Bolo envenenado: suspeita cometeu homicídios em série por muito tempo, diz delegado

Bolo que teria causado envenenamento ou intoxicaçãoreprodução/Polícia Civil

As equipes policiais que investigam o caso do bolo envenenado com arsênio em Torres (SC) acreditam que a principal suspeita, Deise Moura dos Anjos, de 39 anos, tenha cometido assassinatos em série “durante muito tempo”.

Três familiares de Deise morreram após comer a sobremesa envenenada. A questão é que o sogro dela, que morreu em setembro do ano passado, também tinha vestígios da substância tóxica no corpo.

Segundo os investigadores, Deise quis cremar o corpo do sogro justamente para esconder os vestígios do envenenamento. A informação foi confirmada em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (10).

“Ela (Deise) pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar pessoas”, disse a delegada Sabrina Deffente. “A gente não tem dúvida de que se trata homicídios e tentativas de homicídios em série e que, durante muito tempo, realizava”.

O delegado responsável pelo caso, Marcos Vinicius Veloso, disse que Deise tem “uma postura fria, com uma reposta sempre na ponta da língua, tranquila”.

A delegada Sabrina Deffente contou que Deise fez várias pesquisas sobre venenos até se deparar com a existência da água-tofana, muito usada por mulheres para matar os maridos no século XVII. Entre os componentes deste veneno está o arsênio, substância usada nos crimes pelos quais é investigada.

O delegado Marcos Vinicius Veloso revelou que, a partir da análise de dados celulares apreendidos com a suspeita, a polícia encontrou várias pesquisas sobre métodos de envenenamento. Veloso afirma que as provas encontradas contra Deise seriam “robustas”.

Deise foi presa preventivamente no último domingo e deve ficar detida pelos próximos 30 dias no Presídio Estadual Feminino de Torres. A partir das novas informações sobre a morte do sogro, ela poderá ser acusada por quatro homicídios dolosos qualificados, além de outras três tentativas de homicídio.

Relembre o caso

Em 23 de dezembro de 2024, seis pessoas da mesma família foram hospitalizadas após comerem um bolo durante um café da tarde no município de Torres, na região litorânea Rio Grande do Sul.

A Polícia Civil descobriu que o alimento foi preparado em Arroio do Sal, cidade vizinha, por uma mulher identificada como Zeli dos Anjos, de 60 anos.

Três pessoas morreram. As vítimas foram identificadas como: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59 anos, irmãs de Zeli, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.

O marido de Maida e uma criança de 10 anos também comeram o bolo, foram hospitalizados, mas já tiveram alta. Já Zeli, responsável pela preparação da sobremesa, segue internada.

A perícia identificou “concentrações altíssimas” de arsênio no bolo, que ultrapassavam 350 vezes ao mínimo para o envenenamento. Também foi constada a presença da substância tóxica em quantidades equivalentes a 2.700 vezes o total contabilizado na sobremesa.

Suposto envenenamento do sogro

O sogro de Deise, chamado Paulo, morreu em setembro do ano passado e, na época, o óbito foi justificado por intoxicação alimentar. Entretanto, com o caso recente do bolo envenenado por arsênio na mesma família, a polícia passou a suspeitar de que ele também teria sido morto por envenenamento, o que foi confirmado pela perícia.

Deise tentou ocultar as provas após a morte do sogro, que também ingeriu arsênio antes de morrer. A partir dos dados celulares, a Polícia Civil descobriu que ela tentou cremar o corpo do sogro. Além disso, ela tentaria criar a narrativa de que ele morreu após comer bananas contaminadas por uma enchente no município de Canoas, onde a família tinha uma casa.

Segundo a delegada regional Sabrina Deffente, ao ter a tentativa de cremação frustrada, Deise chegou a comentar com a sogra que o marido estaria “muito deprimido” com a morte do pai e que estaria se culpando por, supostamente, ter levado as bananas. A partir daí, ela pediu para que não fossem realizados novos exames laboratoriais no corpo de Paulo para a descoberta da causa da morte.

“Acho que precisamos rezar mais, aceitar mais, e não procurar culpados onde não tem, não nos momentos em que Deus nos reserva, e isso, sim, não tem volta, nem polícia, nem perícia que possa nos ajudar a desvendar”, disse Deise em mensagem para a sogra.

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