00e1 foi assessor jur\u00eddico justamente no \u00f3rg\u00e3o de apela\u00e7\u00e3o. Agora, representa pa\u00edses membros nas disputas – entre eles, Brasil, Reino Unido, Jap\u00e3o e Canad\u00e1. Segundo ele, ainda faz sentido pa\u00edses recorrerem \u00e0 OMC.
\n“A organiza\u00e7\u00e3o continua funcionando. Tem uma fun\u00e7\u00e3o de solu\u00e7\u00e3o de controv\u00e9rsias que est\u00e1 paralisada apenas na segunda inst\u00e2ncia. Ent\u00e3o, a primeira inst\u00e2ncia continua rolando e a segunda inst\u00e2ncia \u00e9 que est\u00e1 paralisada. Um relat\u00f3rio de primeira inst\u00e2ncia ainda serve de moeda de troca nas negocia\u00e7\u00f5es comerciais para evitar barreiras ao acesso a mercados, a bens e servi\u00e7os\u201d, diz o advogado Pablo Bentes.
\nO ex-chefe da OMC, o brasileiro Roberto Azev\u00eado, destaca que, apesar do isolacionismo americano, os demais pa\u00edses ainda podem seguir lucrando com as regras e quem sabe usar a atual crise para, enfim, reformar a organiza\u00e7\u00e3o.
\n“Eles podem at\u00e9 querer adensar o relacionamento entre eles negociando acordo de livre com\u00e9rcio, aproxima\u00e7\u00e3o comercial para justamente compensar essa turbul\u00eancia comercial que est\u00e1 vindo dos Estados Unidos. Agora n\u00e3o tem a menor d\u00favida \u00e9 que haver\u00e1 um impacto muito forte no sistema. Ele precisa ser modernizado, precisa ser atualizado. Quem sabe, com isso tudo, n\u00f3s teremos um impulso que poderia ser dado pelos outros pa\u00edses para poder viabilizar essa reforma do sistema mais abrangente\u201d, diz Roberto Azev\u00eado, consultor e presidente global de opera\u00e7\u00f5es da Ambipar.
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