Conflito entre facções por rota de tráfico no AC resulta no aumento da violência; 74 pessoas morreram em 4 meses no estado


Número de mortes violentas este ano representa um aumento de 19,35% se comparado ao mesmo período de 2022. Maioria das mortes foram praticadas durante a madrugada no estado
Aline Nascimento/g1
Dados levantados pelo Núcleo de Apoio Técnico (NAT), do Ministério Público do Acre (MP-AC), com base em informações oficiais de órgãos públicos, mostram que 74 pessoas foram mortas de forma violenta no estado entre janeiro e abril deste ano.
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Em janeiro, o estado registrou 18 mortes violentas, em fevereiro foram 16, em março outras 21 e no mês de abril o Acre teve 19 vítimas desses crimes, que incluem os homicídios dolosos consumados, feminicídios, latrocínios, mortes decorrentes de intervenção policial em serviço e fora de serviço e lesão corporal com resultado morte.
O número de mortes violentas este ano representa um aumento de 19,35% se comparado ao mesmo período de 2022. Segundo o Monitor da Violência, projeto do g1 com base em dados repassados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp), no ano passado, entre janeiro a abril foram registradas 62 casos.
No ano passado, em janeiro foram registradas nove mortes violentas, em fevereiro 12, em março 22 e abril 19.
O estudo traz as cidade onde os crimes foram cometidos, além do dia da semana e período em que mais são frequentes as mortes violentas. Ainda segundo o estudo, 31,08% desses crimes foram praticados no período da noite. O segundo período em que mais pessoas foram mortas foi de madrugada, com 32,43%. Já 20,27% dos crimes foram praticados à tarde e apenas 16,22% durante a manhã.
Com relação aos dias da semana, domingo, quarta-feira e sábado aparecem com maior frequência de ocorrências desse tipo de crime, com 18, 12 e 10 casos registrados, respectivamente.
A maioria das mortes violentas registradas este ano ocorreu no interior do estado (54,05%) e na área urbana, com 67,57%.
A capital Rio Branco soma o maior número de mortes violentas em 2023, com um total de 34. Cruzeiro do Sul e Senador Guiomar, no interior, contabilizam, cada uma, seis vítimas.
Mais de 94% dessas vítimas eram homens, segundo o estudo, e os criminosos utilizaram uma arma de fogo no crime. A porcentagem de crimes em que houve o uso de arma branca é de 18,92%.
O estudo também mostra a idade das pessoas mortas violentamente no estado este ano. De 30 a 34 anos é a faixa etária com mais casos, um total de 19. De 20 a 24 é a segunda faixa etária em que mais morreram pessoas, 11. Já de 25 a 29 era a idade que 10 pessoas mortas violentamente no estado tinham na época do crime.
Confrontos entre facções criminosas
O coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-AC, promotor Bernardo Albano, explicou que nos últimos anos houve um aumento expressivo na produção de folha de coca na fronteira com o Brasil, e isso acaba influenciando diretamente nos confrontos entre grupos criminosos por rota de tráfico e, consequentemente, em mortes violentas.
“A gente não tem como descontextualizar de uma certa geopolítica criminal. Nós tivemos nos últimos anos um aumento explosivo de plantação de folha de coca para produção no Peru. Isso, por óbvio, traz uma pressão para o escoamento dessa produção e tem gerado essa pressão de escoamento, de domínio de corredor logístico de entorpecente, portanto, vamos ter sim uma maior disputa entre essas organizações criminosas por essas rotas. Isso tem implicado, realmente, em uma quantidade maior de crimes relacionados a disputa por território de facções”, disse o promotor.
Ações da Segurança Pública
A Secretaria Estadual de Segurança Pública do Acre (Sejus) informou que está intensificando as ações, com maior integração entre os órgão e instituições do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp). Segundo o secretário, coronel José Américo De Souza Gaia, dessa forma, é possível que as forças atuem na prevenção objetivando diminuir os índices.
“Estamos ampliando os serviços de vídeo monitoramento, estendendo o cerco eletrônico, também para os municípios, aumentando a nossa capacidade de cobertura em todo estado. Com o recebimento do novo efetivo (PM/PC) é possível atender as regionais com atuações de prevenção e repressão dos delitos, como também, que já vem num crescente, aumento nas investigações e elucidações dos crimes. O policiamento está sendo direcionado para atender as demandas conforme os estudos resultantes da estatística e analise criminal, em relatório produzidos pela Sejusp, resultado do compartilhamento de dados fornecidos pelas agências que compõem o sistema”, afirmou o secretário.
O gestor também falou sobre o conjunto habitacional, Cidade do Povo, onde são registrados vários dos casos de mortes violentas na capital acreana. “Estamos recuperando um espaço para receber uma unidade da PM, de forma provisória, aguardando a construção do Batalhão Comunitário, previsto para início das obras no segundo semestre, lembrando que o recurso já está disponível.”
Clima tenso na fronteira
Há um ano, a região do Alto Acre na fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia vive um clima de tensão, com enfrentamentos entre grupos criminosos. Segundo a Segurança Pública do Estado, o motivo foi a morte de um traficante, chefe de uma facção na Bolívia, em abril do ano passado.
A ordem para o assassinato, segundo o secretário de Segurança do Acre na época, coronel Paulo Cézar, partiu de dentro do presídio da cidade boliviana de Riberalta e, após o crime, vários ataques foram registrados tanto no país vizinho quanto nas cidades acreanas que estão na fronteira.
Conforme os dados do relatório do NAT, somente na região do Alto Acre foram registradas este ano 10 mortes violentas.
Visita do Ministro da Segurança
Durante agenda na cidade de Brasileia, no interior do Acre, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou o repasse de R$ 91 milhões para ações de segurança pública no estado, sobretudo, na região de fronteira. O recurso é do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Brasileia está a 232 quilômetros da capital acreana, Rio Branco, e faz fronteira com a Bolívia e Peru.
A visita do ministro ocorreu durante o “Seminário Segurança nas Fronteiras Brasileiras”, onde as polícias apresentaram levantamentos sobre ações no estado e também as necessidades para reforçar as ações.
Além do anúncio de repasse financeiro, Dino fez a entrega de 20 viaturas para as delegacias da mulher do estado do Acre e reforçou que os veículos devem ser usados para as patrulhas Maria da Penha, destinadas ao combate da violência contra a mulher e contra o feminicídio. Também foram entregues equipamentos e armamentos.
Outra questão levantada durante a coletiva foi a questão do tráfico de drogas também pelos rios do estado. Muitos grupos criminosos fazem esse transporte por meio de barcos e ficam conhecidos, como por exemplo, “piratas do Juruá”. O ministro disse que está ciente dessa problemática e que tem conversando com autoridades para definir ações mais efetivas de combate. Além disso, a segurança na fronteira vai contar com tecnologia. Dino também anunciou a entrega de drones para as ações das polícias.
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