Sem agentes de trânsito, motoristas de São José enfrentam gargalos nas vias

São José, a quarta maior cidade de Santa Catarina, está entre os municípios que não têm agentes de trânsito exclusivos para fiscalizar e organizar o tráfego. O dado foi abordado em reportagem publicada na edição da última quinta-feira do jornal ND, pelo Núcleo de Dados.

De acordo com a AGT Brasil (Associação Nacional dos Agentes de Trânsito), apenas 31 cidades catarinenses possuem agentes municipais dedicados exclusivamente ao trânsito. Na Grande Florianópolis, apenas Palhoça adota esse modelo.

Motoristas de São José enfrentam gargalos nas vias – Foto: Germano Rorato/ND

Guarda Municipal realiza a função de agentes de trânsito

Enquanto isso, São José delega a fiscalização de trânsito à Guarda Municipal, conforme previsto no Estatuto Geral das Guardas Municipais, acumulando funções tanto na segurança pública quanto no trânsito. A ausência de uma equipe específica para o trânsito traz dificuldades, especialmente em horários de pico. A presença desses profissionais é essencial, como destacou o representante catarinense da AGT Brasil na reportagem.

Entre os oito maiores municípios do Estado, apenas Florianópolis e São José não contam com agentes de trânsito municipais. Joinville, a maior cidade de Santa Catarina, possui uma equipe dedicada, composta por 70 profissionais, o que permite maior controle e organização. No ranking de cidades catarinenses que adotam esse modelo, Blumenau e Itajaí lideram, com 125 e 94 agentes, respectivamente.

Em São José, moradores e empresários que convivem com congestionamentos diários relataram suas dificuldades. Entre os principais gargalos apontados estão a avenida Presidente Kennedy, a rua Gerôncio Thives com a BR-101, a avenida Josué di Bernardi, a rua João Grumiche, e a rua Leoberto Leal.

A rua Gerôncio Thives, na região do Shopping Itaguaçu, é um dos pontos mais críticos relatados por motoristas que enfrentam filas constantes. “O contorno até passar em direção a Palhoça é o que mais me toma tempo. Considero o trânsito de São José mais travado do que fluído. Eu, por exemplo, preciso acordar com bastante antecedência para conseguir chegar no horário no serviço, tudo porque eu sei que o vou enfrentar”, contou a fonoaudióloga Tayle Lourena, 30.

Questionada se acredita que a presença de agentes de trânsito faria diferença, Tayle confirmou que sim. “Com certeza melhoraria. Sempre vejo bastante pessoas furando fila, intensificando ainda mais o congestionamento, e com eles seria mais fácil controlar isso”, ressalta.

Já o editor de vídeo Marcos Pires Machado, 55, que circula diariamente pelo local, também vê dificuldades, embora observe melhorias com a instalação de uma rotatória. “Ainda não é o essencial. Tem muitos momentos que o trânsito para bastante. Outro ponto complicado é a saída da Via Expressa para o shopping. Ali atrapalha muito.” Diferentemente de Tayle, Marcos acredita que a presença de agentes poderia causar receio em motoristas e tornar o tráfego mais lento. “Algumas pessoas, ao ver os agentes, reduzem a velocidade, segurando ainda mais o tráfego.”

Marcos Pires Machado, vê dificuldades no tráfego sem agentes de trânsito

Marcos Pires Machado, vê dificuldades no tráfego sem agentes de trânsito – Foto: Germano Rorato/ND

A empresária Lindair Linhares, dona de uma loja na Avenida Leoberto Leal, relata problemas de mobilidade na região. “Como minha loja é de roupas infantis, no horário de pico, muitos clientes deixam de vir ou enfrentam dificuldades para atravessar a avenida. É uma fila muito grande, mas as motos vão passando pelos corredores numa velocidade grande. Eu já sofri um acidente aqui assim.”

Sem agentes de trânsito, quais as soluções?

Entre as medidas anunciadas pela Prefeitura de São José, está a ampliação do uso de tecnologia, com videomonitoramento para detectar infrações. O reforço no efetivo da Guarda Municipal também é visto como uma tentativa de mitigar os problemas no trânsito. De 110 agentes ativos atualmente no município, a administração municipal anunciou a ampliação em 40% do efetivo da Guarda, por meio de concurso público, mas ainda sem especificar datas.

No entanto, a criação de um corpo de agentes de trânsito municipais não foi mencionada nos planos da prefeitura. Enquanto isso, São José segue lidando com desafios diários que afetam diretamente a qualidade de vida dos moradores e a dinâmica econômica da cidade.

Para comerciantes de São José, BR-101 intensifica problemas

Vice-presidente da CDL de São José, que junto com a Aemflo representa mais de 4.000 empresas, Roberto Carmes ressalta que a cidade enfrenta graves problemas de mobilidade. “São 270 mil habitantes, mais de 117 mil automóveis e 38 mil motos. A BR-101, que corta o território, intensifica os problemas de circulação entre os bairros, prejudicando tanto o comércio local quanto a logística das indústrias”, explica.

Segundo ele, a ausência de vagas de estacionamento e as dificuldades para trafegar pelas principais vias fazem com que muitos cidadãos evitem o comércio local, impactando a economia. “Apesar das ações pontuais, é urgente implementar soluções como semáforos inteligentes, monitoramento por câmeras e ampliação da guarda municipal. O diálogo entre o poder público, empresários e sociedade é essencial para criar políticas que tragam fluidez e segurança ao trânsito urbano”, finaliza.

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