{"id":200918,"date":"2025-04-06T04:20:31","date_gmt":"2025-04-06T07:20:31","guid":{"rendered":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/200918"},"modified":"2025-04-06T04:20:31","modified_gmt":"2025-04-06T07:20:31","slug":"durante-quase-500-anos-os-velhos-eram-apenas-sobreviventes-diz-escritora","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/noticia\/200918","title":{"rendered":"‘Durante quase 500 anos, os velhos eram apenas sobreviventes’, diz escritora"},"content":{"rendered":"

Em seu mais recente livro, ‘Uma hist\u00f3ria da velhice no Brasil’, Mary Del Priore retrata idosos desde o s\u00e9culo XVI \u201cTudo come\u00e7ou com uma dor no joelho e uma m\u00e3e centen\u00e1ria\u201d, afirma, bem-humorada, a escritora Mary Del Priore na abertura do seu mais recente livro, \u201cUma hist\u00f3ria da velhice no Brasil\u201d. Em 1549, quando Tom\u00e9 de Souza chegou \u00e0 Bahia acompanhado de mil pessoas, entre degredados, colonos pobres e fidalgos, a expectativa de vida era de 21 anos. Era t\u00e3o dif\u00edcil envelhecer, ensina, que \u201cvivia-se a velhice como Deus quisesse ou mandasse\u201d.
\nMary Del Priore, autora de \u201cUma hist\u00f3ria da velhice no Brasil\u201d
\nDivulga\u00e7\u00e3o: Pense D
\nNo entanto, o culto \u00e0 juventude sempre existiu, mostra Priore, autora de mais de 50 livros e uma refer\u00eancia para os estudos hist\u00f3ricos do pa\u00eds. Na Idade M\u00e9dia, menosprezava-se o \u201cfarrapo humano\u201d no qual a idade transforma o corpo; o Renascimento exaltava a beleza do corpo jovem.
\nGuilhermo Piso, m\u00e9dico da comitiva de Maur\u00edcio de Nassau durante a invas\u00e3o holandesa, se impressionou com a longevidade dos nativos. Declarou que ela se devia \u00e0 \u201c\u00e1gua limp\u00edssima, verdadeiro dom dos c\u00e9us\u201d, e ao clima ameno. Entretanto, o que mais impressionou os primeiros cronistas foram as ind\u00edgenas idosas, de seios ca\u00eddos. O fasc\u00ednio pelo corpo feminino dava lugar \u00e0 repulsa: imagens das velhas tupinamb\u00e1s circularam pela Europa remetendo \u00e0s descri\u00e7\u00f5es das feiticeiras feitas pela Inquisi\u00e7\u00e3o cat\u00f3lica.
\nNa verdade, o grande obst\u00e1culo para se contar uma Hist\u00f3ria do envelhecimento \u00e9 que essa etapa da vida humana s\u00f3 come\u00e7ou a ser estudada na d\u00e9cada de 1970. \u201cNuma \u00e9poca sem calend\u00e1rio nem rel\u00f3gio, em que a maioria n\u00e3o sabia quantos anos tinha, o marcador da entrada na velhice, para os homens, era um s\u00f3: a impot\u00eancia\u201d, escreve Priore, incluindo as receitas utilizadas para restaurar o vigor sexual masculino. Para as mulheres, o \u201cfim\u201d chegava com a menopausa: n\u00e3o poder gerar filhos as destitu\u00eda das \u201cvirtudes sociais da maternidade\u201d.
\nNas raras pesquisas de historiadores dem\u00f3grafos para o Brasil colonial, homens e mulheres com mais de 50 anos e at\u00e9 80 est\u00e3o sempre presentes. Curioso \u00e9 que os m\u00e9dicos portugueses, que vieram com a fam\u00edlia real para o Rio de Janeiro em 1808, acreditavam que o cora\u00e7\u00e3o dos velhos diminu\u00eda de volume com a idade. A morte se dava quando \u201cdesaparecia\u201d.
\nEla tamb\u00e9m se debru\u00e7a sobre a velhice dos 4 milh\u00f5es de escravizados que chegaram ao Brasil. A maioria era composta por homens entre 15 e 40 anos. Apesar das condi\u00e7\u00f5es degradantes em que viviam, havia os que envelheciam e acreditavam que aquele era um dom dos deuses \u2013 entendia-se que a longevidade se devia ao fato de a pessoa ter vivido de acordo com a lei dos ancestrais.
\nNa segunda metade do s\u00e9culo XIX, os pr\u00f3prios protagonistas da Hist\u00f3ria passaram a discorrer sobre sua idade. O abolicionista Joaquim Nabuco, por exemplo, via surgirem projetos do qual n\u00e3o participara: \u201cresigno-me a ter tido a minha vez e que outros tenham a sua\u201d. A chama do desejo sexual era vista como um risco para os idosos: \u201cna velhice deve-se desconfiar das excita\u00e7\u00f5es fict\u00edcias produzidas por um regime estimulante ou pelos sonhos da imagina\u00e7\u00e3o; porquanto abreviam-se certamente os dias ou seriam ceifados pela morte s\u00fabita\u201d.
\nNa virada para o s\u00e9culo XX, com o fim da monarquia, ser velho tornou-se ainda mais inc\u00f4modo. A velocidade imperava, com trens, bondes e os primeiros autom\u00f3veis. O progresso era sin\u00f4nimo de urbaniza\u00e7\u00e3o acelerada, culto aos esportes e da idealiza\u00e7\u00e3o do corpo. Cronistas definiam que a meia-idade era compreendida entre os 35 e 42 anos; a idade madura, dos 43 aos 49; o decl\u00ednio, de 57 a 63; a velhice, de 64 a 70; na sequ\u00eancia, vinha a decrepitude.
\nEm 1920, a expectativa de vida era de 34,5 anos. \u201cDurante quase 500 anos, os velhos eram apenas sobreviventes. No s\u00e9culo XXI, a velhice parece ser uma conquista\u201d, analisa. Priore encerra o livro dizendo, enquanto o escrevia, a dor no joelho sumira e sua m\u00e3e falecera. \u201cMorreu \u00e0 antiga, em casa, com a filha e o neto ao p\u00e9 da cama. Exemplar, ela viveu intensamente todas as idades\u201d. Que possamos todos fazer o mesmo.
\n‘Faz Bem’: veja dicas para envelhecer de maneira saud\u00e1vel<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em seu mais recente livro, ‘Uma hist\u00f3ria da velhice no Brasil’, Mary Del Priore retrata idosos desde o s\u00e9culo XVI \u201cTudo come\u00e7ou com uma dor no joelho e uma m\u00e3e centen\u00e1ria\u201d, afirma, bem-humorada, a escritora Mary Del Priore na abertura do seu mais recente livro, \u201cUma hist\u00f3ria da velhice no… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-200918","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/200918","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=200918"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/200918\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=200918"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=200918"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/acre.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=200918"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}