Seguro rural, armazenagem, irrigação: quais os principais desafios do agro na visão de representantes do setor


Demandas foram elencadas durante a abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto. ‘É urgente a necessidade de melhorarmos a infraestrutura de quem produz’, diz presidente da Abimaq. Silo de armazenamento de grãos no campo
Divulgação
Seguro rural com baixa cobertura territorial, déficit de armazenagem de grãos e problemas de irrigação estão entre os principais desafios listados por representantes do agronegócio durante a Agrishow 2025, maior feira de tecnologia agrícola do país em Ribeirão Preto (SP).
As pautas foram levantadas por autoridades federais e estaduais, além de representantes setoriais da iniciativa privada, na cerimônia de abertura do evento, que chega à sua 30ª edição e deve atrair cerca de 200 mil pessoas este ano, além de movimentar R$ 15 bilhões em intenções de negócios.
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“Quem produz alimento também produz conhecimento. Para isso, é urgente a necessidade de melhorarmos a infraestrutura de quem produz, expandindo a capacidade de armazenamento de grãos, aumentando as áreas irrigadas, o acesso à conectividade do campo e a melhoria das estradas e ferrovias que escoam a produção. A cada ano que passa, os desafios tornam-se maiores e mais necessários”, afirmou Gino Paulucci Júnior, presidente do Conselho de administração da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
A seguir, entenda as principais demandas.
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Armazenagem e irrigação
Entre os pontos levantados pelos representantes estão uma baixa área irrigada do país, bem como deficit de armazenagem, o que diz respeito diretamente a investimentos em infraestrutura. Por um lado, de acordo com dados do governo federal, o Brasil irriga aproximadamente 8,5 milhões de hectares, muito aquém do potencial dos 55 milhões de hectares.
No que diz respeito à armazenagem, o Brasil deve enfrentar dificuldades para estocar a safra recorde prevista para este ano. Para este ano, a projeção da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG/Abimaq), é de que essa diferença, para menos, seja de 120 milhões de toneladas. Isso porque, segundo a entidade, a previsão é de que a produção de grãos chegue a 330 milhões de toneladas, diante de uma capacidade estática de armazenamento de apenas 210 milhões.
“Tem coisas da década de 1970 não adequadas para uma armazenagem segura, tanto do ponto de vista de segurança do trabalho, porque não seguem ainda as normas de segurança como também da segurança da qualidade do produto armazenado, por não ter uma aeração adequada, não tem uma termometria”, afirma Paulo Bertolini, presidente da câmara setorial.
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Segundo ele, a armazenagem tem crescido nos últimos anos, com apoio do Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), mas não no mesmo ritmo que a safra brasileira.
“Primeiro por falta de dinheiro na linha, segundo pela burocracia na obtenção desses créditos, a morosidade nesse processo, muitas vezes o licenciamento ambiental também bastante rigoroso e que impedia ou dificultava a falta de energia elétrica, por exemplo, trifásica nas propriedades rurais. (…) Ao ponto que nossa estrutura toda de armazenagem existente, que são em torno de 210 milhões de toneladas, 85% dela está dentro das áreas industriais, urbanas e nos portos. Só 15% da nossa capacidade estática existente está dentro das fazendas.”
Investimentos e planejamento
Outro ponto abordado pelos representantes do setor diz respeito às fontes de recursos financeiros para renovação de maquinário agrícola e para investimentos em inovação.
Nesse aspecto, autoridades como o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai, falou sobre a importância de o novo Plano Safra fazer jus à produção brasileira. No ciclo 2024/2025, o valor de crédito concedido à agricultura empresarial foi acima dos R$ 400 bilhões.
“Nós podemos ir muito mais longe e o único potencial do Brasil é fazer uma revolução agroindustrial e transformar esse país. Eu peço muito para que o nosso Plano Safra venha do tamanho que esse país merece”, disse, na mesma cerimônia em que também estava Geraldo Alckmin, presidente em exercício que garantiu um esforço do governo em atender à demanda.
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Pedro Lupion não só destacou a necessidade de um Plano Safra contundente com equalização de juros e crédito mais barato para pequenos produtores, como também uma mudança de paradigma na forma como é planejado o orçamento.
Para isso, ele cita como exemplo a “Farm Bill”, lei norte-americana que estabelece planeja para os cinco anos seguintes as políticas para a agricultura do país.
“A gente precisa repensar todo esse sistema, seja puxando o planejamento do Plano Safra lá no manual de crédito, para o começo do ano, para a gente planejar o orçamento juntos.”
Ele também sugeriu a importância de se investir em fontes alternativas de obtenção de recursos, como o lançamento de Fundos de investimento em cadeias agroindústriais (Fiagros) por parte dos estados.
“Que a gente tenha um Fiagro que mantenha a competitividade e que os fundos imobiliários e o fundo de investimento do agronegócio não sejam taxados nem cobrados além do que merecem para que a gente mantenha a competitividade.”
Seguro rural
As críticas também dizem respeito ao atual sistema que garante o seguro rural brasileiro. “Temos muito para evoluir. Nós temos 90 milhões de hectares de pastos degradados. Nosso seguro rural é um dos mais atrasados do mundo”, disse Piai.
Segundo Lupion, da FPA, a área segurada no país caiu de 14 milhões de hectares para 7 milhões de hectares entre 2021 e 2024. “Caiu metade, porque é um sistema que não funciona.”
Ele criticou cortes no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que garante o pagamento de financiamentos rurais de custeio agrícola quando o produtor perde receita por conta de eventos climáticos, pragas e doenças no campo.
“Esses beneficiários todos tiveram que buscar no plano de seguro rural, que nesse Plano Safra efetivou R$ 824 milhões. O pedido mínimo que nós tínhamos era que fosse pelo menos R$ 3 bilhões de seguro.”
Segundo ele, isso afetou produtores de estados como o Rio Grande do Sul, vítima das enchentes do ano passado, como também do Mato Grosso do Sul e Paraná, com quebra de safra.
“Não é só na crítica, é também na iniciativa, na alternativa, na busca de soluções. Entender qual é o sistema de seguro que funciona bem para nossa safra. (…) Um sistema de seguro agrícola que efetivamente atenda as necessidades de uma safra como essa.”
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