Mais de 20 corpos são encontrados em 2 cemitérios clandestinos descobertos em MT


Polícia Civil e Corpo de Bombeiros continuam em busca de mais corpos. Desde janeiro, 12 foram encontrados no município de Lucas do Rio Verde e outros 12, em Rondonópolis. Até o momento, 8 vítimas foram identificadas e as causas das mortes são investigadas com hipótese de que parte das vítimas tenham sido mortas por uma facção criminosa. 24 corpos foram encontrados enterrados em cemitérios clandestinos de Rondonópolis e Lucas do Rio Verde
Polícia Civil
Desde janeiro, 24 corpos foram encontrados enterrados em cemitérios clandestinos de Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, a 218 km e 360 km de Cuiabá respectivamente, durante buscas por pessoas desaparecidas. O avançado estado de decomposição dificulta a identificação dos corpos. Até o momento, oito vítimas foram identificadas e as causas das mortes estão em investigação.
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Em Rondonópolis, três corpos foram encontrados enterrados em uma área de mata na região da Vila Goulart, na última semana. Desde então, a Polícia Civil vem localizando outras vítimas e, nesta quinta-feira (20), o número de corpos subiu para 12. As buscas no local continuam.
De acordo com a Delegacia de Homicídios do município, a hipótese é de que as vítimas tenham sido mortas por uma facção criminosa. Alguns dos corpos tinham os pés e as mãos amarrados. Calçados e roupas também foram localizados próximos às vítimas.
As equipes chegaram ao local enquanto procuravam por um homem identificado como Policarpo Pereira Alves, de 38 anos, desaparecido desde o dia 13 de dezembro do ano passado.
Até o momento, dois corpos foram identificados:
Luiz Otávio de Souza, de 25 anos, natural de Rondonópolis (MT);
Carla Bruna da Silva Lima, de 35 anos, natural de Lago da Pedra (MA).
A Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) informou que o corpo de Carla precisou ser encaminhado para a capital, onde passou por escaneamento corporal em um sistema de raio-x digital e a identificação foi possível pelo exame de impressões digitais.
Em Lucas do Rio Verde, 11 corpos foram encontrados em covas em uma área isolada, no dia 10 de janeiro. Três dias depois, mais um corpo foi encontrado enquanto a equipe do Corpo de Bombeiros fazia buscas na região com o auxílio de um cão farejador.
Segundo o delegado da Polícia Civil, Allan Vitor Sousa da Mata, o local já estava sob investigação devido os registros de homicídios, sequestros e desaparecimentos de pessoas nos últimos meses. Parte dos corpos estava em processo de esqueletização. Uma vítima foi encontrada em estado de putrefação, o que indica que foi um homicídio recente.
Dessas 12 vítimas, seis foram identificadas:
Rafael Pereira de Souza, de 35 anos, natural de Rondonópolis (MT);
Andris Nadales, de 19 anos, natural da Venezuela;
Wilner Alex de Oliveira Silva, natural de Poxoréu (MT);
Matheus Bonfim de Souza, de 18 anos;
Um adolescente, de 15 anos, natural de Lucas do Rio Verde (MT);
Adriano da Conceição Borges, de 30 anos, natural de Lucas do Rio Verde (MT).
Da esquerda para a direita: Rafael Pereira, Andris, Wilner e Matheus
Reprodução
Segundo a Politec, Adriano estava desaparecido desde março de 2024 e o adolescente, desde setembro. Quatro corpos foram identificados por impressões digitais, e já foram liberados.
Os outros corpos aguardam identificação.
Delegado fala sobre corpos achados enterrados em cemitério clandestino de MT
Processo de identificação
Devido ao avançado estado de decomposição, alguns corpos foram encaminhados para Cuiabá para a realização de exames de DNA. A identificação será realizada por meio do cruzamento de dados com amostras de familiares de pessoas desaparecidas constantes no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG).
A Politec orienta familiares de pessoas desaparecidas para que compareçam a uma das unidades de Medicina Legal do Estado e realizem a coleta de material genético para o confronto com as amostras biológicas das vítimas encontradas.
Para a doação do material genético é necessário que o grau de parentesco dos familiares do desaparecido seja de grau ascendente (pai, mãe, filho, ou mais de um irmão). A coleta é simples e indolor.
Mato Grosso na rota do crime
A violência associada às facções criminosas em Mato Grosso vem deixando rastros de brutalidade e medo em várias regiões do estado. Em Tangará da Serra, a 242 km de Cuiabá, os corpos de Anna Clara Ramos Felipe e Ayla Pereira dos Santos, ambas de 18 anos, foram encontrados em uma região de mata, em janeiro. As torturas e mortes foram transmitidas por videochamada para um preso da Penitenciária Central do Estado (PCE) investigado por encomendar o crime.
O corpo de Anna Clara estava escondido em uma moita e tinha marcas de queimadura nas costas, causadas por tortura. Já o corpo da transexual Ayla foi encontrado em uma cova rasa, amordaçado e também apresentava marcas de queimadura nas costas. As vítimas tinham envolvimento com uma facção criminosa, e as mortes foram ordenadas por uma organização criminosa.
No ano passado, a adolescente Gabriela da Silva Pereira, de 16 anos, foi torturada e morta após fazer uma live criticando a qualidade da droga vendida por uma facção, em Cáceres, a 20 km de Cuiabá. Outro caso bárbaro ocorreu em Porto Esperidião, a 358 km da capital. As irmãs Rayane Alves Porto, de 25 anos, e Rithiele Alves Porto, de 28 anos, foram mortas após fazerem, supostamente, um gesto associado a uma facção rival durante um festival de pesca.
A situação alarmante de violência em Mato Grosso é confirmada pelos dados do Atlas da Violência 2024 e do Monitor da Violência. No estado, os números de 2023 mostram 919 homicídios dolosos registrados, além de 15 casos de latrocínio e dois de lesão corporal seguida de morte, totalizando 936 crimes violentos. Esses dados, compilados pelo Monitor da Violência, expõem a crescente presença de facções criminosas e a urgência de medidas enérgicas para conter o avanço do crime no estado.
Programa ‘Tolerância Zero ao Crime Organizado’
Lançado pelo Governo de Mato Grosso, em novembro de 2024, o programa ‘Tolerância Zero ao Crime Organizado’ promete uma série de medidas para intensificar o combate às facções criminosas no estado, entre elas estão a criação de quatro delegacias e a convocação de mais de 300 servidores para atuar na Segurança.
Uma das principais iniciativas foi a criação da Sejus-MT, projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) e comandado pelo delegado Vitor Hugo.
Até 2019, Mato Grosso tinha a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh). No entanto, em janeiro daquele ano, o governador Mauro Mendes (União Brasil) sancionou uma reforma administrativa, extinguindo nove secretarias e deixando apenas 16 órgãos de primeiro escalão na administração direta. Desde então, todas as questões relacionadas à segurança ficaram sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT).
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