Idoso constrói casa com formato de barco em homenagem à resiliência de ribeirinhos no interior do AC: ‘é o mesmo que viajar no rio’


Moradia foi feita em uma área no centro de Mâncio Lima, no Vale do Juruá, e conta até com um lago ao redor. Casal que vive na residência se orgulha da construção, que passou a atrair curiosos. No Acre, homem constrói casa em formato de barco e vive em ilha no meio de lago
Aos 84 anos, o aposentado Valdemar Negreiros realizou um sonho. Agora, ele e a esposa, a também aposentada Lucimar Reis, moram em uma casa exatamente como imaginaram: em formato de barco.
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Valdemar Negreiros, de 84 anos, realizou o sonho de morar em uma casa com formato de barco
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
O casal, que vive em Mâncio Lima, o município mais ocidental do Brasil, no interior do Acre, distante mais de 600 quilômetros da capital Rio Branco, ergueu a obra em uma área no centro da cidade. A ideia é preservar e relembrar as raízes, já que ambos foram ribeirinhos, e homenagear a resiliência destas famílias que se sustentam navegando as águas.
“Eu tive essa ideia porque eu gostava muito de viajar no rio [Juruá] para ver a floresta, vender mercadoria para o pessoal, para trazer sustento para casa”, comentou.
A casa-barco foi construída em uma pequena ilha, em um lugar chamado pelo dono de lagoa verde devido à tonalidade da água. Mas o local não é simplesmente o lar de um casal de idosos, mas também o símbolo da luta pela sobrevivência de milhares de famílias que desbravaram os rios da Amazônia para garantir o sustento de suas famílias.
Casa em formato de barco abriga família no centro de cidade do Acre
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
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“Para poder manter a família, a gente tinha um barco para viajar no rio e a gente subia para vender mercadoria, para arrumar recurso para botar os filhos na aula em Cruzeiro do Sul. E, aliás, na época até a mulher também estudava, e eu subia o Rio Juruá para fazer esse trabalho de regatão para arrumar dinheiro para manter a casa e os filhos na escola e a mulher”, relembra.
💡 Regatão é como costuma ser chamada a prática do transporte de mercadorias através dos rios na Amazônia.
A lembrança também é compartilhada pela esposa que, por também ter vivenciado essa realidade, não teve dúvidas em apoiar o projeto do marido. O casal teve 11 filhos e se orgulha de ter construído a família com os frutos da vida ribeirinha.
“Não estranhei, eu sempre apoiei a ideia dele”, destacou.
Casal que vem de famílias ribeirinhas se orgulha de homenagear as raízes
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
“É o mesmo que viajar no rio”
Casa-barco tem 25 metros de comprimento por cinco de largura, com dois quartos, sala e cozinha
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
A casa tem 25 metros de comprimento e cinco de largura, dividida em dois quartos, sala e cozinha. O espaço livre na proa serve como uma varanda e na popa da embarcação há uma área de serviço.
Quem chega ao local tem a impressão de realmente estar em um rio preparado para navegar. A casa conta até com um leme, que faz o morador lembrar dos trajetos na região do Vale do Juruá.
“É mesmo que eu estar viajando lá no rio, então fica matando a saudade daquele trabalho que a gente fazia”, disse.
Orgulho que atrai visitantes 👥
O comerciário Euclides Nascimento, vizinho do casal, conta que a casa atrai visitantes devido ao seu formato original
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
E toda essa paixão da família tem contagiado a região. A casa em formato de barco chama a atenção de quem visita o município.
Os vizinhos contam que diariamente muitos curiosos param para admirar a residência que preserva a história da família.
“Ele sempre teve um sonho de construir uma casa barco. E agora, nesses quatro anos atrás, ele realizou o sonho dele de construir e todo mundo que passa aqui fica admirado, vendo essa casa diferente das outras”, comentou Euclides Nascimento, vizinho.
Navegar é preciso 🚣‍♀️
Valdemar ainda possui um barco, de verdade, que utiliza para lazer
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
Após quatro anos do início dessa construção, Valdemar disse que o projeto ainda não acabou, e há mais detalhes a serem acrescentados, como móveis também em alusão às embarcações.
Porém, a saudade dos tempos de regatão não é amenizada apenas pelo cenário. Valdemar e a família ainda têm um barco, de verdade, que utilizam para navegar, agora por lazer.
“Quando a gente parou com essa viagem no rio por causa já da idade avançada e os filhos não queriam mais deixar que a gente fosse, então a gente resolveu conseguir esse barco de alumínio, que tem três cadeiras que comportam seis pessoas e um fogãozinho lá atrás para a gente viajar no rio Môa para ir à serra, passear, visitar as comunidades, pegar peixe”, contou.
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