Ambulatório no interior de SP é alvo de nova denúncia após idosa perder visão em cirurgia de catarata


Moradora de 74 anos de Fernando Prestes (SP) se submeteu a procedimento em novembro do ano passado, quase um mês após mutirão que deixou 12 pessoas cegas. Polícia Civil vai pedir laudos do grupo responsável pela unidade. Idosa de Fernando Prestes diz que ficou cega de um olho no AME de Taquaritinga
Uma moradora de 74 anos de Fernando Prestes (SP) registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil depois de perder a visão do olho direito em uma cirurgia de catarata no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Taquaritinga (SP), quase um mês depois do mutirão que deixou 12 pessoas cegas no mesmo local.
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Submetida a uma cirurgia em 11 de novembro do ano passado, Liberata Fidelis Manjerão conta que soube, do próprio médico, durante o procedimento que havia perdido a visão. “Ele falou pra mim: ‘eu parei a cirurgia na metade, dei um ponto no olho da senhora e a senhora ficou cega'”, relata.
Desde então, ela tem tentado obter auxílio para recuperar a visão, inclusive com viagens insatisfatórias a outras unidades de saúde em Araraquara (SP) e Campinas (SP) e falta de informações por parte de profissionais.
“A gente está correndo desde o dia 11 de novembro pra reverter essa situação, pra ver se a gente consegue fazer com que ela enxergue pelo menos um pouco, que volte essa visão. Mas quem vai dar essa certeza? Quem vai nos dar essa resposta? Porque no dia 11 de novembro até agora ela está sem enxergar do olho direito e o tempo vai passando”, reclama a filha da paciente, a professora Tânia Terezinha Manjerão.
À EPTV, afiliada da TV Globo, o delegado Claudemir Pereira da Silva, da Polícia Civil, informou que pretende cobrar laudos e relatórios do grupo Santa Casa de Franca (SP), responsável pelo AME de Taquaritinga, e que vai incluir o caso nas investigações do mutirão.
A reportagem entrou em contato com o Grupo Santa Casa e com a Secretaria de Estado da Saúde, mas não obteve um posicionamento na quinta-feira (20).
Liberata Fidelis Manjerão, de 74 anos, perdeu visão no olho direito após cirurgia de catarata no AME de Taquaritinga, SP
Reprodução/EPTV
Cega após cirurgia
Desde que Liberata passou pela cirurgia no AME de Taquaritinga, a família tem corrido contra o tempo para tentar reverter a perda da visão no olho direito e tem guardado todos os documentos. Um deles, emitido pelo próprio AME, atesta que houve uma ruptura em uma parte do olho na hora da cirurgia.
Segundo Tânia, quatro dias depois do procedimento, a mãe foi encaminhada para uma nova cirurgia de urgência, em outra unidade de saúde, mas que não foi suficiente para resolver o problema.
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Documento apresentado por família de paciente perdeu visão no olho direito no AME de Taquaritinga, SP
Reprodução/EPTV
A pensionista recebeu alta, com a orientação de usar colírio e de voltar ao AME de Taquaritinga para dar sequência ao tratamento, mas a professora conta que não conseguiu respostas e que a mãe foi encaminhada para o AME de Campinas (SP), também administrado pelo Grupo Santa Casa de Franca.
Lá, no entanto, a equipe informou que a cirurgia não poderia ser realizada por conta dos riscos e da falta de exames enviados por Taquaritinga.
“Chegou lá. Ela foi dispensada pela anestesista. Simplesmente foi dito que lá não era um local para fazer esse procedimento nela, porque ela corria risco de vida, que precisaria ser feito em um hospital e nem todos os exames que haviam pedido o AME de Taquaritinga havia enviado pra lá. (…) De sexta-feira pra cá a gente não sabe mais a quem recorrer, e ela [a paciente] já não quer mais fazer nada, então a gente está em uma situação bem delicada.”
Sem enxergar com o olho direito, Liberata lamenta ter perdido a capacidade de fazer tarefas do dia a dia. “É difícil pra mim. Se eu por leite no copo eu tenho que por a caixinha em cima do copo senão eu despejo por cima da pia, porque atrapalhou tudo, se eu vou tirar uma comida eu tenho que tirar bem pertinho, senão eu derrubo”, reclama.
AME de Taquaritinga, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
Mutirão de catarata em Taquaritinga
Liberata foi operada quase um mês depois de 12 pacientes, que foram prejudicados ao serem submetidos a cirurgias de catarata em um mutirão realizado em 21 de outubro do ano passado no AME de Taquaritinga.
Eles relataram perda parcial ou total da visão no olho operado, dor intensa, vermelhidão e, em alguns casos, infecções graves, com risco de perda do globo ocular.
Por solicitação do governo do estado, depois que o problema veio a público, um comitê foi montado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) para reavaliação das vítimas, mas, em um parecer preliminar, os responsáveis apontaram danos graves na superfície ocular, na córnea e na câmara anterior do olho, o que pode comprometer o retorno da visão.
O Grupo Santa Casa, por sua vez, admitiu que houve um erro no protocolo de atendimento e que a equipe trocou um soro de hidratação intraocular por um antisséptico durante a cirurgia. Segundo profissionais de saúde consultados pela reportagem, a substância em questão, a clorexidina, é tóxica quando em contato com o interior dos olhos. A organização também informou que afastou os profissionais envolvidos.
A Polícia Civil e o Ministério Público também investigam o caso. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo anunciou que busca uma nova empresa para gerenciar o AME de Taquaritinga, que vai investigar todos os contratos do Grupo Santa Casa e prometeu o pagamento de indenizações administrativas aos pacientes.
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